"A Ordem Franciscana Secular pertencente à Família Franciscana é formada pela união orgânica de todas as fraternidades católicas, cujos membros, impelidos pelo Espírito Santo, se comprometem, pela Profissão, a viver o Evangelho à maneira de São Francisco de Assis no próprio estado secular, observando a Regra aprovada pela Igreja." ( Const. 1,3). Contato - ofsaraxa@yahoo.com.br
quarta-feira, 25 de abril de 2012
segunda-feira, 23 de abril de 2012
Quando os anos pesam e a enfermidade nos visita
Refletindo sobre o Serviço dos Enfermos e Idosos (SEI) na Ordem Franciscana Secular

E se algum irmão cair enfermo, os outros irmãos devem servi-lo como gostariam de ser servidos (Regra Bulada de São Francisco VI, 10).
Avançando em idade, aprendam os irmãos a aceitar a doença e as crescentes dificuldades e a dar à vida um sentido mais profundo, no progressivo desprendimento e encaminhamento à Terra Prometida (CCGG art. 27, 1)
• Os doentes e idosos não se acanhem, pois, de exprimirem o que desejam. Porém, prestarão atenção para não serem exigentes e procurarão evitar reclamações e “murmurações”.
• No momento da enfermidade há os que começam a refletir sobre sua vida passada e se enchem de escrúpulos e de arrependimentos por atos poucos nobres cometidos. Os acompanhantes (também o assistente religioso da Fraternidade) haverão de ajudar o irmão nesse transe. Que ele possa ter paz no coração e não fique remoendo o que passou. Pela confissão sacramental e pelo arrependimento do coração saberá o doente que foi perdoado. Ninguém pode ficar se torturando com escrúpulos e arrependimentos doentios.
• Doentes e idosos procurem simplificar as coisas. Na medida do possível esvaziem gavetas, distribuam os bens quando existirem, procurem desligar-se de todas as preocupações desnecessárias. Joguem-se nas mãos do Senhor.
• Se o idoso e enfermo tiver condições de fazer a contribuição financeira prevista pela Ordem Franciscana Secular haverá de realizá-lo com presteza. Esse ponto faz parte da formação inicial e permanente. Há muitos irmãos e irmãs acamados que sempre lembram aos familiares e visitas que providenciem o pagamento de sua contribuição financeira.
• Facilitem a vida dos irmãos da Fraternidade e de sua família determinando a regularidade com que gostariam de receber os sacramentos da eucaristia e da penitência. Conveniente seria que o irmão, se dando conta do agravamento da doença, pedisse a visita do sacerdote para receber a unção dos enfermos.
• À guisa de sugestão diria que o local onde está o enfermo fosse “decorado” com flores e que não se administrasse esse sacramento lugubremente, mas com plena participação do enfermo ou idoso e com tintas de alegria e de esperança no fundo do coração. Diria mesmo que se cantasse algum hino franciscano. Desta forma, isto é, com esperança alegre é que se prepara a chegada da Irmã Morte.
• Os irmãos doentes e idosos, aceitando os incômodos da idade as dores do corpo completam em si o que falta à paixão de Cristo.
4. Vejamos agora alguns cuidados que precisam ter irmãos e irmãs encarregados por esse carinhoso serviço fraterno. Antes de mais nada deve-se dizer que o cuidado e acompanhamento dos idosos é um verdadeiro serviço de amor pastoral. Que belo quando irmãos acompanham os doentes e idosos durante a dor e a solidão do sofrimento e estão presentes, como diletos irmãos e amigos na celebração da passagem. Esses aprenderam a chorar com o que choram e a rir com os que riem.
• A visita deverá se fazer com um certo ritmo. Não se pode exagerar na frequência, nem espacejá-las demais. Tudo deverá ser combinado com a família. O irmão visitador precisa sentir o “tônus” da família. Pode ser que alguns familiares nem sempre queiram visitas para que seus entes queridos não se exponham a situações constrangedoras (pessoas com incontinência etc.). Pode acontecer que a visita precise ser abreviada. Necessário ter sensibilidade para tanto.
• O doente e o idoso querem viver, querem sentir uma proximidade carinhosa com que os visita. Num momento em que as esperanças humanas vão desaparecendo, o enfermo quer uma pessoa realista e que, ao mesmo tempo, lhe traga alegria. Sabemos que cada caso é um caso. Nunca o doente deverá sentir que irmão faz uma visita formal ou simplesmente cumprindo a obrigação de lhe trazer o Sacramento do Corpo do Senhor.
• Na administração da Comunhão eucarística, ministro ou irmão da Fraternidade cuidarão de não se prolongar demais. Bom que o rito fosse desenvolvido com calor na voz e expressão carinhosa nos gestos. Nada de frio formalismo.
• O irmão que visita precisa, de alguma forma compreender aquilo que vive o irmão, em outras palavras, saber colocar-se em seu lugar. E, como já dissemos, cada caso é um caso. Há os doentes mais gravemente enfermos e terminais. Há o sofrimento físico, é claro, por vezes aliviado com analgésicos, há a vergonha de não poder controlar suas necessidades, o mal-estar de perder o fio de um assunto e ficar num estado de perplexidade. Há doentes que passam facilmente de um estado de euforia a outro de depressão e de pranto. Não se deve ficar chocado quando um irmão se revolta contra a doença e a proximidade da morte por meio de palavras e mesmo de vociferações. Deitado em seu leito, o doente pode estar vivendo sentimentos de cólera, de depressão, de revolta com a chegada da morte, de dúvidas a respeito de sua salvação eterna, de remorsos cruéis e mesmo crises de desespero. Por vezes pode mesmo acontecer que os doentes manifestem sua revolta contra Deus. O visitador não fará discursos moralizantes, mas tentará ouvir e mais vale ficar quieto e perto do que fazer discursos para defender o Senhor Deus. Que o irmão doente chore, reclame e encontre em nosso rosto a paz da compreensão.
• O irmão responsável pelo serviço dos idosos e enfermos saberá satisfazer seus desejos e suas necessidades espirituais. O doente precisa sentir que continua dono de sua história. Não é pelo fato de estar numa cama ou impossibilitado de caminhar que pode delegar a outros os fios de sua história. Sobretudo quando a doença é grave o doente sente um peso enorme sobre ele e precisa ser ajudado, discreta, mas realmente ajudado. Há muitas perguntas que ele se faz interiormente sem exprimi-las em palavras. O doente sente que o corpo não responde mais e que a mente se esvai. Há também essa questão de todos, também dos cristãos, também dos franciscanos religiosos e seculares, a respeito depois da morte. Cremos na vida que vem depois da morte, mas… Os que não tem fé esclarecida pesam: “O que me vai acontecer agora? Vou bater com a cabeça num muro de pedra? As CCGG da OFS lembram aos doentes: “Estejam firmemente convencidos de que a comunidade dos crentes em Cristo e dos que se amam nele prosseguirá na vida eterna como comunhão dos santos. Os franciscanos seculares se empenhem em criar em seu ambiente, sobretudo nas Fraternidades, uma clima de fé e de esperança, de modo que a “irmã morte”, seja vista como passagem para o Pai e todos possam preparar-se para ela com serenidade” (art. 27,1-2).
• Muitas Fraternidades costumam organizar encontros festivos e alegres, de modo especial por ocasião das festas do Natal, da Páscoa e nas comemorações franciscanas para os quais são convidados os irmãos que ainda podem se locomover. Essas reuniões feitas num espaço de beleza, de alegria, de fé são de grande proveito para os irmãos. A experiência diz que, mormente para aqueles que nunca podem sair de casa, que a data de seu aniversário seja belamente lembrada e festejada desde a manhã com mensagem, presentes, visita e bolo com velas.
5. Procurem os irmãos que cuidam dos idosos e doentes se fazerem presentes no sepultamento e também junto da família do falecido. Sempre haverão de estar com discrição, mas sempre como irmãos verdadeiros sofrem com a partida do irmão.
…luzes e sombras
Quantas coisas atravessam a cabeça dos idosos e doentes:
Os que são responsáveis pelo Serviço dos Enfermos e Idosos em nossas Fraternidades OFS saberão alegrar os irmãos enfraquecidos. Procurarão satisfazer seus lícitos desejos: procurar-lhes uma fruta que apreciam, dar um “giro” de carro pela cidade, fazer com que eles encontrem seu amigos. Os biógrafos de São Francisco relatam alguns desejos, pelo menos curiosos, expressos pelo santo já bem perto da morte e quando já havia atingido altíssimo grau de santidade. André Menard, frade menor francês, escreve a respeito de três deles: música ao som da cítara, uma porção de aipo, uma torta de amêndoas que Fra Jacoba sabia fazer (Les envies, les humeurs et les variations de François, in Évangile Aujourd’hui, n.147. agosto de 1990, p. 42-46).
