domingo, 30 de outubro de 2011

Celebração jubilar interreligiosa do Espírito de Assis por uma cultura de Paz



No dia mundial de oração pela paz! 27 de outubro de 2011, jubileu do Espírito de Assis! As comemorações aqui em Belo Horizonte foram abençoadas!
Umas duzentas pessoas no Parque Municipal, com representantes de Igrejas Evangélicas, Budistas, Espíritas, Candomblé, Hare Krishna. Pela Igreja Católica, Dom Luiz Gonzaga Fecchio. Vários frades, religiosos, religiosas, leigos e leigas, gente de várias religiões acorreram ao Parque Municipal, junto à singela imagem de São Francisco. Nas apresentações artísticas, Grupo Odum Orixá, Cia de Dança Baobá, Frei Chico, Tim da Banda Nêgo Pêgo, Grupo Kizomba, e frei Adelmo com canções franciscanas!
Demos graças a Deus! Permaneçamos unidos na oração pela justiça e pela paz!
Para se ter uma ideia eis como se deu o evento, das 14 às 18 horas:

CELEBRAÇÃO JUBILAR INTER-RELIGIOSA DO ESPÍRITO DE ASSIS POR UMA CULTURA DE PAZ

27 de outubro de 2011 das 14 às 18 horas

Parque Municipal Américo Renné Giannetti – Belo Horizonte – Minas Gerais

Coordenação: Grupo Inter-religioso

Apresentações artísticas e culturais

- Frei Chico: músicas da religiosidade popular.

- Grupo Kizombra (Grupo de capoeira apresentando percussão) – Vítor e Euler

- Apresentação do programa do dia - frei Adelmo (músicas franciscanas)

- Cia de Dança Baobá (grupo de Júnia Bertolino)



Celebração Inter-religiosa:

Abertura: Zélia ofs.

1. Momento das Igrejas Cristãs:

- Introdução: Ir. Márcia, presidente do CONIC-MG (Conselho Nacional de Igrejas Cristãs – Minsa Gerais) . Simbologia: Bíblia (TEB) e Banner do CONIC. Canto: Onde reina o amor, fraterno amor.

- Mensagem da IECLB (Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil) Pastor Geraldo Graf

- Mensagem da IPU (Igreja Presbiteriana Unida) - Pastor Márcio Moreira

- Mensagem da IEAB (Igreja Episcopal Anglicana) Reverendo Bernardino Ovelar

- Mensagem da Igreja Católica Apostólica Romana – Dom Luiz Gonzaga Fecchio. Canto: A Paz esteja conosco. Simbologia: Crucifixo de São Damião, Bandeira da Paz, Círio Pascal. Proclamação do Evangelho Mat. 5, 1-12 (As bem aventuranças). Bênção de Dom Luiz. Canto: Com amor eterno eu te amei.

- Pai Nosso Ecumênico (conclusão do momento cristão)

2. Momento do Candomblé:

- Nação Angola Congo: Tatetu Arabomi

- Nação Ketu: Yalorixá Nilcia de Oxun.

- Nação Gêge Mahin – Noné Sandra

3. Momento do Judaísmo: Mensagem de paz – Suzie Levy

4. Momento do Budismo

- Centro de Budismo Tibetano Chagdud Dawa Drolma – Maurício Godoi

5. Espiritismo: Mensagem de paz – Lucileide do grupo Navi e Leda.

6. Hare Krishna: Mensagem de paz - Narasimhadeva das e Badra.

Encerramento: compromisso de construção da Paz – frei Basílio. Canto: Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz (frei Adelmo). Fotos e cumprimentos de Paz e mais duas apresentações artísticas:

- Tim da Banda Nêgo Pêgo (guitarra)

- Grupo Odum Orixá, começa com coreografia e termina com samba de roda.

Fonte - Site Franciscanos Santa Cruz

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

FAMÍLIA E VOCAÇÂO FRANCISCANA SECULAR


Os franciscanos seculares considerem a família como o âmbito prioritário para viver o próprio compromisso cristão e a vocação franciscana e nela deem espaço à oração, à Palavra de Deus e à catequese, empenhando-se no respeito à vida, desde a concepção, e em qualquer situação, até à morte. (Const. Gerais da OFS, art 24, n.1).
1. Ninguém dúvida que a família seja uma das mais fundamentais e importantes realidades de todas as existências. A artigo da CCGG da OFS acima mencionado fala da família como âmbito, espaço prioritário para os franciscanos seculares. O texto pede que os seculares vivam todas as dimensões da Igreja doméstica que é a família. A Regra pede que vivam em família o espírito de paz, da fidelidade e do respeito pela vida. Que a família dos franciscanos seja, diante dos homens, sinal de um mundo já renovado em Cristo (cf. n. 15). Não estamos diante de um tema secundário, mas prioritário para a vida das fraternidades franciscanas, para a sociedade e para a Igreja. Todas as campanhas que visam destruir e desestabilizar a família deterioram o amanhã da humanidade.
2. Duas observações preliminares para que este texto possa ser bem compreendido. O autor destas linhas tem pleníssima consciência da complexidade cultural, social e religiosa das famílias de hoje. Não é possível, sem mais nem menos, querer rapidamente que nossas famílias se tornem Igrejas domésticas. Há uma decalagem entre o ideal e o que acontece. Essa é a primeira observação. Ao refletir sobre OFS e família não há nenhuma intenção de dogmatizar que nossas Fraternidades devam ser constituídas por casais e famílias. A OFS não é um grupo familiar. Sabemos disto. É uma escola de santificação aberta a todos.
3. O último Capitulo Nacional da OFS de Manaus pediu que, no triênio em curso, se prestasse atenção na ação missionária dos seculares. Falou-se da elaboração de um programa de ação missionária que viesse também a contemplar a atuação nas famílias, células primeiras da transformação do mundo... Porque o futuro da humanidade passa pela família, no dizer do Papa João Paulo e porque os seculares franciscanos precisam priorizar a família, fazemos algumas considerações que nos parecem oportunas visando irmãos em geral, mas de modo particular a atuação dos assistentes no seio de nossas Fraternidades. Cabe a estes fazer com que as Fraternidades tenham preocupações eclesiais.
4. As pessoas resolvem ser franciscanas seculares por vocação. Há todo um período de discernimento, de formação, de vivência numa fraternidade antes da profissão. Há um duplo movimento: os que são chamados a seguir Francisco no mundo se reúnem em fraternidades, mas logo em seguida são reenvidados ao mundo. Um rapaz, uma moça, um homem e uma mulher fazem parte de uma família. Ali eles serão franciscanos: a busca incessante do rosto de Deus, uma vida despojada e alegre cantando as glórias do Senhor, evangelizando, de alguma forma, a própria família. Não posso imaginar um franciscano secular sem apreço, carinho, devotamento, dedicação à própria família. Isso se traduz numa alegria de viver à mesa com os seus, de passar, pelo modo de ser, a alegria da simplicidade e da pobreza, o distanciamento de toda ostentação, mesmo contrariando membros da família. Não me parece normal que uma senhora, por exemplo, faça sua profissão, seu jubileu de prata na OFS sem que isto tenha nenhum significado para seu marido, seus filhos e seus familiares. Por isso sonho, sonho mesmo, que em muitas Fraternidades haja casados que caminhem juntos, que os dois construam uma família franciscana. Sonho com Fraternidades que tenham a criatividade e a decisão de fazer encontros com os familiares. Não é possível que anos a fio essas reuniões das Fraternidades ignorem as famílias. Filhos, irmãos, pais dos seculares precisam ser estimados pelos irmãos da Fraternidade.
5. Bom seria, muito bom seria, se marido e mulher fossem franciscanos seculares. “Os casados encontram na Regra da OFS um valioso auxílio para percorrer o caminho da vida cristã, conscientes de que, no sacramento do matrimônio, o seu mútuo amor participa do amor que Cristo tem pela Igreja. O amor dos esposos e a afirmação do valor da fidelidade são um profundo testemunho para a própria família, para a Igreja e para o mundo” (CCGG 24,1). Pode mesmo acontecer que a esposa de um terceiro ou o marido de uma senhora terceira não tenha vocação para a OFS. Nada de forçar seu ingresso. Mas ele ou ela poderiam ser simpatizantes e participar eventualmente das reuniões. Em minhas visitas tenho visto alguns casos desses. Eles me encantam.
6. A reunião da Fraternidade será marcada por temas familiares. Não posso me privar à alegria de transcrever luminosas orientações dadas pelas CCGG da OFS e que deveriam ser aprofundadas e incentivadas por todos os conselhos locais. Penso que um assistente poderia implementar e incentivar o que aparece aí.

