quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Belissima reflexão do saudoso Frei Prudente Nery OFM CAP

A rica experiência do deserto

Grande parte da história do povo de Deus acontece no deserto. Na bíblia, o deserto significa lugar do encontro com Deus e da gestação do novo. Foi aí que o povo conseguiu fazer a travessia da escravidão para a liberdade; a passagem entre o Faraó que oprimia e o Deus Javé que liberta; a ponte entre o contentar-se com o pão e a busca da dignidade.
Foi também no deserto que o próprio Jesus se preparou para a missão, desarmando o diabo e superando as tentações. Antes dele, João Batista já abandonara o mundo e se refugiara no deserto. Lá recebeu a palavra de Deus, tornou-se “voz que clama no deserto”, convidando o povo a se preparar para receber o Messias.
Mas, por que será que a bíblia insiste tanto em colocar os grandes momentos do povo de Deus e as grandes decisões justamente no deserto? O que ele esconde e revela de tão importante? Que ligação existe entre o deserto, a quaresma, a Páscoa?
Ao ler a bíblia, percebemos que é no deserto que Deus fala ao coração do seu povo: “Eis que vou, eu mesmo, seduzi-la, conduzi-la ao deserto, e falar-lhe ao coração” (Os 2,16). Comparando seu povo à esposa, Deus diz que no deserto lhe falará ao coração e o seduzirá. Ali irá guiá-lo por uma coluna de nuvem; iluminar a sua noite com uma coluna de fogo (Ex 13,21); saciar a sua sede com a água do rochedo (Ex 17,6); oferecer como alimento o maná de cada dia (Ex 16,13ss); revelar as suas Leis e fazer com ele uma Aliança de amor.
O Frei Prudente Nery faz uma bela reflexão onde lembra que, no deserto, Deus permitiu que seu povo experimentasse a sede, para que pudesse perceber a preciosidade da água; que sentisse fome, para aprender o valor do pão e da partilha; que sofresse a solidão, para que compreendesse a importância e o valor dos irmãos. No deserto se viram perdidos, para reconhecer que precisavam de Deus; sentiram saudade do passado, para que aprendessem a valorizar a esperança; foram feridos pelo pecado, para que descobrissem a beleza do perdão.
O deserto nos ensina tudo isso. Só aprendemos a dar valor, quando perdemos algo ou não podemos ter. Somente passando necessidade, valorizamos a alegria de possuir. É na aridez do deserto que se descobre a necessidade de cavar fundo para buscar a água que dá vida. É na sua escuridão que se aprende a valorizar o brilho das estrelas. É na sua solidão e silêncio que se descobre a necessidade de prosseguir, sem se deixar dominar pelo desânimo e pelo cansaço: “Levanta-te e come, porque tens um longo caminho a percorrer” (1Rs 19,4-8).
 Cada ano, durante a quaresma, a Igreja nos convida a fazer a experiência do deserto. Na liturgia do primeiro domingo, já vemos Jesus no deserto, sendo tentado, superando as tentações e se preparando para o ministério. Neste tempo, somos convidados a viver mais intensamente a oração, o jejum, a meditação da Palavra na busca da conversão. Desafiados a nos privarmos de algum alimento ou de algo que nos agrada, como forma de solidariedade, proporcionando o mínimo necessário aos que nada têm. Somos convidados a fazer a experiência da sede, para sentirmos o valor da água e ajudarmos a quem não a possui. Olhando para as pedras do deserto, somos desafiados a superar a dureza de nosso coração. “Tirarei do vosso peito o coração de pedra e vos darei um novo coração de carne” (Ez 36,26).
 A experiência do deserto nos mostra que, enquanto há alguns que esbanjam e vivem na fartura, há outros que vivem do lixo ou sobrevivem das migalhas da nossa falsa “caridade”. Enquanto desperdiçamos ou nos entregamos à tentação do consumo exagerado, há milhões que não têm o mínimo para sobreviver. O maná do deserto, que não podia ser guardado, pois estragava de um dia para outro, nos ensina a buscar o “pão de cada dia”, pois se alguém acumula o pão para anos e anos, faltará certamente o pão de hoje e até o de ontem para milhões de irmãos. E isso dói no coração do Pai.
Deus nos convida ao deserto e quer falar ao nosso coração. É esse o lugar privilegiado do encontro com o Senhor da vida e com a vida dos irmãos. Tempo da gestação do novo. Caminho e garantia da Páscoa da libertação.
19 fevereiro, 2010