Um pequeno grupo de irmãos rodeia Francisco no final de sua vida. Permanecem bem perto do santo pai e demonstram atenção e solicitude. O testemunho deles nos permite chegar até a mais profunda humanidade de Francisco. Deixando de lado o “não fica bem” ou “o que os outros vão pensar”, Francisco dá livre curso à realização de seus justos desejos.
Um pouco de música - Prostrado por muitas enfermidades, Francisco sentiu o desejo de ouvir um pouco de música que viesse a lhe devolver a alegria espiritual (cf. Legenda Maior de São Boaventura 5, 11). Francisco sabia que esse expediente lhe faria bem. “Embora muito enfraquecido pela doença, o santo, para consolo de seu espírito e para não se deixar abater no meio de graves e numerosas enfermidades, mandava cantar repetidas vezes durante o dia os Louvores de Deus que havia composto, tempos atrás, durante um período de doença. Pedia também que os cantassem durante a noite para edificação e para recreio daqueles que por sua causa estavam em vigília no palácio (do bispo em Assis) (Legenda Perusina,64).
Seu desejo encontrava uma certa resistência à sua volta. Um dos frades que havia sido conhecido como o rei dos poetas não aceitava realizar o desejo de Francisco.
“Disse Francisco a um de seus irmãos que no século era tocador de cítara: ‘Irmão… gostaria que fosses em segredo pedir a uma pessoa honesta uma cítara emprestada, na qual me tocasses uma bela música para acompanhar as orações e os Louvores do Senhor…’ O irmão respondeu-lhe: ‘Pai, tenho vergonha de ir à procura deste instrumento. Os habitantes desta cidade sabem que, no mundo, eu fui tocador de cítara; e tenho receio de os escandalizar, fazendo com que pensem que estou voltando ao meu ofício…’” (Legenda Perusina, 24).
Francisco bem podia ter previsto esta dificuldade. Ele mesmo, anteriormente, havia dito que os instrumentos de música que antigamente serviam aos santos para o louvor de Deus, agora serviam à vaidade e ao pecado, contrariamente à vontade de Deus”.
Francisco respeita a delicadeza de consciência do irmão musico: “Está bem, irmão, não se fala mais nisso”. O Senhor, no entanto, haveria de atender de outra maneira, o desejo de seu servo: “Na noite seguinte… Francisco começou a ouvir perto de casa, a mais bela e mais suave melodia, que até então ouvira, nas cordas de uma cítara… e, de manhã, disse ao companheiro: ‘Irmão, pedi-te e não me atendeste; mas o Senhor, que consola os seus amigos em suas tribulações, dignou-se consolar-me esta noite’” (Legenda Perusina, 24).
Encorajado por esta aprovação divina, Francisco pôde encontrar resposta a dar a Frei Elias. Na verdade, o Ministro Geral exprimiu assim sua própria perplexidade ao relatar as reações dos habitantes de Assis: “Como se explica tanta alegria quando se aproxima a hora da morte? Não seria melhor que pensasse na morte?” Francisco não hesita em retrucar: “Deixa-me rejubilar no Senhor e cantar os seus louvores em meio às minhas enfermidades: pela graça do Espírito estou tão unido ao meu Senhor que, por sua bondade, posso na verdade regozijar-me no Altíssimo” (Legenda Perusina 64).
Através de sua liberdade de comportamento Francisco sugere que o caminho que ele seguiu ontem continua viável hoje. Tudo é puro para os puros e tudo é santo para os santos. Os instrumentos de música, cítaras, saltérios e outros podem se prestar para o louvor de Deus e a consolação da alma. Trata-se do bom uso a se fazer da música.
Um pouco de aipo - Francisco jaz em seu leito, muito enfraquecido pela enfermidade. Procura algum reconforto. Teve desejo de comer aipo. Era noite e o tempo se apresentava inclemente. Sabe ele muito bem que aquele não era o melhor momento de exprimir um tal desejo. E além disso o irmão da cozinha parece não querer colaborar. Ele apresenta argumentos sólidos que tornavam inviável a satisfação desse desejo naquela hora. Francisco vai insistir para que o irmão se decida a acolher seu pedido, embora sem muita convicção. Como o irmão cozinheiro haveria de se ver livre desse doente caprichoso, febril e teimoso?
Os céus haveriam novamente de dar razão a Francisco. No meio de uma soca de ervas sem valor, lá se acha um pouquinho de aipo. Francisco provará um pouco e se sentirá reconfortado. Não poderá ele, no entanto, deixar de exprimir a leve decepção de alguém que tem que insistir muito para ser ouvido. Desta forma nos é revelado que, mesmo sendo já objeto de veneração, Francisco faz a experiência da dependência que o coloca à mercê dos outros. Ele o exprime sem azedume, até mesmo com doçura, como que desejando despertar a generosidade meio adormecida de seus companheiros: “Irmãos, cumpri as ordens sempre à primeira palavra, sem esperar que sejam repetidas” (2Celano 51).
Um pedaço de torta de amêndoas – Teria Frei Elias razão em achar nosso moribundo meio “sem juízo”? Mas Francisco se encontra com pleno uso de suas faculdades, mormente da inteligência e do coração. Disse Francisco a Elias: “Creio que se informásseis a Senhora Jacoba de Settesoli a respeito de meu estado de saúde, haveríeis de lhe propiciar ocasião de uma gesto de delicadeza e de consolação”. Francisco está disposto de dar a Fra Jacoba o prazer de vê-lo, saboreando pela última vez os doces que ela sabia tão bem fazer. “Que ela mande também aquele doce que tantas vezes fez para mim quando eu estive em Roma”.
Francisco tinha bom gosto. Queria um “mostacciulo”, uma torta feita com amêndoas, açúcar e outros ingredientes (Legenda Perusina 101).
Um vez mais Francisco vê seu desejo atendido. Fra Jacoba antecipa a realização de seu querer. Ela conhece os gostos de seu amigo e lhe traz a torta de amêndoas. A acolhida de Francisco é toda espontaneidade, verdadeira liberdade de amor: “Bendito seja Deus que nos enviou nosso irmão, Senhora Jacoba! Abri as portas e fazei com que ela entre, pois o artigo que proíbe a entrada de mulheres não vale para Fra Jacoba (3Celano 37).
E Jacoba “tinha preparado para o santo Pai os doces que ele queria… Ele mal os provou porque as forças do corpo iam declinando…” (Legenda Perusina, 101). Francisco ainda se lembrou que Frei Bernardo também apreciava esse doce: “No dia em que a Senhora Jacoba fez aqueles doces para o bem-aventurado Francisco, lembrou-se ele de Frei Bernardo dizendo: ‘Frei Bernardo é que deve gostar desse doce”. E mandou a um companheiro que o chamasse: ‘Vai, e dize a Frei Bernardo que venha cá’” (Legenda Perusina, 107).
Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM
Fonte - Site Franciscanos da Imaculada Conceição do Brasil

E se algum irmão cair enfermo, os outros irmãos devem servi-lo como gostariam de ser servidos (Regra Bulada de São Francisco VI, 10).
Avançando em idade, aprendam os irmãos a aceitar a doença e as crescentes dificuldades e a dar à vida um sentido mais profundo, no progressivo desprendimento e encaminhamento à Terra Prometida (CCGG art. 27, 1)
1. As Fraternidades Franciscanas Seculares sempre tiveram uma preocupação toda especial para com os enfermos e os idosos. Houve tempos em que esse segmento da Fraternidade recebia a designação, nem sempre bem compreendida, de “ala paciente”. Hoje designamos de Serviço dos Enfermos e Idosos (SEI) a essa tarefa de todos os membros de uma Fraternidade no cuidado desses irmãos que vivem doença e idade avançada. Embora seja de todos tal tarefa é confiada de modo particular a um ou mais membros escolhidos ou eleitos para concretizar esse gesto amoroso. Sempre de novo precisamos ficar atentos e inventar expedientes e mimos para que os irmãos não se sintam esquecidos e nem se considerem marginalizados.