Na Fraternidade: - que seja tema de diálogo e de partilha, de experiência a espiritualidade familiar e conjugal e a abordagem cristã dos problemas familiares; - partilhem-se os momentos da vida familiar dos co-irmãos e demonstre-se atenção fraterna com aqueles – solteiros, viúvos, pais sós, separados, divorciados – que vivem em situações e condições difíceis; - criem-se condições para o diálogo entre grupos de diferentes gerações;- seja favorecida a formação de grupos de casais e de grupos familiares (Art 24, n. 2). Sonho que os Conselhos locais incentivem a formação de grupos de famílias com forte presença de casais franciscanos. Temos que renovar. Temos que tornar sólidas as famílias. Não podemos ignorar o assunto.
7. Na Igreja do Brasil, em nossos dias, tenta-se organizar a Pastoral Familiar em nível diocesano e paroquial. Como seria bom se casais franciscanos, com seu jeito despojado, verdadeiro, leal, fraterno, simples, acolhedor, dialogante, pudessem ser líderes dessa pastoral! Não fomos convocados para sermos restauradores da Igreja, como Francisco? Por vezes, tendo trabalho quase duas décadas com a Pastoral Familiar em todos os cantos do país, penso que a Pastoral ganharia muito com agentes evangelicamente qualificados como são os franciscanos seculares. Se fizermos isso nada estaremos fazendo senão seguir os ditames das CCGG: “Os irmãos colaborem com os esforços que se envidam na Igreja e na sociedade para a firmar o valor da fidelidade e do respeito pela vida e para dar resposta aos problemas sociais da família” (Art 24, 3).
Concluindo
Nossas Fraternidades Franciscanas Seculares precisam se reinventar. O amanhã está sendo apontado pelo Espirito, que é a alma da Igreja e Ministro Geral dos franciscanos. As reflexões sobre a família poderão nos sugerir caminhos novos. Ou será que me engano?
(*) Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM
Assistente Nacional da OFS pela OFM e Assistente Regional do Sudeste III

Fonte - Site da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil

O Espírito de Assis faz morada no Convento São Francisco

Por Moacir Beggo
O Ato Inter-religioso realizado neste 27 de outubro de 2011, no centenário Convento São Francisco, em São Paulo, mostrou com todas as letras que o encontro realizado em Assis, há 25 anos, deixou uma cultura de paz para a humanidade. Ver o presbitério da igreja do Convento tomado por treze lideranças das mais diferentes crenças, religiões e fé foi emocionante. Ao som do trompete do músico José Eduardo Pimentel, o Duda, teve início a procissão das lideranças presentes neste ato.
Com a saudação franciscana de "Paz e Bem", o guardião do Convento, Frei Salésio Hillesheim, que representou o Ministro Provincial Frei Fidêncio Vanboemmel, acolheu a todos, lembrando que o momento era muito mais do que histórico. "É um momento humano. A paz e a justiça não são questões meramente religiosas, mas são da nossa sobrevivência neste nosso mundo e nosso planeta", disse Frei Salésio.
Enquanto em Assis, o Papa Bento XVI renovava o compromisso pela paz, reunindo líderes mundiais, o Definidor da Província da Imaculada Conceição, Frei Mário Tagliari, dava início à celebração no Convento São Francisco, apresentando cada representante das religiões presente no altar: Márcio Henrique de Souza Ramos, representante Curimba Filhos de Umbanda, uma associação dentro da Umbanda; Afonso Moreira Junior, representando a Federação Espírita do Estado de São Paulo; Reverendo Kazuya Nagashima, budista Risho Kossei-Kai do Brasil; Gustavo Pinto, budista da Terra Pura; Monja Coen Sensei é missionária oficial da tradição Soto Shu - Zen Budismo; Shaikh Ahmad Mazloum, da Liga da Juventude Islâmica no Brasil; Sheikh Mohamad Al Bukai, da Liga da Juventude Islâmica do Brasil; Rabino Ruben Sternschein, Congregação Israelita Paulista; Pastor Matthias Tolsdorf, da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil; Reverendo Herbert Rodrigues de Souza, pastor da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil;João Kaimbé, representante do povo Kaimbé de São Paulo; Reverendo Leandro Antunes Campos, da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil; e Dom Edmar Peron, bispo auxiliar da Arquidiocese de São Paulo e vigário episcopal da Região de Belém.
Em seguida, teve início os pronunciamentos, sempre intercalados com as belíssimas apresentações musicais das crianças que formam o Grupo Flautista da Liberdade, do Centro Comunitário de Acolhimento da Liberdade, dirigido pela Irmã Miriam Simon, franciscana de Ingolstadt.
Acompanhe os principais trechos dos pronunciamentos:
Márcio Henrique de Souza Ramos, representante Curimba Filhos de Umbanda
Márcio Henrique de Souza Ramos, representante Curimba Filhos de Umbanda
"Se estamos aqui reunidos, temos de buscar essa paz dentro da gente. Ninguém dá o que não tem. Se não estivermos em paz, o que poderemos dar então? Temos que buscar essa paz dentro de nós mesmos. Gandhi já falava 'nós temos que ser a mudança que queremos ver no mundo'. Sou professor. Trabalhei de manhã, cheguei suado aqui, como é próprio de nossa vida atribulada. Mas o mais gratificante para mim é estar com todos aqui, ou quase todas as representações religiosas, porque eu respeito a todas por igual, porque somos a somatória de todas. E o que mais me gratifica é ver as crianças aqui nos bancos da frente. A verdadeira paz vai estar nas mãos delas. E se a gente não souber cultivar essa paz nas mãos dessas crianças, não teremos futuro. Graças a Deus esse futuro está sentado aqui na frente. Um grande axé para todos os presentes!"
Afonso Moreira Junior, representante
da Federação Espírita do
Estado de São Paulo
Afonso Moreira Junior, representante da Federação Espírita do Estado de São Paulo
"Em primeiro lugar, queria agradecer a Igreja Católica que nos acolhe com tanto carinho, com tanto respeito. E a nós, religiosos, através de várias vertentes aqui presentes. E tenham certeza: essa união não é apenas na aparência, mas na sua essência. Pois todos estão aqui irmanados pelo mesmo propósito: trazer a sua modesta contribuição para que a paz se instale na terra. No "Livro dos Espíritos", de Alan Kardec, encontramos Jesus Cristo, o Messias, como nosso modelo e guia. Se houve na Terra alguém que seguiu seus passos de perto, despojando-se de tudo, vencendo o amor próprio, deixando tudo para trás, esse alguém foi certamente o Pobrezinho da Úmbria: Francisco de Assis, que reverenciamos nesta parte, não com o intuito de adoração, pois adoramos a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos, mas colocamos o Pobrezinho de Assis, nosso irmão querido, como modelo, exemplo, próximo de nós. Que possamos no nosso dia a dia, no nosso local de trabalho, pelas ruas da cidade, levarmos a paz estampada em nossa face. Que sejamos, nesta casa de Deus, um pouquinho de luz, transmitindo onde quer que estejamos a paz dos nossos corações, a partir é claro de nossos próprios lares. Muita paz!"
Reverendo Kazuya Nagashima, budista Risho Kossei-Kai do Brasil
Reverendo Kazuya Nagashima,
budista Risho Kossei-Kai do Brasil

Na ocasião do grande terremoto que abadou o nordeste do Japão, nós recebemos muito apoio, tanto físico como espiritual, dos católicos e só temos de agradecer profundamente. O terremoto, seguido do tsunami, acrescido do acidente nuclear, deixou marcas profundas nas regiões atingidas, mas ao mesmo tempo se observa que tem aumentado o número de pessoas que querem servir ao próximo, apesar de eles próprios se encontrarem em meio às dificuldades. Tem surgido pessoas que procuram uma nova maneira de viver. A missão dos religiosos deve ser de acreditar nessa luz que se aloja no profundo dessas almas, apoiar essas pessoas e poder guiá-las. Acrescento que as palavras de São Francisco de Assis, na Oração pela Paz, novamente vibraram no coração antes de querer ser consolado que eu console, antes de querer ser compreendido, que compreenda; antes de querer ser amado, que ame; que conceda o poder de fazer isso.

A propósito, qual será o conteúdo da oração pela paz? Nós compreendemos que a oração leva à ação, mas não quero que haja equívocos. A ação dos religiosos não é chamar uma ação que recorra à força. Acredito que ação dos religiosos é sentir Deus e Buda no profundo da alma das pessoas. Ajudar a colocar para fora a luz que se aloja no profundo da alma de todas as pessoas. Em outras palavras, é criar pessoas de paz. Um a um com cuidado e com respeito.