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

A vida de São Francisco de Assis - Fogo Abrasador

Evangelização pelas estradas do mundo

Quando o coração dá muitas voltas

Que pretendemos fazer de  nossas vidas?  Para onde caminhar?  Que fazer desse espaço que se chama  minha vida, nossa vida?  Na sua juventude, o coração  de Francisco,  esse de Assis, deu muitas voltas em seu peito. Continuamos a série de reflexões sobre  um certo  Francisco de Assis.  Esta é uma pagina para grupos vocacionais e para  pessoas que não querem viver mediocremente.
1. Francisco vai vivendo sua vida na Assis dourada e cheia de promessas.  Novos tempos para a cidade.  A nobreza deixa de imperar.  Surgem novas classes. O pai de Francisco é um comerciante que anda tendo muito sucesso. O dinheiro impera. Os nobres se refugiam em seus castelos. Há classes emergentes. Novos ricos. As revoluções populares derrubam a fortaleza de Assis. No meio de  tudo isso há um jovem chamado Francesco.  Jovem,  podendo tornar-se rico, mas que não se sente bem em lugar nenhum.  Seu desejo de glória parece não realizar-se. O que fazer da vida?  Para onde ir?  Ficar a vida toda vendendo tecidos na loja do pai? Ganhar dinheiro? Casar-se?  Ter uma porção de filhos? Simplesmente envelhecer e morrer? Que fazer da vida?  Esta é  uma pergunta que sempre nos trabalha por dentro.  Sim, o que estamos fazendo, ou o que faremos de nosso existir? Parece que,  no começo de seu processo vocacional, Francisco  começou a frequentar mais seu interior.  Foi quando seu coração começou  a dar  muitas voltas. Francisco começou  a se encontrar consigo mesmo.
2. Francesco está em torno dos vinte anos de existência.  O mundo está  aos seus pés. O que é certo:  ele não deseja viver mediocremente. Quer agarrar tudo. Começa a buscar, de maneira bem prática,  seu caminho.  Inicia um verdadeiro processo de discernimento vocacional. Engaja-se nas batalhas e lutas de sua Assis contra a cidade de Perúgia. Ali, no campo de batalha, vestido com roupas de guerreiro, pensa poder encontrar a glória… Depois… depois poderia voltar  vitorioso e as meninas não o largariam mais.  Seria coroado de troféus. Mas não são assim que as coisas acontecem. O jovem Francesco é feito prisioneiro. A  Legenda dos Três Companheiros diz  que  seus companheiros de cárcere estavam  muito tristes. Francisco,  sempre  jovial e alegre,  não  se mostrou  triste. Disse aos circunstantes: “O que vocês pensam de mim?  Haverei ainda de ser honrado no mundo inteiro!” (3 Companheiros  4).   Tem-se a nítida impressão que Francisco começa a se preocupar com seu  futuro. Não deveremos pensar em primeiro lugar que sonhe com grandezas  quaisquer.  Pensava em ideais nobres como o da cavalaria.  Esse tempo da prisão deve ter purificado o interior do jovem.
3. As coisas iam sendo trabalhadas em  seu coração. Naquele cárcere, privado de liberdade,  em contacto com bandidos e criminosos  Francisco tem ocasião de refletir sobre  sua vida. Esta situação de reflexão vai continuar  durante o tempo de doença que viveu de volta à casa.  A mãe cuidava dele. Dedicava-se às atividades comerciais e assim enchia o tempo.  São Boaventura afirma que nesse tempo  ignorava  ele os planos de Deus a seu respeito.  Não estava acostumado a pensar nas  coisas divinas.  Mas acrescenta que o sofrimento pode dar compreensão  às coisas da alma.  Francisco vai sendo trabalhado  pelo  Alto.  Sempre a pergunta:  “O que fazer da vida?”