2. O tema da enfermidade e doença e da idade avançada pode ser visto sob diferentes ângulos. Há o doente e o idoso de um lado e há, de outro, o irmão da Fraternidade que é encarregado de prestar atenção na situação do irmão e da irmã. Deveremos distinguir o irmão doente durante um certo tempo e, de outro, lado aquele que está fadado a não se levantar do leito ou a viver na dependência quase que total de familiares ou de outras pessoas. Cada situação é uma situação. Há doenças em que o enfermo conserva sua lucidez e outras em que a família até chega a poupar visitas para que estas não assistam a espetáculos constrangedores.
3. Num primeiro momento façamos algumas considerações atinentes à postura do irmão e da irmã que precisam ir se retirando da vida ativa e entrando nessa condição de idosos ou gravemente doentes.
• Os documentos franciscanos pedem que o irmão acolha a doença e os inconvenientes da idade avançada. As CCGG exortam que todos aceitem a situação sabendo que nossa existência continuará na vida eterna como “comunhão dos santos” (art. 27,1).
• A doença, quando não se manifestar de maneira violenta e não tirando a consciência, pode ser uma ocasião de crescimento, de prática de penitência, de aceitação de nossa limitação. Idosos e menos idosos somos convidados a aceitar os reveses da vida. Sabemos que é fácil escrever essa frase, mas que é necessário têmpera e garra e muita força do alto para carregar a cruz de uma enfermidade que veio para ficar ou acolher os achaques humilhantes da velhice.
• Os idosos e enfermos saberão ter a simplicidade de comunicar aquilo de que precisam. Num contexto mais centrado no conjunto do tema da fraternidade, Francisco fala na Regra Bulada: “E onde estão e onde quer que se encontrem os irmãos, mostrem-se mutuamente familiares entre si. E com confiança um manifeste um ao outro sua necessidade, porque se uma mãe ama e nutre seu filho carnal quanto mais diligentemente não deve cada um amar e nutrir seu irmão espiritual?” (Regra Bulada VI, 8-9). Assim, o irmão doente tem o direito de expor seus desejos sejam eles de coisas simples ( dar um passeio pela cidade, visitar um parente, degustar um sorvete de creme, escutar uma música).• Os doentes e idosos não se acanhem, pois, de exprimirem o que desejam. Porém, prestarão atenção para não serem exigentes e procurarão evitar reclamações e “murmurações”.
• No momento da enfermidade há os que começam a refletir sobre sua vida passada e se enchem de escrúpulos e de arrependimentos por atos poucos nobres cometidos. Os acompanhantes (também o assistente religioso da Fraternidade) haverão de ajudar o irmão nesse transe. Que ele possa ter paz no coração e não fique remoendo o que passou. Pela confissão sacramental e pelo arrependimento do coração saberá o doente que foi perdoado. Ninguém pode ficar se torturando com escrúpulos e arrependimentos doentios.
• Doentes e idosos procurem simplificar as coisas. Na medida do possível esvaziem gavetas, distribuam os bens quando existirem, procurem desligar-se de todas as preocupações desnecessárias. Joguem-se nas mãos do Senhor.
• Se o idoso e enfermo tiver condições de fazer a contribuição financeira prevista pela Ordem Franciscana Secular haverá de realizá-lo com presteza. Esse ponto faz parte da formação inicial e permanente. Há muitos irmãos e irmãs acamados que sempre lembram aos familiares e visitas que providenciem o pagamento de sua contribuição financeira.
• Facilitem a vida dos irmãos da Fraternidade e de sua família determinando a regularidade com que gostariam de receber os sacramentos da eucaristia e da penitência. Conveniente seria que o irmão, se dando conta do agravamento da doença, pedisse a visita do sacerdote para receber a unção dos enfermos.
• À guisa de sugestão diria que o local onde está o enfermo fosse “decorado” com flores e que não se administrasse esse sacramento lugubremente, mas com plena participação do enfermo ou idoso e com tintas de alegria e de esperança no fundo do coração. Diria mesmo que se cantasse algum hino franciscano. Desta forma, isto é, com esperança alegre é que se prepara a chegada da Irmã Morte.
• Os irmãos doentes e idosos, aceitando os incômodos da idade as dores do corpo completam em si o que falta à paixão de Cristo.
4. Vejamos agora alguns cuidados que precisam ter irmãos e irmãs encarregados por esse carinhoso serviço fraterno. Antes de mais nada deve-se dizer que o cuidado e acompanhamento dos idosos é um verdadeiro serviço de amor pastoral. Que belo quando irmãos acompanham os doentes e idosos durante a dor e a solidão do sofrimento e estão presentes, como diletos irmãos e amigos na celebração da passagem. Esses aprenderam a chorar com o que choram e a rir com os que riem.
• A visita deverá se fazer com um certo ritmo. Não se pode exagerar na frequência, nem espacejá-las demais. Tudo deverá ser combinado com a família. O irmão visitador precisa sentir o “tônus” da família. Pode ser que alguns familiares nem sempre queiram visitas para que seus entes queridos não se exponham a situações constrangedoras (pessoas com incontinência etc.). Pode acontecer que a visita precise ser abreviada. Necessário ter sensibilidade para tanto.
• O doente e o idoso querem viver, querem sentir uma proximidade carinhosa com que os visita. Num momento em que as esperanças humanas vão desaparecendo, o enfermo quer uma pessoa realista e que, ao mesmo tempo, lhe traga alegria. Sabemos que cada caso é um caso. Nunca o doente deverá sentir que irmão faz uma visita formal ou simplesmente cumprindo a obrigação de lhe trazer o Sacramento do Corpo do Senhor.
• Na administração da Comunhão eucarística, ministro ou irmão da Fraternidade cuidarão de não se prolongar demais. Bom que o rito fosse desenvolvido com calor na voz e expressão carinhosa nos gestos. Nada de frio formalismo.
• O irmão que visita precisa, de alguma forma compreender aquilo que vive o irmão, em outras palavras, saber colocar-se em seu lugar. E, como já dissemos, cada caso é um caso. Há os doentes mais gravemente enfermos e terminais. Há o sofrimento físico, é claro, por vezes aliviado com analgésicos, há a vergonha de não poder controlar suas necessidades, o mal-estar de perder o fio de um assunto e ficar num estado de perplexidade. Há doentes que passam facilmente de um estado de euforia a outro de depressão e de pranto. Não se deve ficar chocado quando um irmão se revolta contra a doença e a proximidade da morte por meio de palavras e mesmo de vociferações. Deitado em seu leito, o doente pode estar vivendo sentimentos de cólera, de depressão, de revolta com a chegada da morte, de dúvidas a respeito de sua salvação eterna, de remorsos cruéis e mesmo crises de desespero. Por vezes pode mesmo acontecer que os doentes manifestem sua revolta contra Deus. O visitador não fará discursos moralizantes, mas tentará ouvir e mais vale ficar quieto e perto do que fazer discursos para defender o Senhor Deus. Que o irmão doente chore, reclame e encontre em nosso rosto a paz da compreensão.
• O irmão responsável pelo serviço dos idosos e enfermos saberá satisfazer seus desejos e suas necessidades espirituais. O doente precisa sentir que continua dono de sua história. Não é pelo fato de estar numa cama ou impossibilitado de caminhar que pode delegar a outros os fios de sua história. Sobretudo quando a doença é grave o doente sente um peso enorme sobre ele e precisa ser ajudado, discreta, mas realmente ajudado. Há muitas perguntas que ele se faz interiormente sem exprimi-las em palavras. O doente sente que o corpo não responde mais e que a mente se esvai. Há também essa questão de todos, também dos cristãos, também dos franciscanos religiosos e seculares, a respeito depois da morte. Cremos na vida que vem depois da morte, mas… Os que não tem fé esclarecida pesam: “O que me vai acontecer agora? Vou bater com a cabeça num muro de pedra? As CCGG da OFS lembram aos doentes: “Estejam firmemente convencidos de que a comunidade dos crentes em Cristo e dos que se amam nele prosseguirá na vida eterna como comunhão dos santos. Os franciscanos seculares se empenhem em criar em seu ambiente, sobretudo nas Fraternidades, uma clima de fé e de esperança, de modo que a “irmã morte”, seja vista como passagem para o Pai e todos possam preparar-se para ela com serenidade” (art. 27,1-2).