Acredito que a paz individual leva à paz no lar; a paz no lar leva a paz na sociedade; por sua vez a paz na sociedade leva a paz no país e a paz no país leva a paz ao mundo. Mesmo que esse caminho seja longo. Quero aproveitar a oportunidade de fazer mais uma vez, como religioso que sou, a promessa de ir criando pessoas de paz!"
Gustavo Pinto, budista da Terra Pura
Gustavo Pinto, budista da Terra Pura.
"Quero, em primeiro lugar, agradecer ao convite de nossos irmãos católicos que nos estenderam a mão para que estivéssemos todos aqui, reunidos, para o nosso testemunho de paz. Pertencemos a famílias diferentes, mas estamos unidos como irmãos. Os irmãos não são idênticos. Cada um tem a sua identidade. Mas são todos filhos do mesmo pai. E essa luz infinita, que abençoa igualmente a todos nós, independente de credo, de cor, de raça. É essa luz, que abrindo os nossos corações, poderemos no amor, reconhecer que recebemos a paz do céu, para podermos compartilhá-la na terra. Recordo as palavras de Santo Agostinho: "Ama e faze o que quiseres". Se o amor guiar os nossos corações, haverá paz em toda parte. Amar é construir a paz!"
Monja Coen Sensei é missionária oficial da tradição Soto Shu
Monja Coen Sensei é missionária oficial da tradição Soto Shu Zen Budismo com sede no Japão e é a Primaz Fundadora da Comunidade Zen Budista, criada em 2001, com sede em Pacaembu.
"Nós estamos aqui, juntos, porque acreditamos na construção de uma cultura de paz. Nós vimos de uma cultura de violência. Futebol, paz no futebol; paz no esporte; paz na vida, na casa. Você briga com sua filha, com sua sogra? Como que fala com seus filhos, com seus vizinhos? A paz não é uma ausência da guerra. É uma coisa que se cultiva no coração. Um coração que reconhece o outro com um aspecto de mim mesmo. É o nós que se manifesta. Não é o eu separado. Não há uma misericórdia separada, de cima para baixo, dentro da visão budista. Mas somos um só corpo e uma só vida com tudo que existe. Irmão Sol Irmã Lua, irmãos com toda grande natureza. Porque agora, se nós não nos unirmos e não trabalharmos juntos, não haverá condição de vida amanhã no planeta. E nós gostamos de viver, não gostamos? Não é boa a vida humana, com seus altos e baixos? Nascimento, velhice, doença e morte? Que bom! Quem é nesta vida que não vai envelhecer? É gostoso envelhecer. O cabelinho fica branco, fica mais difícil as coisas, mas o coração fica mais terno, mais macio, como o fruto que banhado pelo sol quente da sabedoria suprema amadurece o doce e agradável de ser colhido. Esse o coração. Não é o outro e eu. Mas o nós, juntos, construindo, nunca batalhando, nunca lutando, mas construindo uma cultura de paz, de justiça e cura na terra. Como disse Dalai Lama, aqui em São Paulo, não somos nós que vamos dar respostas mas fazemos perguntas. Espero que todos nós, juntos possamos fazer hoje o compromisso de cultivarmos no coração a cultura da paz".
Shaikh Ahmad Mazloum, da Liga da Juventude Islâmica no Brasil, com sede no Pari.
Sheikh Mohamad Al Bukai, da Liga da Juventude Islâmica do Brasil
Shaikh Ahmad Mazloum, da Liga da Juventude Islâmica no Brasil, com sede no Pari.
"Pedimos a paz de Deus e bênção para todos aqueles que enviou como misericórdia para toda a humanidade. Enviou a Noé, a Abraão, a Moisés, a Jesus e a Mohamad. O mulçumano quando fala de paz tem como fonte o livro no qual ele crê. Vocês não devem conhecer muito, mas o muçulmano crê que Deus revelou à humanidade diversas mensagens no decorrer da história, cada qual no seu tempo, na sua época. O muçulmano respeita o Evangelho e, como respeita o Evangelho, crê em outro livro posterior, que é o Alcorão. E Alcorão foi revelado a Mohamad, assim como o Evangelho foi revelado a Jesus. Então, que mensagens de paz nós temos nesses livros? A misericórdia é representada com a paz que cultivamos entre nós. E aí a mensagem, quando estabelecida para o ser humano, é para o bem dele. E uma diretriz básica da paz para o mulçumano, é esta: 'Deus disse ao Profeta, ao Mensageiro: não te enviamos senão como misericórdia para a humanidade'. Não te enviamos para a guerra, para amedrontar as pessoas, mas sim para cultivar a paz. Nós, todos aqui, temos crenças diferentes, e exatamente por isso estamos reunidos aqui a convite das entidades católicas e agradecemos a eles por essa iniciativa. Lembramos hoje a Francisco de Assis, que abandonou o reino dessa vida para o reino da vida eterna, para buscar a paz para os pobres, os menos favorecidos. Então, devemos lembrar dele. Devemos lembrar o que significa estarmos reunidos aqui. Se acredito de forma diferente do meu irmão, que segue outra fé, crença ou religião, a minha fé me ordena que eu cultive a paz, que eu busque entender qual é a crença dele e dialogar com ele. A paz, como já disseram aqui, não é só não guerrear, mas significa ter o dom de dialogar, de conversar, de abrir os corações, seguindo assim aquilo que é diretriz: não te enviamos senão por misericórdia à humanidade. Mohamad foi enviado como misericórdia, Jesus foi enviado como misericórdia, Moisés é outra misericórdia. Parece que o ser humano precisa renovar essa misericórdia sempre. Por isso, milhares foram enviados para isso. Então, desejo que a paz de Deus esteja com todos aqui presentes, com todas as pessoas que buscam incentivar a paz para os seres humanos, sejam eles pessoas que buscam a paz ou sejam eles diferentes, que têm ideias e crenças diferentes, aqueles que ainda não buscam essa paz e tolerância. Que Deus coloque em seus corações a paz e a tolerância, a misericórdia que o Evangelho e o Alcorão falam. A paz esteja convosco!
Sheikh Mohamad Al Bukai, da Liga da Juventude Islâmica do Brasil
Eu saúdo todos vocês em com nossa saudação: Salamaleque: que a paz de Deus esteja com vocês!
Rabino Ruben Sternschein, Congregação Israelita Paulista
Rabino Ruben Sternschein, Congregação Israelita Paulista
"Saúdo a todos vocês com nosso tradicional ‘Shalom’. Normalmente ouvimos que a paz precisa de concessões, de renúncias. Mas em hebraico, a língua da tradição religiosa que represento, diz-se 'shalom', que significa algo completo, pleno. No passado e hoje, pergunta-se "como está a sua paz?". Qual é o estado de sua paz? Porque acreditamos que o estado natural para a paz muitas vezes se altera e é responsabilidade de todos devolvê-la. Por isso, o salmo 34, que dividimos com a tradição cristã e com todos que compartilham a Bíblia, diz que aquele que ama a vida e ama o bem é aquele que persegue a paz. Não só adere, quer a paz. Mas persegue a paz e a busca todos os dias. A paz, irmãos e irmãs, é algo que deve ser feito não apenas com o próximo, mas também com o distante, com quem está afastado. Com o diferente. Por isso, o profeta diz: "Paz, paz, para o distante, para o próximo". Esse é o grande desejo. Nós acreditamos que a divindade, qualquer divindade, é paz, harmonia, plenitude. Por isso, em nossas frases, acabamos sempre com uma frase que chama a Deus, aquele que faz a paz nas alturas. Ou seja, aquele que faz a paz no alto. E pedimos que faça a paz aqui embaixo. Eu proponho hoje, no Espírito de Assis, no nosso diálogo fraterno, termos a coragem de invertermos os termos: em vez de invocarmos Deus para que faça paz nas alturas, pedirmos faça paz aqui embaixo".
Pastor Matthias Tolsdorf, da
Igreja Evangélica de Confissão
Luterana no Brasil
Pastor Matthias Tolsdorf, da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil
"Um sou um pastor alemão, mas não mordo (risos)... Refletir sobre a paz, estando inserido nesta cidade de São Paulo, em que nós somos marcados pela ansiedade por uma paz, pela preocupação com a segurança pública, com a nossa integridade física, talvez por isso, o tema escolhido por minha igreja para reflexão de todas as comunidades luteranas: "Paz na criação de Deus". A paz é um presente de Deus, que na nossa compreensão temos que tornar concreto. É uma promessa de Deus que temos de tornar visível e palpável no nosso cotidiano. Quando eu visito famílias, que pertencem a nossa comunidade, percebo uma falta de paz justamente ligada a divergências religiosas. Muitas vezes até disputa religiosa, para não chamar uma batalha, dentro de uma mesma família, impossibilitando a convivência entre as pessoas. Fico sempre muito triste quando vejo isso. E por isso todos vocês, que demonstram interesse pela paz, deveriam sair daqui como formadores de opinião, com o compromisso de se engajarem pela paz no meio onde vivem. É trabalho árduo, mas recompensador".
Reverendo Herbert Rodrigues de Souza, pastor da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil.
Reverendo Herbert Rodrigues de Souza, pastor da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil.
"Quando se pensa sobre a paz, acho que devemos ir um pouco além de discursos. A fala é importante, mas a fala só toca o nosso intelecto e é preciso tocar principalmente o nosso coração. E já que o tema é para uma cultura de paz, quando se fala de uma cultura, vamos além de pensamentos, mas estamos pensando também em ações, sistemas, modo de vida, modo de visão. Lembro de uma expressão que está no Evangelho: aquilo que não gostaria que fizessem com você, não faça com os outros. Quando se pensa a paz nessa perspectiva, vamos além de pensamentos. Vamos além de falas e discursos. Assim começamos a promover a paz, não só através de gestos, mas de ações concretas. Por isso, precisamos pensar a paz também em outra perspectiva: quando se trata daquele que é diferente de nós. Já que queremos falar de paz em todos os âmbitos, onde começa a intolerância dentro de nós? Como é que vejo aquele que é diferente na cor da pele? Como é que encaro aquele que tem a orientação sexual diferente da minha? Como é aquele que torce para o outro time? Se queremos promover a paz, precisamos pensar nessas perspectivas, pensar nessas pequenas coisas que fazem parte do nosso dia a dia. E quando, então, nos propomos a viver a paz, vamos diminuir o grau de intolerância, vamos nos abrir uns aos outros. A paz esteja conosco!"
João Kaimbé, representante do
povo Kaimbé de São Paulo
João Kaimbé, representante do povo Kaimbé de São Paulo
"Os índios hoje no Brasil não têm paz. Por isso, me sinto muito honrado de estar aqui com vocês. Aqui em São Paulo há oito mil índios, que sofrem discriminação de todo o tipo. Por isso deixo aqui o meu protesto e vou passar para os meus parentes buscarem a paz".
Reverendo Leandro Antunes Campos, da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil e participo do Diálogo Inter-religioso das Igreja Católica Romana e Anglicana.
Reverendo Leandro Antunes Campos, da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil e participo do Diálogo Inter-religioso das Igreja Católica Romana e Anglicana.
"O caminho da paz é a gente que faz'. Ao meditar sobre essa frase e torná-la oração, me veio à mente a passagem de São Paulo aos Coríntios, quando fala que vai ensinar um caminho que é o mais excelente de todos os caminhos. E começa aquele hino ao amor. É importante refletir sobre o amor. O próprio apóstolo João fala que Deus é amor. E se sabemos viver plenamente o amor, então posso dizer que Deus está em você, porque Deus é amor. Essa é uma grande afirmação de fé. E, com coragem, respondemos a essa afirmação quando deixamos o amor de Deus habitar em nós e transformar radicalmente as nossas vidas e as nossas relações, sejam elas pessoais ou políticos. É preciso deixar se transformar pelo amor de Deus. O amor não se alegra com a injustiça. O amor folga em alegria com quem é justo, com quem fala a verdade, com quem vive a paz".
Dom Edmar Peron, bispo auxiliar da Arquidiocese de São Paulo e vigário episcopal da Região de Belém
Dom Edmar Peron, bispo auxiliar da Arquidiocese de São Paulo e vigário episcopal da Região de Belém
"Caros representantes das famílias religiosas e da comunidade franciscana que nos acolhe. Queridos irmãos e irmãs, com a palavra do apóstolo Paulo saúdo a todos: que a graça e a paz de Deus estejam com vocês!.