4. Outro episódio importante  foi o do sonho do palácio cheio de armas.  Sonha em ser cavaleiro, bonito, elegante, galante, tendo as moças  a seus pés… coberto de honras.  Francisco interpretou este sonho como se ele estivesse fadado a ser um grande príncipe.  Há nele um desejo de buscas. “Despertando, levantou-se de manhã animado e alegre, pensando de maneira mundana, como quem ainda não saboreia  plenamente o espírito de Deus, que devia ser um príncipe magnífico e, julgando e visão um presságio de grande prosperidade, deliberou empreender uma viagem à  Apúlia  a fim de ser constituído cavaleiro….”  (3Companheiros  5).
5. E continua  a busca de seu caminho.  Os biógrafos falam da visão de Espoleto.  Estava no empenho de tornar-se cavaleiro, de pegar em armas,  na busca das glórias terrenas.  Ouviu meio dormindo  alguém que lhe dizia:  “Quem te pode fazer  melhor ou maior:  o servo ou o senhor? Francisco diz que  é melhor servir ao senhor.  A voz lhe diz:  Por que andas servindo o empregado e não o patrão?  Francisco não entendia as coisas. Era o Mistério de Deus que começava  atraí-lo. Elaborava-se a sua vocação.  Precisava servir a um patrão.  Mas quem era esse patrão, esse senhor?
6. Depois desta visão de Espoleto, os biógrafos falam de uma mudança  de comportamento por parte de Francisco. O alegre  Francisco se torna pensativo.  Numa determinada ocasião após o jantar  seus companheiros de festas iam  à frente, cantando.  Francisco permanecia mais atrás, pensativo. Parece que Deus começa a empurrar a porta de seu coração.  Era uma visita de Deus. Dizem os biógrafos que  Francisco experimentou uma grande doçura no fundo do coração. Os companheiros pensavam que estava amando, que tinha arranjado uma namorada.  Sua cabeça dava muitas voltas.  Ele estava diferente. Características desse  momento da vida de Francisco:  atitude de reflexão, recolhimento interior,  disponibilidade, exame da possibilidade de arriscar a vida.
7. A pergunta fundamental  é esta:  O que queres de mim? Os biógrafos de Francisco dizem que ele começa a não levar tanto em conta as coisas superficiais e dedica-se  mais à oração.  O que antes amava aos poucos vai perdendo o gosto e  o filho de Pietro di  Bernardone vai se desligando das coisas do mundo. Começava a ser visitado pelo  Espírito. O doce começava a se tornar amargo e o amargo, doce.  Pede à Providência que lhe mostre um caminho. Parecia que sabia da existência de um tesouro, mas ignora onde encontrá-lo.  Tudo indicava que ele  teria que vender todas as coisas,  também sonhos e vaidades.
8. Uma oração aflorava em seus lábios: “Iluminai as trevas de minha alma, dai-me uma fé íntegra,  uma esperança firme,  uma caridade perfeita. Concedei meu Deus que eu vos conheça muito para poder agir segundo a vossa vontade”. O homem de Assis estava vivendo uma santa inquietude.  Muitas etapas haveriam de ser percorridas antes de encontrar o verdadeiro caminho a trilhar. Para ele e para todos nós fica a  questão:  O que queres de mim, Senhor? O coração de Francisco andava dando  muitas voltas…
Frei Almir Ribeiro Guimarães
Fonte - Site Franciscanos da Imaculada Conceição 

Arautos do Evangelho






A paroquia de Santo Antonio e São Sebastião na cidade de Araxá recebeu os missionarios Arauto do evangelho, momento de muita oração e benção.

Santa Isabel da Hungria