• Muitas Fraternidades costumam organizar encontros festivos e alegres, de modo especial por ocasião das festas do Natal, da Páscoa e nas comemorações franciscanas para os quais são convidados os irmãos que ainda podem se locomover. Essas reuniões feitas num espaço de beleza, de alegria, de fé são de grande proveito para os irmãos. A experiência diz que, mormente para aqueles que nunca podem sair de casa, que a data de seu aniversário seja belamente lembrada e festejada desde a manhã com mensagem, presentes, visita e bolo com velas.
5. Procurem os irmãos que cuidam dos idosos e doentes se fazerem presentes no sepultamento e também junto da família do falecido. Sempre haverão de estar com discrição, mas sempre como irmãos verdadeiros sofrem com a partida do irmão.
Apêndice 1
(para ajudar os que visitam enfermos e idosos)
Quando se envelhece……luzes e sombras
Quantas coisas atravessam a cabeça dos idosos e doentes:
- Há a alegria do dever cumprido, da missão realizada: um pai e uma mãe olham os filhos crescidos, adultos, já também pais e avós, um sacerdote faz desfilar em sua mente os anos de ministério, uma professora se recorda das turmas e dos alunos que foram objeto de seus cuidados. Há essa alegria de experimentar o sabor dos frutos que foram lentamente amadurecendo.
- Há essa sensação de que outros estão chegando e vão ocupando um espaço que era o nosso. Há esse pressentimento de que se está sobrando.
- Há essa experiência de anos e anos no campo profissional, nas atividades da paróquia, na Fraternidade franciscana, no contato humano, na arte de negociar, no exercício da acolhida do diferente. Os idosos são peritos em humanidade. São sábios que precisam fazer ouvir a voz de sua sabedoria.
- Há essa sensação de cansaço das pernas e dos braços, o enfraquecimento da memória, a respiração meio ofegante, o sono diante do computador, da televisão e numa sala de espera de um consultório médico.
- Há essa alegria de poder ir refazendo sua biografia humana através do tempo que Deus permitiu que se fosse vivendo.
- Na medida em que os anos chegam vem essa impressão que as cortinas estão para ser puxadas, que há pouco que fazer. Os que ganham idade se dão conta de limitações irreversíveis. Será que ainda se pode fazer algum projeto? Quais?
- A velhice é tempo em que se aprende e se vive o despojamento. Nem sempre é pedido o parecer do idoso. Ou então nem é mesmo levado em consideração. Os móveis e os hábitos são mudados de lugar sem o parecer do idoso ou do doente. Há uma sensação de inutilidade, de se ser um traste tolerado.
- Quando se envelhece há mais tempo para ler, para ver as plantas crescendo, para ver se os passarinhos já nasceram no ninho feito na goiabeira, tempo de acolher com clama uma visita. O idoso não é um apressado. Normalmente transmite paz e serenidade.
- Há esses idosos e anciãos descuidados, sujos, lambuzados, vestindo roupa velha, rasgada. Há esses velhos nos asilos, nos abrigos, nas marquises que são verdadeiros restos humanos.
- Há esses idosos que evitam conversar porque sua existência não teve frutos saborosos e têm receio de se exporem à piedade alheia.
- Há doentes e idosos que têm sempre um sorriso de paz, que ajudam a descascar maças para a torta da noite, ou aqueles que ainda fazem a contabilidade da capela do bairro. Enfeitam o mundo com sua história. Há esses que oferecem para passar uma roupa, há os que falam de flores e aqueles que só dissertam sobre as dores.
- Há os que sabem que, na hora do trespasse, os anjos chegarão para lhes dar a mão. Outros têm medo de colocar os pés nessa terra desconhecida. Há os que rezam com toda confiança: “Santa Maria, rogai por nós, agora e na hora de nossa morte…”
- “Qualquer que seja a sua idade, guardem este pensamento: o importante não é viver muito ou pouco, mas realizar na vida o plano para o qual Deus nos criou. As rosas, a rigor, vivem um dia. Mas vivem plenamente porque realizam o destino de graça e de beleza que trazem à terra. Se vocês sentirem que os anos passam e a mocidade se vai, peçam a Deus para si e para os que se tornam menos jovens a graça de, envelhecendo, não azedar, não virar vinagre” (Dom Helder Câmara).
Apêndice 2
Os desejos de São Francisco quando estava doente….Os que são responsáveis pelo Serviço dos Enfermos e Idosos em nossas Fraternidades OFS saberão alegrar os irmãos enfraquecidos. Procurarão satisfazer seus lícitos desejos: procurar-lhes uma fruta que apreciam, dar um “giro” de carro pela cidade, fazer com que eles encontrem seu amigos. Os biógrafos de São Francisco relatam alguns desejos, pelo menos curiosos, expressos pelo santo já bem perto da morte e quando já havia atingido altíssimo grau de santidade. André Menard, frade menor francês, escreve a respeito de três deles: música ao som da cítara, uma porção de aipo, uma torta de amêndoas que Fra Jacoba sabia fazer (Les envies, les humeurs et les variations de François, in Évangile Aujourd’hui, n.147. agosto de 1990, p. 42-46).
Um pequeno grupo de irmãos rodeia Francisco no final de sua vida. Permanecem bem perto do santo pai e demonstram atenção e solicitude. O testemunho deles nos permite chegar até a mais profunda humanidade de Francisco. Deixando de lado o “não fica bem” ou “o que os outros vão pensar”, Francisco dá livre curso à realização de seus justos desejos.
Um pouco de música - Prostrado por muitas enfermidades, Francisco sentiu o desejo de ouvir um pouco de música que viesse a lhe devolver a alegria espiritual (cf. Legenda Maior de São Boaventura 5, 11). Francisco sabia que esse expediente lhe faria bem. “Embora muito enfraquecido pela doença, o santo, para consolo de seu espírito e para não se deixar abater no meio de graves e numerosas enfermidades, mandava cantar repetidas vezes durante o dia os Louvores de Deus que havia composto, tempos atrás, durante um período de doença. Pedia também que os cantassem durante a noite para edificação e para recreio daqueles que por sua causa estavam em vigília no palácio (do bispo em Assis) (Legenda Perusina,64).
Seu desejo encontrava uma certa resistência à sua volta. Um dos frades que havia sido conhecido como o rei dos poetas não aceitava realizar o desejo de Francisco.
“Disse Francisco a um de seus irmãos que no século era tocador de cítara: ‘Irmão… gostaria que fosses em segredo pedir a uma pessoa honesta uma cítara emprestada, na qual me tocasses uma bela música para acompanhar as orações e os Louvores do Senhor…’ O irmão respondeu-lhe: ‘Pai, tenho vergonha de ir à procura deste instrumento. Os habitantes desta cidade sabem que, no mundo, eu fui tocador de cítara; e tenho receio de os escandalizar, fazendo com que pensem que estou voltando ao meu ofício…’” (Legenda Perusina, 24).
Francisco bem podia ter previsto esta dificuldade. Ele mesmo, anteriormente, havia dito que os instrumentos de música que antigamente serviam aos santos para o louvor de Deus, agora serviam à vaidade e ao pecado, contrariamente à vontade de Deus”.
Francisco respeita a delicadeza de consciência do irmão musico: “Está bem, irmão, não se fala mais nisso”. O Senhor, no entanto, haveria de atender de outra maneira, o desejo de seu servo: “Na noite seguinte… Francisco começou a ouvir perto de casa, a mais bela e mais suave melodia, que até então ouvira, nas cordas de uma cítara… e, de manhã, disse ao companheiro: ‘Irmão, pedi-te e não me atendeste; mas o Senhor, que consola os seus amigos em suas tribulações, dignou-se consolar-me esta noite’” (Legenda Perusina, 24).
Encorajado por esta aprovação divina, Francisco pôde encontrar resposta a dar a Frei Elias. Na verdade, o Ministro Geral exprimiu assim sua própria perplexidade ao relatar as reações dos habitantes de Assis: “Como se explica tanta alegria quando se aproxima a hora da morte? Não seria melhor que pensasse na morte?” Francisco não hesita em retrucar: “Deixa-me rejubilar no Senhor e cantar os seus louvores em meio às minhas enfermidades: pela graça do Espírito estou tão unido ao meu Senhor que, por sua bondade, posso na verdade regozijar-me no Altíssimo” (Legenda Perusina 64).