Nosso encontro é profecia e não se restringe ao nosso grupo reunido, mas se alarga pelo mundo inteiro. Colocam-se como 'Peregrinos da verdade, peregrinos da paz'. Trago a vocês também as saudações de Dom Odilo Pedro Scherer, cardeal arcebispo de São Paulo, que não podendo estar aqui, pediu que viesse a esse encontro, que é profecia da comunhão entre nossos irmãos e irmãs. O 'Creio' dos cristãos professa ser Deus o Pai, o Criador de tudo que vemos e daquilo que não enxergamos. Essa fé encontra suas raízes já na experiência do povo de Israel e, no entanto, tu és o nosso Pai. Nós somos a argila, e tu o nosso leito. Todos nós somos obras de tuas mãos. Assim, a fraternidade que reina entre nós, membros de diferentes confissões religiosas, profetizam ao mundo que somos filhos e irmãos. Somos todos uma família. Nosso encontro é profecia daquele mundo novo em que a paz insiste em renascer a cada dia sob o sol da esperança, que faz o povo das ruas sorrir e a roseira florir, como diz o canto. Esse mundo novo construído de pequenos gestos em favor da vida, manifestado na indignação dos jovens, nos gestos de cuidado para com o morador de rua, para com uma criança, um idoso, na nascente manifestação contra a corrupção que vimos no dia 12 de outubro ou na acolhida de quem chega a São Paulo procurando melhores condições para viver. Enfim, os sonhos e as realidades nos conduzem, e devem ainda mais conduzir a ações criativas e concretas. Aquelas que já são cotidianamente realizadas e muitas outras novas iniciativas que poderão ainda surgir. É preciso sonhar, para realizar esses gestos de fraternidade, de justiça e, portanto, de paz. A paz esteja com vocês!"
Fonte - Site da Provincia Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil

sábado, 22 de outubro de 2011

Frei Galvão


        
    Frei Antônio de Sant'Anna Galvão, filho de pais piedosos  e  cuja família era reconhecida por sua grande caridade para com os pobres, nasceu em 1739 em Guaratinguetá, Estado de São Paulo, cidade situada bem próxima ao Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, tendo sido batizado com o nome de Antônio Galvão de França.
                                                   Viveu sua infância em meio à riqueza,  já que seu pai Antônio Galvão de França, como imigrante português,  era o capitão-mor da cidade, gozando de plenas regalias políticas e de situação econômica privilegiada.  A mãe, por sua vez,  era descendente de Fernão Dias Pais Leme, de linhagem nobre e  famoso desbravador dos sertões do Brasil por ocasião das expedições dos bandeirantes.  
                                                  Os pais, preocupados em zelar pela esmerada educação dos filhos, matricularam Frei Galvão no Colégio de Belém,  que era administrado pelos padres da companhia de Jesus, onde já encontrava-se um de seus irmãos, de nome José. Era o ano de 1752 e Antônio Galvão tinha  treze anos de idade quando ingressou no Colégio. Lá permaneceu por quatro anos, onde aprendeu ciências humanas ao mesmo tempo que aprofundou-se nas verdades divinas.  Ao final desse período, manifestou ao pai o desejo de abraçar a vida religiosa. O próprio pai aconselhou-o a ingressar no convento dos franciscanos,   já que havia um convento em Taubaté, não muito distante da sua terra, Guaratinguetá.  E foi assim que Frei Galvão iniciou sua jornada, renunciando a todo o conforto das riquezas e influência social, para dedicar-se exclusivamente ao serviço de Deus.  
                                                   Aos 21 anos de idade,  fez o noviciado na Vila de Macacu,  Rio de Janeiro,  onde os confrades já percebiam o desabrochar da piedade e conduta exemplar que carregava consigo desde o tempo da infância. Em 1761 professou os  votos solenes e somente um ano depois,  por reconhecida sabedoria e já proclamadas virtudes,  recebeu o sacramento da Ordem.  Mesmo ordenado sacerdote,  optou por dar continuidade aos seus estudos de filosofia e teologia no Convento de São Francisco, em São Paulo. Após formar-se assumiu, respectivamente, os cargos de pregador, confessor dos leigos e  também porteiro do convento.  
                                                   Distinguiu-se pela dedicação incansável ao sacramento da Penitência.  Fazia parte da sua rotina não só atender às pessoas que lhe procuravam no convento para confessar-se,  mas percorria caminhos extremamente longos a pé, para atender confissão dos fiéis nos mais longínquos rincões da cidade.  Tal dedicação fez com que seus superiores o nomeassem confessor de um recolhimento de piedosas mulheres,  em São Paulo.  Foi lá que encontrou-se com a Irmã Helena Maria do Espírito Santo,  religiosa de profunda oração e que lhe confidenciara que o próprio Jesus lhe revelara o pedido de fundar oficialmente um novo Recolhimento.  Após analisar, ouvir o parecer de pessoas sábias e esclarecidas no clero,  Frei Galvão considerou válidas as visões de Irmã Helena.  Assim, em 1774 fundou oficialmente o Recolhimento das "Recolhidas de Santa Teresa". 
                                                   Um ano depois, Madre Helena teve morte repentina e Frei Galvão tornou-se a única referência espiritual das Recolhidas, trabalho que exerceu com grande zelo e humildade.  Como crescesse vertiginosamente o número de vocacionadas,  Frei Galvão dedicou-se por quatorze anos não só cuidando da ampliação do Recolhimento, mas também na construção da Igreja,  inaugurada em 15 de agosto de 1802.  Foi o próprio frade quem arquitetou e empreendeu a edificação,  trabalhando como mestre de obras e  como pedreiro. 
                                                   Só em 1929, porém,  que este Recolhimento viria a  transformar-se no Recolhimento de Nossa Senhora da  Conceição, que deu origem a outros nove mosteiros, os quais tem Frei Galvão como fundador e guia.  Daí o nome "Mosteiro das Concepcionistas", ou mais conhecido popularmente como "Mosteiro da Luz", sendo este o mesmo prédio projetado e construído pelo fundador.  
                                                   Foi  filho fiel, consagrado e devotíssimo à Santíssima Virgem Maria, entregando-se a uma vida austera, de freqüentes orações e duras penitências, ornadas com diligente caridade ao  próximo.  Como orientador espiritual das Recolhidas,  prescreveu-lhes estatutos próprios,  dando às mulheres diretrizes evangélicas marcadas pela caridade, oração, pobreza total, intensa penitência e amor fidelíssimo a Nossa Senhora.   Constam, nesses  inscritos de Frei Galvão:  
"A padroeira é Maria Santíssima Senhora Nossa" 
"As casas  religiosas são casas de abundantes penalidades onde se  alcança a coroa de um prolongado martírio". 
"Cédula irrevogável de filial entrega a Maria Santíssima, minha Senhora".
                                                   Era um franciscano simples que, normalmente no silêncio noturno, costumava aliviar os pobres em suas necessidades materiais e espirituais.   Os doentes lhe procuravam freqüentemente,  pois a ocasião não era propícia para tratamentos médicos adequados, tanto pela falta de recursos financeiros como pela limitação científica da época.  
                                                  Numa dessas ocasiões,  um jovem que padecia de dores renais violentíssimas lhe procurou, pois, diante da grave enfermidade já vislumbrava a  face da morte aproximando-se em passo acelerado.  Foi quando o santo frade,  tomando às mãos pena e papel, escreveu uma frase em latim do Ofício de Nossa Senhora.  Enrolou-o em forma de pílula e pediu ao jovem enfermo que a tomasse. Tão logo ingeriu a pílula, as dores cessaram e segundos  depois,  expeliu um grande cálculo.  Ainda em meio a esse  milagre,  um senhor chegou ao local suplicando orações  e que lhe desse qualquer remédio para a mulher que, naquele momento,  sofria de sérias  complicações de parto.  Frei Galvão fez outra pilulazinha semelhante à primeira pediu que a levasse à esposa. Logo que a tomou, a criança nasceu,  sem qualquer tipo de complicação para a mãe e para o filho.