Através de sua liberdade de comportamento Francisco sugere que o caminho que ele seguiu ontem continua viável hoje. Tudo é puro para os puros e tudo é santo para os santos. Os instrumentos de música, cítaras, saltérios e outros podem se prestar para o louvor de Deus e a consolação da alma. Trata-se do bom uso a se fazer da música.
Um pouco de aipo - Francisco jaz em seu leito, muito enfraquecido pela enfermidade. Procura algum reconforto. Teve desejo de comer aipo. Era noite e o tempo se apresentava inclemente. Sabe ele muito bem que aquele não era o melhor momento de exprimir um tal desejo. E além disso o irmão da cozinha parece não querer colaborar. Ele apresenta argumentos sólidos que tornavam inviável a satisfação desse desejo naquela hora. Francisco vai insistir para que o irmão se decida a acolher seu pedido, embora sem muita convicção. Como o irmão cozinheiro haveria de se ver livre desse doente caprichoso, febril e teimoso?
Os céus haveriam novamente de dar razão a Francisco. No meio de uma soca de ervas sem valor, lá se acha um pouquinho de aipo. Francisco provará um pouco e se sentirá reconfortado. Não poderá ele, no entanto, deixar de exprimir a leve decepção de alguém que tem que insistir muito para ser ouvido. Desta forma nos é revelado que, mesmo sendo já objeto de veneração, Francisco faz a experiência da dependência que o coloca à mercê dos outros. Ele o exprime sem azedume, até mesmo com doçura, como que desejando despertar a generosidade meio adormecida de seus companheiros: “Irmãos, cumpri as ordens sempre à primeira palavra, sem esperar que sejam repetidas” (2Celano 51).
Um pedaço de torta de amêndoas – Teria Frei Elias razão em achar nosso moribundo meio “sem juízo”? Mas Francisco se encontra com pleno uso de suas faculdades, mormente da inteligência e do coração. Disse Francisco a Elias: “Creio que se informásseis a Senhora Jacoba de Settesoli a respeito de meu estado de saúde, haveríeis de lhe propiciar ocasião de uma gesto de delicadeza e de consolação”. Francisco está disposto de dar a Fra Jacoba o prazer de vê-lo, saboreando pela última vez os doces que ela sabia tão bem fazer. “Que ela mande também aquele doce que tantas vezes fez para mim quando eu estive em Roma”.
Francisco tinha bom gosto. Queria um “mostacciulo”, uma torta feita com amêndoas, açúcar e outros ingredientes (Legenda Perusina 101).
Um vez mais Francisco vê seu desejo atendido. Fra Jacoba antecipa a realização de seu querer. Ela conhece os gostos de seu amigo e lhe traz a torta de amêndoas. A acolhida de Francisco é toda espontaneidade, verdadeira liberdade de amor: “Bendito seja Deus que nos enviou nosso irmão, Senhora Jacoba! Abri as portas e fazei com que ela entre, pois o artigo que proíbe a entrada de mulheres não vale para Fra Jacoba (3Celano 37).
E Jacoba “tinha preparado para o santo Pai os doces que ele queria… Ele mal os provou porque as forças do corpo iam declinando…” (Legenda Perusina, 101). Francisco ainda se lembrou que Frei Bernardo também apreciava esse doce: “No dia em que a Senhora Jacoba fez aqueles doces para o bem-aventurado Francisco, lembrou-se ele de Frei Bernardo dizendo: ‘Frei Bernardo é que deve gostar desse doce”. E mandou a um companheiro que o chamasse: ‘Vai, e dize a Frei Bernardo que venha cá’” (Legenda Perusina, 107).
Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM
Fonte - Site Franciscanos da Imaculada Conceição do Brasil
quarta-feira, 18 de abril de 2012
Visita a Paróquia Nossa Senhora de Fátima em Uberaba
No dia 12/04/2012 os irmãos Beni, Simone e Dimas visitaram a paróquia N.S. de Fátima e nosso querido Frei Filomeno, Ofm e tb na ocasião visitamos o Bispo Dom Roque e nosso Irmão Duvaldo, Coordenador distrital e Ministro da Fraternidade de Uberaba.
terça-feira, 17 de abril de 2012
Que expressão tem a OFS na Igreja e no mundo hoje?
1. Nós, cristãos, não queremos “aparecer” aos olhos dos outros. Não somos dados a protagonismos, nem andamos à cata de aplausos e de reconhecimento. Fazemos nossa obrigação e saímos de cena. Essa atitude é típica também dos franciscanos. E, no entanto, somos convidados a agir e atuar no mundo, temos todos a responsabilidade de levar adiante o projeto de Jesus, projeto que ele nos confiou depois de ter voltado ao Pai. Tudo isso quer dizer “visibilidade”, “expressividade”. Não se coloca uma luz debaixo da mesa. O sal precisa salgar. O fermento necessita fermentar. Somos convidados a refletir sobre a expressão que tem a Ordem, em seus três ramos, em nossos tempos no coração da Igreja e na sociedade. A OFS tem o costume de realizar capítulos avaliativos e, talvez, nesse espaço de partilha e de revisão de vida, se poderia pensar em responder à pergunta-título desta reflexão. Que visibilidade, que expressão têm as Fraternidades Franciscanas Seculares na Igreja e na sociedade de hoje? Como somos vistos pelos bispos em suas dioceses, pelos padres em suas paróquias, pelos leigos em geral e pelos nossos familiares? Nesse mundo em que vivemos, na cidade em que habitamos, que expressão tem a OFS? O que anda animando profundamente a nossa existência e que pode transparecer no cotidiano de nossas vidas, iluminar os homens e restaurar a Igreja? Que influência exercemos na Igreja em que vivemos e, em nível nacional, que luz projeta no país o Conselho Nacional da OFS e toda a Fraternidade nacional? Será que as pessoas nem sabem que ela existe? Como franciscanos seculares que fazem promessa de seguimento do Evangelho no mundo não somos simplesmente responsáveis por fazer com que as coisas continuem, com que a “máquina gire”. Temos, com toda humildade e minorismo, alguma coisa a oferecer à Igreja e ao mundo, uma palavra a ser dita aos tempos de hoje.Brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vendo vossas boas obras glorifiquem vosso Pai
que está nos céus (Mt 5, 16)Os franciscanos seculares ajam sempre como fermento nos ambientes em que vivem, mediante o testemunho do amor fraterno e de claras motivações cristãs (Const. Gerais OFS, art 19,1)
2. Não é o caso aqui de se fazer um estudo exaustivo a respeito da visibilidade expressiva da Ordem Terceira de São Francisco. Há nomes que marcaram: Isabel da Hungria, Ângela de Foligno, Contardo Ferrini para mencionar apenas três. Há gloriosas páginas escritas pelos irmãos e irmãs da Ordem ao longo dos séculos. Todos nos lembramos das grandes fraternidades do Brasil. Naquele tempo, os irmãos e irmãs usavam sinais, tinha hábito, participavam das procissões com seus distintivos. Não estou aqui exprimindo desejo de voltem os hábitos, mas o certo é que as fraternidades eram mais visíveis. Os tempos mudaram. A OFS foi objeto de profundas transformações e precisamente na medida em que as novas fraternidades forem assimilando as orientações da Regra e das Constituições vão ganhar nova visibilidade e se “exprimirão” de outra forma. Podemos dizer, logo de início, que a visibilidade da OFS depende de fraternidades locais bem formadas, de grupos que resolveram assumir como documento inspiracional de sua caminhada a Regra paulina. Uma parte das razões de uma certa “inexpressividade” da OFS têm sua origem na não assimilação do espírito da Regra que foi publicada em 1978. Os irmãos e irmãos são conhecidos, ainda hoje, como “piedosos cristãos devotos de São Francisco”, pessoas envelhecidas e “inofensivas” e que não têm muito a dar. Muitos acreditam que não temos amanhã. Nossos tempos, no entanto, quiseram, dizemos de maneira talvez um pouco irreverente, que os leigos saíssem das sacristias. Por isso, quando queremos refletir sobre a visibilidade dos franciscanos leigos, hoje, desejamos que haja uma expressão prioritária na linha do secular.