                                                  A partir disso o poder milagroso das pílulas de Frei Galvão espalhou-se pela região e tantas pessoas dirigiam-se ao local que teve que ensinar as Irmãs do Recolhimento a confeccioná-las e dar às pessoas necessitadas, o que elas fazem até hoje.  Curiosamente, na imensa relação de graças alcançadas por intercessão de Frei Galvão junto ao Mosteiro da Luz,  embora 60 a 70% das curas estejam relacionadas a cura do câncer, grande parte refere-se a curas de cálculos renais, gravidez, parto e também de casais que,  não conseguindo ter filhos, foram atendidos.
                                                  Frei Galvão foi beatificado pelo Papa João Paulo II em 25 de outubro de 1998. Na manhã de 23 de fevereiro de 2007, na Sala do Consistório do Palácio Apostólico, o Papa Bento XVI anunciou a canonização de cinco beatos, dentre eles, Frei Galvão, nascido em Guaratinguetá/SP.  A cerimônia foi realizada no dia 11 de maio de 2007 no Campo de Marte e presidida pelo Santo Padre em visita ao Brasil por ocasião da V Conferência Geral do Conselho Episcopal Latino Americano e do Caribe, esta no Santuário Nacional de Aparecida.  Com essa canonização,  Frei Galvão é o primeiro brasileiro nato a receber a honra dos altares.  Faleceu em 23 de dezembro de 1822. Seu corpo repousa na igreja do Recolhimento da Luz, que ele mesmo construiu e  é local de contínuas e fervorosas peregrinações. Lá também encontra-se sepultado o corpo da co-fundadora Irmã Helena Maria do Espírito Santo. 
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sexta-feira, 21 de outubro de 2011

OS QUE PERMANECEM E OS QUE SE AFASTAM


Presenças e ausências na Ordem Franciscana Secular
Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM (*)
1. Terminado o tempo da formação inicial numa fraternidade OFS, o candidato pede ao Ministro da Fraternidade Local para emitir a profissão. Este é um ato eclesial pelo qual o dito candidato, lembrado do chamamento recebido de Cristo, renova as promessas batismais e afirma publicamente o compromisso de viver o Evangelho no mundo. Essa profissão que incorpora o candidato à Ordem é um compromisso perpétuo (cf.  CCGG  OFS, art. 41-42). Não pode, sem mais, ser deixada de lado. Sublinhamos a palavracompromisso.
2. Na vida é importante escolher, saber escolher, escolher bem. Há escolhas pequenas e outras que constituem orientações fundamentais de vida, projetos existenciais que resolvemos assumir. Assim, uma pessoa escolhe o casamento e a vida familiar. As melhores energias que pulsam na vida de um homem e de uma mulher se dirigem para esse projeto, assumido interiormente e, exteriormente celebrado  com uma palavra dada, um sim proferido, primeiro no coração e depois diante de outros. Importante essa palavra dada.  Alguém assume, como médico por exemplo, a missão de curar, sanar os doentes.  A quebra desse compromisso implica no aparecimento de um profundo mal-estar interior. Não houve fidelidade a uma promessa livremente assumida e o desrespeito à palavra dada provoca desorganização interior quase sempre grave.
3. Muitos irmãos e irmãs da OFS são de uma fidelidade exemplar, modelar. Fazem-se presentes nas reuniões, justificam suas ausências devido  a compromissos familiares e sociais ou por questão de caridade familiar.  Encantam-nos esses irmãos que aceitam os serviços e trabalhos no Conselho das Fraternidades, até com dificuldades e sacrificando parte do tempo que poderia consagrar à pastoral, à família ou simplesmente a um merecido descanso. Muitos irmãos, mesmo não pertencendo ao Conselho, fazem-se presentes na vida dos doentes e se interessam pelos ausentes. Mais importante do que tudo  é sua simples presença. Quando chegam, os outros irmãos experimentam alegria.  Sua ausência é sentida.  Sua presença fala, grita, anima, entusiasma, encoraja.
4. Na realidade, o que conta mesmo é a qualidade da presença. De que adianta estar com os irmãos, quando alguém não se exprime, não colabora, não inventa a caridade. Tristezas, decepções e aborrecimentos fiquem de lado quando estivermos na Fraternidade. Francisco queria os frades tristes se retirassem para a cela e só voltassem à presença dos outros quando tivessem  expulsado de suas vidas o demônio da tristeza.
5. Há os irmãos que se tornam ausentes devido a uma certa desmotivação, mas conservam laços com a Fraternidade. Precisam fazer um retiro, buscar nova motivação, reencontrar a fonte de onde brotara sua vocação.  Ministros e Assistentes existem para animar e buscar esses seres bons, mas fragilizados. Em principio não correm o risco de abandonar o caminho encetado.  Precisam ser corrigidos fraternalmente.  Há certos irmãos e irmãs que  “são afastados” devido a injunções de ordem moral.  Penso aqui nos casos previstos pelo Artigo 84 das CCGG.  Nesta reflexão não me refiro nem a uns nem a outros.
6Muitas vezes ouvimos dizer que irmãos ou irmãs, através de uma carta, “pedem afastamento” da Fraternidade. O que significa isso? Os que professam fazem um compromisso perpétuo. Circunstâncias da vida podem fazer com que um irmão, devido a compromissos profissionais, passe a viver numa cidade onde não há Fraternidade da OFS.  Compreende-se um tal “afastamento”.  Não está ele desligado, desvinculado da Ordem, não rompeu a promessa. Vive uma situação de impossibilidade de viver as reuniões e a prática da vida de uma Fraternidade, mas continua franciscano. Sofre por não poderem  se encontrar. Sente, no coração, uma saudade.  Continua, mesmo sem o respaldo de uma fraternidade concreta, compromissado com a Regra e a vivência do Evangelho, franciscanamente, no dia-a-dia. Não se trata de um afastamento radical.
7. Compreende-se que alguém, devido a uma viagem mais prolongada, escreva uma carta justificando previamente suas ausências, dando as razões de um afastamento temporário.  Quando tiver terminado o tempo da viagem, ele volta a viver com os irmãos. Não houve rigorosamente um afastamento. Uma pessoa que precisa cuidar de um parente doente não tem condições de estar sempre presente.  Ela faz saber o fato.  Não tem sentido pedir afastamento. Tal pessoa comparecerá quando puder. Uma coisa é justificar a ausência,  expor as razões pelas quais não pode aceitar um serviço no Conselho e outra o fugir...
8Sim, pode ser que muitas dessas cartas de pedido de afastamento sejam simplesmente um atestado de desmotivação, fuga de situações conflitivas na Fraternidade, desculpa para não fazer o esforço que deveria ser feito para viver o Evangelho.  Essa questão do “afastamento”  não pode ser olhada somente sob o ângulo jurídico. Há situações em que vidas humana votadas a Deus tiram parte da oferenda feita com ardor.
9Por que alguém pode chegar a essa situação de pedir o “afastamento” , que neste caso seria uma demissão?
  • talvez a pessoa não tenha vocação para esse caminho e assim mesmo tenha feito a profissão;
  • nem sempre os formadores são pessoas preparadas para preparar história para o passo tão nobre da profissão;
  • ressentimentos vividos na Fraternidade, falta de empenho de buscar a reconciliação, desavenças com membros do conselho, susceptibilidades  levam alguns a pedirem afastamento;
  • em sua biografia pessoal não houve uma busca sincera do Senhor e nunca aprendeu a administrar o negativo da vida e, consequentemente, não soube carregar com Cristo a cruz de todos os dias.
10. Muitos dos problemas  vividos em nossas Fraternidades têm sua origem  no tempo da formação. As orientações oferecidas pelas Constituições Gerais para o tempo da formação valem para todos os tempos da vida.  “Os candidatos sejam orientados para a leitura e para a mediação das Sagradas Escrituras, para o conhecimento da pessoa e dos escritos de São Francisco  e  para a espiritualidade franciscana, para o estudo da Regra e das Constituições. Sejam educados no amor à Igreja e na aceitação de seu magistério. Os leigos exercitem-se a viver numa forma  evangélica o  compromisso  temporal no mundo.
(*) Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM
Assistente Nacional da OFS pela OFM e Assistente Regional do Sudeste III

Fonte - Site da Provincia Franciscana da Imaculada Conceição

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Encontro do 6º distrito da região sudeste 1 da OFS


Aconteceu dia 16 em Araguari - MG o encontro de nosso distrito da OFS com momentos de muita oração, confraternização com participação de nossos irmãos Frei Elpidio, Frei Rodrigo que é nosso assistente, Frei Ezimar delegado provincial da Fundação Nossa Senhora de Fátima, nosso animador distrital Duvaldo Amancio e todas as fraternidades do triangulo mineiro e terminando com um lindo passeio no bosque da cidade.
















terça-feira, 11 de outubro de 2011

Deixar-se corrigir pelos que nos ama


"Bem-aventurado o servo que, repreendido, benignamente aquiesce, com modéstia se submete, humildemente se confessa e de boa vontade faz reparação” (Admoestação XXII, 2).

1. Os humildes seguidores de Cristo deixam-se corrigir pelos que os amam, bem como por aqueles que não os amam tanto. Esta é uma das grandes características de Francisco. Estamos diante da postura do que é humilde. Os franciscanos desejam viver santamente. Para isso fazem profissão de busca da santidade. Ora, os irmãos de todos os dias e aqueles que Deus nos coloca como nossos orientadores nos ajudam a corrigir a rota. Fazem a caridade de não deixar que” venhamos a nos extraviar, literalmente, andar fora do caminho. Estamos diante do tema delicado da correção fraterna. Felizes aqueles que, ao longo de sua vida, tiveram verdadeiros anjos que lhes deram o presente da atenção carinhosa no sentido de corrigirem a rota da vida. Uns e outros têm fortes chances de glória futura.
2. A correção fraterna é manifestação de bem-querer. O amor entre os irmãos se concretiza de muitos modos: presença física, oração, ajuda nos momentos de necessidade, respeito por sua opinião, paciência com o outro e sua promoção. Quando numa comunidade desaparece o interesse de uns pelos outros, quando se instaura o indiferentismo, o salve-se-quem-puder, a vida se torna difícil e as pessoas não atingem sua meta de santidade.
3. Os pais, os professores, cada um em seu âmbito, alertarão filhos e alunos no sentido de que não deixem de ser profundamente honestos, tenham caráter, respeitem o que é dos outros, cultivem a coerência e sejam atentos à voz da consciência. Assim agindo, os “superiores” realizam sua missão de educadores: alertam e, quando necessário, repreendem. Se não corrigirem estarão impedindo que filhos e alunos sejam pessoas de valor. O mesmo se fale entre nós: o ministro ajuda o irmão a se corrigir e os irmãos se entre ajudam para que nenhum venha a se perder. Temas para a correção fraterna: negligência séria na vida de oração, falta de afeto para com a fraternidade, posturas de negligência, falta de generosidade, disseminação da discórdia. Isto e muito mais será objeto de exortação e correção.
4. Os responsáveis pelo vigor da vida cristã numa comunidade paroquial, no seio de uma fraternidade de vida consagrada ou em grupamentos de busca da perfeição evangélica no meio do mundo servir-se-ão de diferentes meios: a palavra de exortação na reunião ou no encontro do grupo, proposição de um pôr em comum ou correção fraterna num momento de revisão de vida ou num encontro de oração da fraternidade.
5. Os responsáveis por levar adiante a vitalidade de um grupo não poderão se omitir. Haverão de fazê-lo com firmeza, mas com delicadeza. Nunca o pecado do irmão pode ser anunciado aos quatro ventos. Este merece respeito à boa fama. A intenção do “superior” será a da salvação da alma do irmão. Seria lamentável se um irmão viesse a se perder por falta de energia do ministro. Normalmente correções de rota mais delicadas serão feitas em sigilo, sem que outras pessoas fiquem sabendo.
6. Há a correção de irmão para irmão, de dois em dois, ou num pequeno grupo, que só poderá ser feita quando se tiver certeza da falta. Em todos esses casos será fundamental a postura de humildade do irmão em receber a correção e de quem a faz. O texto de Francisco fala: Bem-aventurado o servo que suporta correção, acusação e repreensão com paciência. A postura de humildade, mesmo quando o irmão é injustiçado com a correção, é típica do franciscano.
O irmão acusado tem todo o direito de defesa. Jesus mesmo interpelou seus algozes: “Por que me bates?” O irmão que tende à santidade, no entanto, mesmo tendo o direito de exigir a verdade, lá no fundo do coração, aceita este momento de humilhação, unindo-se a Cristo Jesus. Francisco continua sua exortação: “Bem aventurado o servo que não é rápido para se escusar e humildemente suporta a vergonha e repreensão por causa do pecado, embora não tenha cometido culpa”.
7. Coloquemos em destaque os pontos que Francisco enfatiza: bem-aventurado o irmão que acolhe a repreensão com benignidade; aquele que com modéstia se submete e que humildemente reconhece seu pecado mesmo corando de vergonha; aquele que muda de vida e faz reparação.
8. Na realidade, a correção fraterna é uma das grandes graças de nossa vida. Felizes aqueles que souberam, ao longo do tempo da vida, reorientar seu comportamento e assim se tenham aproximado de Cristo Jesus, em sua humildade e submissão.
Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM
Extraído do Site da Ordem Franciscana Secular do Brasil

O Tau Franciscano

Há certos sinais que revelam uma escolha de vida. O TAU, um dos mais famosos símbolos franciscanos, hoje está presente no peito das pessoas num cordão, num broche, enfeitando paredes numa escultura expressiva de madeira, num pôster ou pintura. Que escolha de vida revela o TAU? Ele é um símbolo antigo, misterioso e vital que recorda tempo e eternidade. A grande busca do humano querendo tocar sempre o divino e este vindo expressar-se na condição humana. Horizontalidade e verticalidade. As duas linhas: Céu e Terra! Temos o símbolo do TAU riscado nas cavernas do humano primitivo. Nos objetos do Faraó Achenaton no antigo Egito e na arte da civilização Maia. Francisco de Assis o atualizou e imortalizou. Não criou o TAU, mas o herdou como um símbolo seu de busca do Divino e Salvação Universal.

TAU, SINAL BÍBLICO
Existe somente um texto bíblico que menciona explicitamente o TAU, última letra do alfabeto hebraico, Ezequiel 9, 1-7: "Passa pela cidade, por Jerusalém, e marca com um TAU a fronte dos homens que gemem e choram por todas as práticas abomináveis que se cometem". O TAU é a mais antiga grafia em forma de cruz. Na Bíblia é usado como ato de assinalar. Marcar com um sinal é muito familiar na Bíblia. Assinalar significa lacrar, fechar dentro de um segredo, uma ação. É confirmar um testemunho e comprometer aquele que possui o segredo. O TAU é selo de Deus; significa estar sob o domínio do Senhor, é a garantia de ser reconhecido por Ele e ter a sua proteção. É segurança e redenção, voltar-se para o Divino, sopro criador animando nossa vida como aspiração e inspiração.

O TAU NA IDADE MÉDIA
Vimos o significado salvífico que a letra hebraica do TAU recebe na Bíblia. Mas o TAU tem também um significado extrabíblico, bastante divulgado na Idade Média: perfeição, meta, finalidade última, santo propósito, vitória, ponto de equilíbrio entre forças contrárias. A sua linha vertical significa o superior, o espiritual, o absoluto, o celeste. A sua linha horizontal lembra a expansão da terra, o material, a carne. O TAU lembra a imagem do sustentáculo da serpente bíblica: clavada numa estaca como sinal da vitória sobre a morte. Uma vitória mística, isto é, nascer para uma vida superior perfeita e acabada. É cruz vitoriosa, perfeição, salvação, exorcismo. Um poder sobre as forças hostis, um talismã de fé, um amuleto de esperança usado por gente devota sensível.

O TAU DO PENITENTE
Francisco de Assis viveu em um ambiente no qual o TAU estava carregado de uma grande riqueza simbólica e tradicional. Assumiu para si a marca do TAU como sinal de sua conversão e da dura batalha que travou para vencer-se. Não era tão fácil para o jovem renunciar seus sonhos de cavalaria para chegar ao despojamento do Crucificado que o fascinou. Escolhe ser um cavaleiro penitente: eliminar os excessos, os vícios e viver a transparência simples das virtudes. Na sua luta interior chegou a uma vitória interior. Um homem que viveu a solidão e o desafio da comunhão fraterna; que viveu o silêncio e a canção universal das criaturas; que experimentou incompreensão e sucesso, que vestiu o hábito da penitência, que atraiu vidas, encontrou um modo de marcar as paredes de Santa Maria Madalena em Fontecolombo, de assinar cartas com este sinal. De lembrar a todos que o Senhor nos possui e nos salva sob o signo do TAU.