3. Desde que os responsáveis pela redação da Regra, inspirados pelos ensinamento do Vaticano II, terminaram o texto aprovado por Paulo VI, ficou claro que a OFS terá prioritariamente expressão em sua dimensão secular. Christifideles Laici insiste na expressão índole secular. “Efetivamente o Concílio descreve a condição secular dos fiéis leigos indicando-a, antes de mais nada, como o lugar onde lhes é dirigida a chamada de Deus: Aí são chamados por Deus. Trata-se de um lugar descrito em termos dinâmicos: os fiéis leigos vivem no século, isto é, empenhados em toda e qualquer ocupação e atividade terrena e nas condições ordinárias da vida familiar e social, com as quais é como que tecida a sua existência. Os fiéis leigos são pessoas que vivem a vida normal no mundo, estudam, trabalham, estabelecem, relações amigáveis, sociais, profissionais, culturais” n.15). Não se espera “expressividade” da OFS apenas em atividades litúrgicas e catequéticas. O jeito de viver no mundo o Evangelho é que poderá mostrar que os franciscanos seculares têm uma contribuição da dar à Igreja e à sociedade. Não são assim tão “inofensivos”.
4. Muitas vezes já ouvimos que os cristãos são luz do mundo, sal da terra e fermento da massa. “As imagens evangélicas do sal, da luz e do fermento embora se refiram indistintamente a todos os discípulos de Jesus, têm uma específica aplicação nos fiéis leigos. São imagens maravilhosamente significativas, porque falam não só da inserção profunda e da participação plena dos fiéis leigos na terra, no mundo, na comunidade humana, mas também, e sobretudo, na novidade e na originalidade de uma inserção e de uma participação destinadas à difusão do evangelho que salva” ( n. 15).
5. Os franciscanos seculares, em suas atitudes e posturas mais do que em palavras, passarão a convicção de que suas vidas são marcadas pela força do carisma de Francisco dado à Igreja. Já trabalhamos, em anos anteriores, o tema da identidade. Foram dados passos largos na Ordem toda e, de modo especial, entre nós, numa melhor compreensão do senso de pertença. Necessário, sempre de novo, voltar à vocação inicial, ao primeiro amor, ao momento em que resolvemos ouvir o chamado para o seguimento de Cristo à maneira de Francisco. Não se pode deixar a chama morrer. Através de constantes exames de nossa vida, junto com os irmãos e as irmãs, damos graças a Deus de nos ter chamado à visa franciscana e levamos a sério essa profissão, promessa de entrega ao Evangelho por meio de nossa profissão à qual seremos fiéis com, uma fidelidade dinâmica e criativa. Nossa profissão é feita para ser vivida no mundo. As tarefas de “sacristia” não são as prioritárias.
6. A OFS será expressiva e terá visibilidade na medida em que seus irmãos viverem em fraternidades sólidas. Os bispos, os padres, o mundo precisam dizer a nosso respeito: “Vede como eles se amam!” Sem romantismos de adolescentes sabemos que viver em fraternidade é desafiador. Levar a sério as reuniões que serão bem feitas, sem pressa, com gente que chega na hora, que fala, que participa, que vibra, que luta pela causa. Não apenas a justaposição de pessoas que estão ali por uma fria obrigação. Fraternidades que se exprimem no estar juntos, no acudir as necessidades dos irmãos de dentro e de fora. Fraternidades que se manifestam num jeito de viver em que não se fala mal de ninguém, em que o outro não é um rival ou uma ameaça, onde não há competição tola, nem sede e fome de poder. Fraternidades corajosamente fraternas num mundo de individualismo. Fraternidades sempre em estado de construção.
7. Vivendo em fraternidades seculares, convivendo com os irmãos da Ordem Primeira e da TOR, com as Irmãs Pobres de São Damião, com as religiosas e religiosos que se vincularam ao carisma franciscano, os franciscanos são uma mesma família, a Família franciscana que precisa ser ‘ expressiva”. Não é assim que uma diocese tome a decisão de dispensar os frades quando ela dispõem de padres diocesanos para executar o trabalho que era feito pelos frades. Os frades não são meros tarefeiros. Os franciscanos, de qualquer as três Ordens, precisam constituir uma presença querida, desejada e quase necessária. Na medida em que mostramos unidade no seio da Família ficará mais visível o carisma e a “expressividade”. Precisamos urgentemente comemorar juntos nossas festas e deixarmo-nos impregnar uns da força e da energia dos outros. Se não formos uma Família franciscana unida será difícil mostrar “expressividade”.
8. Podemos dizer que há um pequeno buquê de posturas ou convicções que nos identificam, que nos tornam pessoas “simpáticas” no seio da Igreja e do mundo. Tais posturas poderão ser nossa “carta de identidade”:
- Marca registrada dos franciscanos é a “descomplicação” e falta de “solenidade pomposa”; em outras palavras, são pessoas que são o que são, não têm dobras, são simples;
- Os franciscanos não se cansam de contemplar a singeleza do presépio e o aniquilamento da cruz; por isso sua simplicidade se mistura com apreço pela pobreza. O casamento de um franciscano tem beleza simples e não pompa mundana, a casa de um franciscano é lugar de acolhida e não espaço de ostentação; o carro de um franciscano não precisa ser do último modelo, nem seu guarda roupa sempre da moda…
- Aqui e ali os franciscanos se mostram alegres, gostam de cantar, de decantar o sol, as estrelas… cantam uníssono, cantam a mais vozes; cantam em suas fraternidades. Cantando vão além da euforia nervosa e barulhenta. São profundamente alegres, da alegria parecida com a perfeita alegria de que falava Francisco a Frei Leão. Uma alegria pascal, que passa pelo êxodo de si, pela morte do homem velho. Ou não dá para exprimir essa postura?
- Vivendo em fraternidades os franciscanos são conhecidos como irmãos e irmãs; Exprimem-se como irmãos de todos e de tudo. Mas são irmãos menores. Sem grandes pretensões.
- • Os franciscanos seculares, como o próprio Francisco, vivem um tensão entre ação e contemplação. Não são pessoas que correm de um lado para o outro, sem nexo. Mergulham sua vida na contemplação nas grutas, no silêncio, na interiorização. Os franciscanos seculares visitam seu interior.
10. O tema família e OFS é delicado e intrincado. Chamamos atenção apenas para alguns tópicos que nos parecem importantes, na linha da “expressividade” franciscana da família.
- Os franciscanos seculares valorizam o sacramento do matrimônio. Escolhem padrinhos diferentes. Os noivos se preparam espiritualmente para cerimônia. Uma vez casados vivem a espiritualidade conjugal com as conotações franciscanas: simplicidade, pobreza digna, respeito pela vida, educação dos filhos marcada pelo Evangelho.
- Na medida do possível, as famílias deveriam se fazer presentes mais vezes nas reuniões da Fraternidade.
- Os franciscanos seculares terão o hábito de festejar os aniversários de casamento.
- Haverão de se dispor a trabalhar pela família antes do casamento, no momento de sua celebração e depois do casamento como agentes qualificados de uma pastoral evangélico-franciscana.
12. Evidentemente, os franciscanos seculares não se recusam a trabalhar na pastoral paroquial. Ao contrário, fazem questão de dar sua contribuição. Quando agem pastoralmente fazem-no a partir de sua identidade franciscana. Questionam uma pastoral meramente sacramentalista. Sua ação se reveste do jeito franciscano. Os franciscanos seculares, no entanto, colocam prioridades a partir de sua profissão na OFS.
13. Para que a OFS seja expressiva, parece importante que nas fraternidades locais, regionais, e de modo especial na fraternidade nacional, se cuide da formação de lideranças a partir de uma eclesiologia de comunhão e de uma concepção clara da índole secular da OFS. Precisamos de líderes. Reflexões e estudos de lideranças franciscanas seculares ajudarão a tornar a OFS expressiva.
Frei Almir Ribeiro Guimarães
Fonte - Site Franciscanos da Imaculada Conceição
sexta-feira, 13 de abril de 2012
"Legalizar o aborto de fetos com anencefalia, erroneamente diagnosticados como mortos cerebrais, é descartar um ser humano frágil e indefeso", afirma Nota da CNBB
A Conferência Nacional dos bispos do Brasil, logo após a conclusão do julgamento do Supremo Tribunal Federal sobre a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 54, emitiu nota oficial lamentando a decisão. No texto, os bispos afirmam que "Legalizar o aborto de fetos com anencefalia, erroneamente diagnosticados como mortos cerebrais, é descartar um ser humano frágil e indefeso".
Leia a integra da Nota:
Leia a integra da Nota:
Nota da CNBB sobre o aborto de Feto “Anencefálico”
Referente ao julgamento do Supremo Tribunal Federal sobre a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 54
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB lamenta profundamente a decisão do Supremo Tribunal Federal que descriminalizou o aborto de feto com anencefalia ao julgar favorável a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental n. 54. Com esta decisão, a Suprema Corte parece não ter levado em conta a prerrogativa do Congresso Nacional cuja responsabilidade última é legislar.
Os princípios da “inviolabilidade do direito à vida”, da “dignidade da pessoa humana” e da promoção do bem de todos, sem qualquer forma de discriminação (cf. art. 5°, caput; 1°, III e 3°, IV, Constituição Federal), referem-se tanto à mulher quanto aos fetos anencefálicos. Quando a vida não é respeitada, todos os outros direitos são menosprezados, e rompem-se as relações mais profundas.
Legalizar o aborto de fetos com anencefalia, erroneamente diagnosticados como mortos cerebrais, é descartar um ser humano frágil e indefeso. A ética que proíbe a eliminação de um ser humano inocente, não aceita exceções. Os fetos anencefálicos, como todos os seres inocentes e frágeis, não podem ser descartados e nem ter seus direitos fundamentais vilipendiados!
A gestação de uma criança com anencefalia é um drama para a família, especialmente para a mãe. Considerar que o aborto é a melhor opção para a mulher, além de negar o direito inviolável do nascituro, ignora as consequências psicológicas negativas para a mãe. Estado e a sociedade devem oferecer à gestante amparo e proteção
Ao defender o direito à vida dos anencefálicos, a Igreja se fundamenta numa visão antropológica do ser humano, baseando-se em argumentos teológicos éticos, científicos e jurídicos. Exclui-se, portanto, qualquer argumentação que afirme tratar-se de ingerência da religião no Estado laico. A participação efetiva na defesa e na promoção da dignidade e liberdade humanas deve ser legitimamente assegurada também à Igreja.
A Páscoa de Jesus que comemora a vitória da vida sobre a morte, nos inspira a reafirmar com convicção que a vida humana é sagrada e sua dignidade inviolável.
Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil, nos ajude em nossa missão de fazer ecoar a Palavra de Deus: “Escolhe, pois, a vida” (Dt 30,19).
Cardeal Raymundo Damasceno Assis
Arcebispo de Aparecida
Presidente da CNBB
Leonardo Ulrich Steiner
Bispo Auxiliar de Brasília
Secretário Geral da CNBB
CNBB manifesta posição contrária à decisão do STF
Após dois dias de apreciação sobre a legalidade do aborto de fetos anencéfalos, o Supremo Tribunal Federal (STF), foi favorável à legalização do ato, também chamado de antecipação terapêutica do parto. Diante da decisão, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) emitiu uma nota lamentando o parecer, por considerar que tal prática é “descartar um ser humano frágil e indefeso".
De acordo com o documento expedido pela CNBB, apenas o Congresso Nacional pode legislar, com isso, não é atribuição do STF modificar a lei penal legalizando o aborto. “Com esta decisão, a Suprema Corte parece não ter levado em conta a prerrogativa do Congresso Nacional cuja responsabilidade última é legislar.”
Na nota, foram mencionados os princípios da “inviolabilidade do direito à vida”, da “dignidade da pessoa humana” e da promoção do bem de todos, sem qualquer forma de discriminação, como reza o artigo 5° (caput; 1°, III e 3°, IV) da Constituição Federal. No entanto, para a maioria dos ministros – oito manifestações favoráveis e duas contra –, não há aborto no caso dos anencéfalos. Os magistrados entendem que não há vida em potencial, baseados na convicção que o feto anencéfalo é um natimorto biológico.
Entretanto, a CNBB tem posição contrária ao entendimento da corte. “Legalizar o aborto de fetos com anencefalia, erroneamente diagnosticados como mortos cerebrais, é descartar um ser humano frágil e indefeso. A ética que proíbe a eliminação de um ser humano inocente, não aceita exceções. Os fetos anencefálicos, como todos os seres inocentes e frágeis, não podem ser descartados e nem ter seus direitos fundamentais vilipendiados!”, afirma o documento.
Na conclusão da nota, a CNBB afirma que “ao defender o direito à vida dos anencefálicos, a Igreja se fundamenta numa visão antropológica do ser humano, baseando-se em argumentos teológicos éticos, científicos e jurídicos.” Tal juízo, dá subsídio ao princípio de que também é um dever da Igreja “a participação efetiva na defesa e na promoção da dignidade e liberdade humanas”, o que exclui argumentos que afirmam se tratar de intervenção da religião, no Estado laico.
Fonte - Site da CNBB
quarta-feira, 11 de abril de 2012
terça-feira, 10 de abril de 2012
A dimensão penitencial
Por Frei Orlando BernardiO capítulo III da Regra de Santa Clara se intitula: Sobre o ofício divino e o jejum, a confissão e a comunhão e que corresponde ao capítulo III da Regra bulada de S. Francisco que trata do ofício divino e o jejum e como devem os irmãos ir pelo mundo. Os dois primeiros elementos de ambas as Regras, quer dizer, o ofício divino e o jejum, são praticamente iguais. As diferenças se mostram no último elemento, onde se focaliza a vida dos frades como itinerantes e a das damas pobres como contemplativas. No entanto, note-se que o conteúdo dos capítulos de ambas as Regras fazem ainda parte da dimensão penitencial, ou melhor, do caminho de conversão que para Francisco e sua plantinha consistia na vida de penitência. A característica dos frades itinerantes se mostra no “não discutir, não julgar, no ser manso, pacífico, modesto, brando, humilde e no falar a todos honestamente como convém”. Para as damas pobres o comportamento cotidiano se resume na confissão e na comunhão. Sem grandes intuições ou reflexões percebe-se, de imediato, o quanto as propostas de Clara com a confissão e a comunhão possuem de práticas penitenciais para o comportamento cotidiano daquelas que escolheram a vida contemplativa. Enquanto a dimensão penitencial de Francisco se traduz em não discutir, não julgar, mas em ser manso, pacífico, modesto, brando e humilde, a confissão e a comunhão de Clara incluem a dimensão da misericórdia com todos os seus desdobramentos divinos e humanos e a dimensão da comunhão com a tradução do cotidiano que tende em se transformar em eucaristia, dom ou entrega diária para o louvor do Pai. Com isso se tenta afirmar que não se pode celebrar qualquer liturgia que deveria dar o ritmo a qualquer trabalho diário sem a reconciliação consigo mesmo e com os irmãos e sem um silencioso diálogo com o TU que sustenta o compromisso de ser seguidor de Francisco ou de Clara.
É por isso que o primeiro ponto do capítulo de ambas as Regras trata do ofício divino, pois é esse entrar em comunhão dialogante com o TU divino que dá o suporte para que a opção de seguir os passos de Jesus pobre e crucificado se torne concreta e eficiente. Daí que tanto Francisco como Clara insistem para que não se perca o “espírito de oração e seu santo modo de operar”, pois é ele que dará o tom certo para quem quiser viver a forma ou a perfeição do santo Evangelho. O Ofício divino se traduz, então, em oferenda ou dom perfeito não de qualquer coisa material, mas como dom da oração em seu duplo sentido: uma vez como dom do próprio Pai que se dá em seu Filho, feito nossa carne e celebrado nos divinos mistérios, cantado no Ofício e contemplado na oração silenciosa e ainda como nossa participação na comunhão que se traduz em conformidade cada vez maior com Cristo pobre e crucificado. Para que nossas celebrações e nossos ofícios não sejam apenas ritos formais, faz-se necessário que os anteceda e os siga a reconciliação consigo mesmo e com os irmãos como premissa e conclusão de tudo.
O equilíbrio, tanto de Francisco como de Clara, nesse caminho penitencial se manifesta principalmente a respeito dos irmãos e irmãs, mesmo se, pessoalmente, ambos não o souberam realizar em si mesmos. De Francisco lembra-se apenas o episódio do irmão que no meio da noite grita porque está com fome e Francisco faz todo mundo se levantar e que seja feita uma sopa para todos a fim de que o irmão não se envergonhe em comer sozinho (2C 22; LP 1 [CA 50]; EP 27). De Clara cite-se apenas esse trecho da 3ª Carta a Inês de Praga (38-41): “Entretanto, como não temos carne de bronze nem a robustez de uma rocha (Jo 6,12), pois até somos frágeis e inclinadas a toda debilidade corporal, rogo e suplico no Senhor, querida, que deixe, com sabedoria e discrição, essa austeridade exagerada e impossível que eu soube que você empreendeu, para que, vivendo, sua vida seja louvor (cf. Is 38,19; Sir 17,27) do Senhor, e para que preste a seu Senhor um culto racional (cf. Rm 12,1) e seu sacrifício seja sempre temperado com sal (Lv 2,13; Cl 4,6)”.