O TAU FRANCISCANO
O TAU franciscano atravessa oito séculos sendo usado e apreciado. É a materialização de uma intuição. Francisco de Assis é um humano que se move bem no universo dos símbolos. O que é o TAU franciscano? É Verdade, Palavra, Luz, Poder e Força da mente direcionada para um grande bem. Significa lutar e discernir o verdadeiro e o falso. É curar e vivificar. É eliminar o erro, a mentira e todo o elemento discordante que nega a paz. É unidade e reconciliação. Francisco de Assis está penetrado e iluminado, apaixonado e informado pela Palavra de Deus, a Palavra da Verdade. É um batalhador incansável da Paz, o Profeta da Harmonia e Simplicidade. É a encarnação do discernimento: pobre no material, vencedor no espiritual. Marcou-se com este sinal da luz, vida e sabedoria.

O TAU COMO IDEAL
No mês de novembro de 1215, o Papa Inocêncio III presidia um Concílio na Igreja Constantiniana de Roma. Lá estavam presentes 1.200 prelados, 412 bipos, 800 abades e priores. Entre os participantes estavam São Domingos e São Francisco. Na sessão inaugural do Concílio, no dia 11 de novembro, o Papa falou com energia, apresentou um projeto de reforma para uma Igreja ferida pela heresia, pelo clero imerso no luxo e no poder temporal. Então, o Papa Inocêncio III recordou e lançou novamente o signo do TAU de Ezequiel 9, 1-7. Queria honrar novamente a cristandade com um projeto eclesial de motivação e superação. Era preciso uma reforma de costumes. Uma vida vivida numa dimensão missionária mais vigorosa sob o dinamismo de uma contínua conversão pessoal. São Francisco saiu do Concílio disposto a aceitar a convocação papal e andou marcando os irmãos com o TAU, vibrante de cuidado, ternura e misericórdia aprendida de seu Senhor.

TAU NAS FONTES FRANCISCANAS
Os biógrafos franciscanos nos dão testemunhos da importância que São Francisco dava ao TAU: "O Santo venerava com grande afeto este sinal", "O sinal do TAU era preferido sobre qualquer outro sinal", "O recomendava, freqüentemente, em suas palavras e o traçava com as próprias mãos no rodapé das breves cartas que escrevia, como se todo o seu cuidado fosse gravar o sinal do TAU, segundo o dito profético, sobre as fontes dos homens que gemem e lutam, convertidamente a Jesus", "O traçava no início de todas as suas ações", "Com ele selava as cartas e marcava as paredes das pequenas celas" (cf. LM 4,9; 2,9; 3Cel 3). Assim Francisco vestia-se da túnica e do TAU na total investidura de um ideal que abriu muitos caminhos.

TAU, SINAL DA CRUZ VITORIOSA
Cruz não é morte nem finitude, mas é força transformante; é radicalidade de um Amor capaz de tudo, até de morrer pelo que se ama. O TAU, conhecido como a Cruz Franciscana, lembra para nós esta deslumbrante plenitude da Beleza divina: amor e paz. O Deus da Cruz é um Deus vivo, que se entrega seguro e serenamente à mais bela oferenda de Amor. Para São Francisco, o TAU lembra a missão do Senhor: reconciliadora e configuradora, sinal de salvação e de imortalidade; o TAU é uma fonte da mística franciscana da cruz: quem mais ama, mais sofre, porque muito ama, mais salva. Um poeta dos primeiros tempos do franciscanismo conta no "Sacrum Comercium", a entrega do sinal do TAU à Dama Pobreza pelo Senhor Ressuscitado, que o chama de "selo do reino dos céus". À Dama Pobreza clamam os menores: "Eia, pois, Senhora, tem compaixão de nós e marca-nos com o sinal da tua graça!" (SC 21,22).

O TAU E A BÊNÇÃO
Francisco se apropriou da bênção deuteronômica, transcreveu-a com o próprio punho e deu a Frei Leão: "Que o Senhor te abençoe e te guarde. Que o Senhor mostre a tua face e se compadeça de ti. Que o Senhor volva o teu rosto para ti e te dê a paz. Irmão Leão; o Senhor te abençoe!" Sob o texto da bênção, o próprio Frei Leão fez a seguinte anotação: "São Francisco escreveu esta bênção para mim, Irmão Leão, com seu próprio punho e letra, e do mesmo modo fez a letra TAU como base". Assim, Francisco, num profundo momento de comunicação divina, com delicadeza paternal e maternal, abençoa seu filho, irmão, amigo e confidente. Abençoar é marcar com a presença, é transmitir energias que vêm da profundidade da vida. O Senhor te abençoe!

O TAU E A CURA DOS ENFERMOS
No relato de alguns milagres, conta-se que Francisco fazia o sinal da cruz sobre a parte enferma dos doentes. Após ter recebido os estigmas no Monte Alverne, Francisco traz em seu corpo as marcas do Senhor Crucificado e Ressuscitado. Marcado pelo Senhor, imprime a marca do Senhor que salva em tudo o que faz. Conta-nos um trecho das Fontes Franciscanas que um enfermo padecia de fortes dores; invoca Francisco e o santo lhe aparece e diz que veio para responder ao seu chamado, que traz o remédio para curá-lo. Em seguida, toca-lhe no lugar da dor com um pequeno bastão arrematado com o sinal do TAU, que traz consigo. O enfermo ficou curado e permaneceu em sua pele, no lugar da dor, o sinal do TAU (cf. 3Cel159). O Senhor identifica-se com o sofrimento de seu povo. Toma a paixão do humano e do mundo sobre si. Afasta a dor e deixa o sinal de Amor.

A COR DO TAU
O TAU, freqüentemente, é reproduzido em madeira, mas quando, pintado, sempre vem com a cor vermelha. O Mestre Nicolau Verdun, num quadro do século XII, representa o Anjo Exterminador que passa enquanto um israelita marca sobre a porta de sua casa um TAU com o Sangue do Cordeiro Pascal que se derrama num cálice. O Vermelho representa o sangue do Cordeiro que se imola para salvar. Sangue do Salvador, cálice da vida! Em Fontecolombo, Francisco deixou o TAU grafado em vermelho. O TAU pintado na casula de Frei Leão no mural de Greccio também é vermelho. O pergaminho escrito para Frei Leão no Monte Alverne, marca em vermelho o Tau que assina a bênção. O Vermelho é símbolo da vida que transcende, porque se imola pelos outros. Caminho de configuração com Jesus Crucificado para nascer na manhã da Ressurreição.

O TAU NA LINGUAGEM
O TAU é a última letra do alfabeto judaico e a décima nona letra do alfabeto grego. Não está aí por acaso; um código de linguagem reflete a vivência das palavras. O mundo judaico e, conseqüentemente, a linguagem bíblica mostram a busca do transcendente. É preciso colocar o Deus da Vida como centro da história. É a nossa verticalidade, isto é, o nosso voltar-se para o Alto. O mundo grego nos ensinou a pensar e perguntar pelo sentido da vida, do humano e das coisas. Descobrir o significado de tudo é pisar melhor o chão, saber enraizar-se. É a nossa horizontalidade. A Teologia e a Filosofia são servas da fé e do pensamento. Quem sabe onde está parte para vôos mais altos. É como o galho de pessegueiro, cortado em forma de tau é usado para buscar veios d'água. Ele vibra quando a fonte aparece cheia de energia. Coloquemos o tau na fonte de nossas palavras!

O TAU, O CORDÃO E OS TRÊS NÓS
Em geral, o Tau pendurado no pescoço por um cordão com três nós. Esse cordão significa o elo que une a forma de nossa vida. O fio condutor do Evangelho. A síntese da Boa Nova são os três conselhos evangélicos=obediência, pobreza, pureza de coração. Obediência significa acolhida para escutar o valor maior. Quem abre os sentidos para perceber o maior e o melhor não tem medo de obedecer e mostra lealdade a um grande projeto. Pobreza não é categoria econômica de quem não tem, mas é valor de quem sabe colocar tudo em comum. Ser pobre, no sentido bíblico-franciscano, é a coragem da partilha. Ser puro de coração é ser transparente, casto, verdadeiro. É revelar o melhor de si. Os três nós significam que o obediente é fiel a seus princípios; o pobre vive na gratuidade da convivência; o casto cuida da beleza do seu coração e de seus afetos. Tudo isto está no Tau da existência!