Por fim, uma palavra sobre a Eucaristia que a Francisco era tão cara porque via nela a realização cotidiana da encarnação do Verbo segundo aquelas maravilhosas palavras da Carta a toda a Ordem (26-29). Em Clara, porém, não se encontra em seus escritos algo parecido a não ser o que se diz nesse capítulo da Regra que as irmãs comunguem por ocasião das festas ali indicadas. Contudo, no Processo (9,10; 2,11; 3,7) encontram-se algumas referências que indicam que a dimensão eucarística já tomara rumos de uma contemplação e comunhão a ponto de se transformar em cotidiano eucarístico, ou melhor, o cotidiano revelava as consequências do viver eucarístico com o Jesus pobre e crucificado.
Fonte - Site Franciscanos da Imaculada Conceição
segunda-feira, 9 de abril de 2012
terça-feira, 3 de abril de 2012
Acolher e ser acolhido. Considerações sobre o capítulo segundo da Regra de Santa Clara

Por Frei Fábio César Gomes
No primeiro capítulo da sua Regra, Clara, em perfeita sintonia com Francisco, define a Forma de Vida das Irmãs Pobres como um “Observar o santo Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo, vivendo em obediência, sem nada de próprio e em castidade” (RSC 1,2; RB 1,2). O capítulo segundo, por sua vez, trata do acolhimento daquelas que desejam assumir esta mesma Forma de Vida, como é dito no próprio título: “Sobre as que quiserem aceitar esta vida e como deverão ser recebidas”.
Clara inicia o capítulo indicando a correta motivação daquela que se apresenta para ingressar na fraternidade: que seja “por inspiração divina” (RSC 2,1) e não por algum outro motivo. De fato, assim como na origem da sua Forma de Vida está aquela visita da graça que levou Francisco a profetizar que em São Damião habitariam senhoras de vida santa (Cfr. TestCl 9-14), também é somente a partir da visita da graça, da inspiração divina que alguém poderá assumi-la. A inspiração divina, porém, não suprime a liberdade humana, mas, a interpela e a solicita. Realmente, além de ser movida “por inspiração divina”, é preciso também que a candidata se apresente “querendo abraçar esta vida” (RSC 2,1), em outras palavras, colocando a própria liberdade à disposição da iniciativa divina.
Dito isso, Clara prossegue tratando de como a candidata deve ser recebida pelas irmãs. Ao determinar que para fazê-lo a abadessa “deverá pedir o consentimento de todas as irmãs” (RSC 2,1), fica evidente que, para ela, o acolhimento na Forma de Vida é tarefa confiada a toda a fraternidade. Tal acolhimento deve ser feito diligentemente. De uma parte, deve ser feito um exame cuidadoso da qualidade da fé da candidata, da sua situação canônica e das suas condições físicas e mentais (Cfr. RSC 3-6). De outra, lhe deve ser “exposto diligentemente o teor de nossa vida” (RSC 2,7) que, como mais adiante Clara recordará, consiste fundamentalmente numa vida “segundo a perfeição do Santo Evangelho” (RSC 6,3). Daí se entende porque a quem foi considerada idônea deverá ser feita a mesma proposta de perfeição feita por Jesus ao jovem rico (Cfr. RSC 2,8; Mt 19,21).
Assim, podemos dizer que, para Clara, uma mesma atitude deve caracterizar tanto quem já ingressou no mosteiro como quem pede para nele ingressar: o acolhimento. Para quem se apresenta, é necessário que queira acolher “esta vida”, a “vida e forma da nossa pobreza” (RSC 2,14). Para quem já assumiu tal forma de vida, é pedido que acolha aquela que chega não de qualquer modo, mas, a partir de um consentimento comum, fruto de um comum discernimento. Trata-se, portanto, de um receber e ser recebido, um acolher e ser acolhido. Receber por inspiração divina a Forma de Vida, ser recebido na obediência (Cfr. RSC 2,14). Acolher a Forma de Vida, ser acolhido na Forma de Vida.
Como ficou evidente, no centro deste capítulo “sobre as que quiserem aceitar esta vida e como deverão ser recebidas”, está a questão do acolhimento vocacional, da qual nos ocupamos bastante nos últimos Fóruns Provinciais, especialmente a propósito da nossa diminuição numérica. Acerca dessa questão, a colocação de Clara nos oferece algumas pistas.
Antes de tudo, ela nos recorda que, na dinâmica vocacional, o primado pertence sempre à graça, à iniciativa divina, à “generosidade do Pai de toda misericórdia” (TestCl 2). Assim, ao propormos sempre de novo a nossa Forma de Vida, não podemos perder de vista que somente a inspiração divina pode dispor os corações a querer abraçá-la. Neste sentido, a tarefa prioritária da pastoral vocacional será sempre a de pedir ao Senhor da messe que inspire e mova os corações. Além disso, dado que a dinâmica vocacional diz sempre respeito a um encontro entre a liberdade da iniciativa divina com a liberdade do querer humano, faz-se necessário compreender a liberdade humana não simplesmente como um dispor-se de si mesmo, mas, como um colocar-se à disposição da divina inspiração.
Além disso, Clara nos ensina que a tarefa do acolhimento e do acompanhamento vocacional não pode ser simplesmente delegada a alguns, mas, diz sempre respeito à “abadessa e suas irmãs” (RSC 2,10), ou seja, a toda a fraternidade. De fato, como apareceu na síntese dos Fóruns, é preciso – também no tocante ao acolhimento e acompanhamento vocacional – desenvolver sempre mais um espírito de corresponsabilidade.
Enfim, Clara insiste nos critérios fundamentais de acolhimento e discernimento vocacionais que deverão ser sempre aqueles ditados pelo “teor de nossa vida”, pelas exigências próprias da nossa Forma de Vida. Tal como Francisco (Cfr. RB 2,6; RnB 2,4), também ela não nos dá o direito de propor aos que querem abraçar esta vida nada menos do que a perfeição do Evangelho, em outras palavras, a radicalidade do seguimento de Jesus Cristo.
Fonte - Site Franciscanos da Imaculada Conceição
segunda-feira, 2 de abril de 2012
Movimentos de Sem Terra fecham rodovias no Triângulo Mineiro
Manifestantes protestam contra morte de três integrantes do MLST Cerca de 500 manifestantes de grupos ligados aos movimentos dos sem-terra e dos sem-teto realizaram, na tarde desta sexta-feira (30), uma manifestação conjunta que gerou o fechamento das entradas de Uberlândia nas quatro rodovias federais que cortam a cidade. Ao todo, as pistas ficaram interditadas entre as 14h e 15h nas rodovias BR-050, no quilômetro 81, sentido Uberaba, BR-452 sentido Araxá, BR-497 sentido Prata e BR-365 próximo ao trevo do bairro Tocantins, zona oeste de Uberlândia. Os manifestantes atravessaram galhos de árvores na pista e atearam fogo. O protesto, de acordo com os integrantes dos movimentos, aconteceram como protesto pela morte de três membros do grupo, mortos no último sábado (24). “Queremos que as autoridades tomem uma providência o mais rápido possível, essas mortes não podem ficar impunes. Temos certeza de que sem-terra, não mata sem-terra”, disse Welligton Marcelino, 27 do Movimento dos Sem-Teto do Brasil (MSTB). Na BR-050, cerca de 300 manifestantes se reuniram na pista. O congestionamento cerca de quatro quilômetros, segundo a Polícia Rodoviária Federal. A Polícia Militar esteve no local e de acordo com o tenente Eduardo Lima, do 17º BPM, nenhuma ocorrência foi registrada nos locais. “Foi uma manifestação pacífica. Eles cooperaram e liberaram a pista quando pedimos”, afirmou. Participaram do protestos membros do Movimento de Libertação dos Sem-Terra (MLST), do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST), do Movimento pela Luta pela Terra (MLT), Movimento Passe Livre (MPL), do Movimento Popular pela Reforma Agrária (MPRA) e do Movimento dos Sem-Teto do Brasil (MSTB). FONTE: Correio de Uberlândia - Frederico Silva
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