USAR O TAU É LEMBRAR O SENHOR
Muita gente usa o Tau. Não é um amuleto, mas um sacramental que nos recorda um caminho de salvação que vai sendo feito ao seguir, progressivamente, o Evangelho. Usar o TAU é colocar a vida no dinamismo da conversão: Cada dia devo me abandonar na Graça do Senhor, ser um reconciliado com toda a criatura, saudar a todos com a Paz e o Bem. Usar o TAU é configurar-se com aquele que um dia ilumina as trevas do nosso coração para levar-nos à caridade perfeita. Usar o TAU é transformar a vida pela Simplicidade, pela Luz e pelo Amor. É exigência de missão e serviço aos outros, porque o próprio Senhor se fez servo até a morte e morte de Cruz.

Por Frei Vitório Mazzuco, OFM
Extraído do Site da Ordem Franciscana Secular do Brasil

Crucifixo de São Damião

O Crucifixo de São Damião foi pintado no século XII por um desconhecido artista da Úmbria, região da Itália.

A pintura é de estilo romântico, sob clara influência oriental: o pedestal sobre o qual estão os pés de Cristo pregados separadamente; e de influência siríaca: a barba de Cristo; a face circundada pelo emoldurado dos cabelos; a presença dos anjos e cruz com a longa haste segurada na mão, por Cristo (só visível na pintura original), no alto, encimando a cruz.

O Crucifixo original de São Damião está guardado com grande zelo pelas irmãs Clarissas, na Basílica de Santa Clara de Assis, e é visitado por estudiosos, devotos e turistas do mundo todo. É um monumento histórico franciscano e universal.

Outros dados
Sem o pedestal, o Crucifixo original mede dois metros e dez centímetros de altura e um metro e trinta centímetros de largura.A pintura foi feita em tela tosca, colada sobre madeira de nogueira.Naquele tempo, nas pequenas igrejas, o Santíssimo não era conservado, isto é, a Eucaristia não era guardada mas, consumida no dia. Por isso, supõe-se que Crucifixo foi pendurado no ábside sobre o altar da capela, no centro da Igreja.

Provavelmente o Crucifixo permaneceu na Igreja de São Damião até que as Irmãs Pobres, em 1257, o levaram consigo à nova Basílica de Santa Clara. Guardaram-no no interior do coro monástico por diversos séculos. No ano de 1938, a artista Rosária Alliano restaurou o Crucifixo com grande perícia, protegendo-o inclusive contra qualquer deterioração.

Desde 1958 ele está sobre o altar, ao lado da capela do Santíssimo, na Basílica de Santa Clara, protegido por vidro.

Descrição detalhada da pintura
Descobre-se, à primeira vista, a figura central do Cristo, que domina o quadro pela sua imponente dimensão e pela luz que sua esplêndida e branca figura difunde sobre todas as pessoas que o circundam e que estão todas vivamente voltadas para Ele. Esta luz vivificante que brota do interior de sua Pessoa (Jo, 8,12) fica ainda mais destacada pelas fortes cores, especialmente o vermelho e o preto.

Também impressiona este Cristo ereto sobre a cruz e não pendurado nela, com os olhos abertos, olhando o mundo.

Apresenta ainda uma auréola de glória com a cruz triunfante oriental em vez de uma coroa de espinhos, porque tornou-se vitorioso na paixão e na morte.

Aparecem os sinais de crucificação e as feridas sangrentas mas o sangue redentor se derrama sobre os anjos e santos (sangue das mãos e dos pés) e sobre São João (sangue do lado direito).

Cristo se apresenta vivo, ressuscitado (Jo 12,32), de pé sobre o sepulcro vazio e aberto (indicado pela cor preta), visível por trás. Com as mãos estendidas, Cristo está para subir ao céu (Jo 12,32).

A inscrição acima da cabeça de Cristo, "Jesus Nazarenus Rex Judaeorum" Jesus Nazareno Rei dos Judeus é também própria do Evangelho de João.

Sobre a inscrição, está a ascensão em forma dinâmica, na figura do Cristo ascendente, com o troféu da cruz gloriosa na mão esquerda (só visível na pintura original) e com a mão direita para a mão do Pai, no céu.

Do alto, a mão direita do Pai acolhe o seu Filho, circundado dos anjos (e santos) na glória celeste.

As cores vermelha e púrpura são símbolos do divino; o verde e o azul, do terrestre. Para "ver" bem o conjunto da pintura, deve-se realmente parar diante do Crucifixo pois, ordinariamente, olha-se a imagem somente, de longe, como "turistas".

À direita do corpo de Cristo, aparecem as figuras de Maria e João, intimamente unidas, enquanto Maria indica o discípulo predileto com a mão direita (Jo 19,26). À esquerda, estão as duas mulheres, Maria Madalena e Maria de Cléofas, primeiras testemunhas da ressurreição (Jo 19,25).

E, embora Maria, à direita e Maria Madalena, à esquerda, ergam a mão direita no rosto em sinal de dor, nenhuma das outras pessoas próximas, manifesta expressão de sofrimento profundo mas uma adesão cheia de fé ao Cristo vitorioso, Salvador.

À direita das duas mulheres vê-se o centurião com a mão erguida, olhando para o Crucifixo. Com esse gesto está a dizer: "Verdadeiramente este é o Filho de Deus".

Sobre os ombros do centurião aparece a cabeça de uma pessoa em miniatura, cuja identidade se discute: poderia ser o filho do centurião, curado por Jesus (Jo 4,50) ou um representante da multidão ou ainda, o autor desconhecido da pintura.

Aos pés de Maria e do centurião, vê-se o soldado chamado Longino que, pela tradição, com a lança traspassa o lado de Jesus e, o portador da esponja, chamado de Estepatão, segundo a tradição (Jo 19,29). Ambos estão voltados para o Crucifixo.

Debaixo das mãos de Jesus, à direita e à esquerda, encontram-se dois anjos com as mãos erguidas, em intenso colóquio. Parecem anunciar a ressurreição e ascensão do Senhor.

As duas pessoas, à extrema direita e esquerda, parecem anjos ou talvez mulheres que acorrem ao sepulcro vazio.

Aos pés de Jesus a pintura original encontra-se muito deteriorada. É provável que seja: São Damião, São Rufino, São João Batista, São Pedro e São Paulo. Acima da cabeça de São Pedro, está a figura do galo (só visível na pintura original), a lembrar a negação de Pedro a Cristo (Jo 13,38; 18, 15-27).

As pessoas aos pés de Jesus têm a cabeça erguida para o alto, expressando a espera do retorno glorioso do Senhor, no juízo.

Deste Crucifixo descrito em detalhes, Francisco teve uma inspiração "decisiva" para a sua vida, diz Caetano Esser. Passamos a descrevê-la porque é deste fato que se originou a admiração que hoje temos ao Crucifixo de São Damião.

O Crucifixo fala a Francisco
O jovem Francisco encontrava-se numa crise espiritual, cheio de dúvidas e trevas. "Conduzido pelo Espírito", entra na igrejinha de São Damião, onde se prostra, súplice, diante do Crucifixo. Tocado de modo extraordinário pela graça divina, encontra-se totalmente transformado. É então que a imagem de Cristo Crucificado lhe fala: "Francisco, vai e repara minha casa que está em ruína".

Francisco fica cheio de admiração e "quase perde os sentidos diante destas palavras". Mas logo se dispõe a cumprir esse "mandato" e se entrega todo à obra, reconstruindo a igrejinha. Depois pede a um sacerdote, dando-lhe dinheiro, que providencie óleo e lamparina para que a imagem do Crucifixo não fique privada de luz, mas em destaque naquele santuário.A partir de então, nunca se esqueceu de cuidar daquela igrejinha e daquela imagem.

Francisco parecia intimamente ferido de amor para o Cristo Crucificado, participando da paixão do Senhor, de quem já trazia os estigmas no coração e mais tarde, em 1224, receberia as chagas do Cristo em seu próprio corpo.Segundo Santa Clara, está visão do Crucifixo foi um êxtase de amor radiante e impulso decisivo para a conversão de Francisco.

Entre os estudiosos ainda existe uma dúvida a ser esclarecida: ao ouvir o Cristo do Crucifixo, Francisco pensa na igrejinha material de São Damião. Mas nada impede de se pensar que se trata do "templo de Cristo no coração de Francisco e nos corações dos homens".

Enfim, a própria oração de Francisco diante do Crucifixo de São Damião sugere antes a reparação "espiritual" da casa do Senhor, crucificado no coração.Tanto que ele pede especialmente pelas três virtudes teologais (fé, esperança e amor) para poder cumprir esse "mandato" de Cristo.

Por Frei Vitório Mazzuco
Extraído do Site da Ordem Franciscana Secular do Brasil

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Festa de São Francisco

Toda a fraternidade se fez presente na Paróquia de Santo Antônio para rezar e comemorar o dia de nosso Seráfico Pai São Francisco de Assis.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Feliz dia de São Francisco


Francisco deixou tudo por amor ao Pai. Ele foi a resposta para muitos sobre a pobreza, obediência e castidade. Ele vivenciou o santo evangelho e em 1224 no monte alverne recebeu as cinco chagas do Senhor. Com 44 anos deitado no chão depois de ouvir a paixão do senhor através do evangelho segundo São João juntamente com a irmã morte ele se lançou na eternidade. Comemoramos este dia tão especial na perfeita alegria e no amor que sua vida anunciou.