terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Apoio Franciscano a Dom Pedro Casaldáglia

Irmãos e irmãs da Família Franciscana de Minas Gerais

Estamos encaminhado a vocês esta nota de solidariedade ao nosso irmão e profeta, D. Pedro Casaldaliga. Em nome da Coordenação da Família Franciscana de Minas Gerais, peço que vocês divulguem, discutam o texto e apoiem nossos irmãos Xavante que por direito, devem voltar para suas terras. Podemos enviar nosso apoio para o CIMI, Conselho Indigenista Missionário.
Em Cristo,
PAZ E BEM
Zelia Castilho


 

Nota de solidariedade a Dom Pedro Casaldáliga
Ao se aproximar a desintrusão da Terra Indígena Marãiwatsèdè, após mais de 20 anos de invasão, quando os não indígenas estão para ser retirados desta área, multiplicam-se as manifestações de fazendeiros, políticos e dos próprios meios de comunicação contra a ação da justiça.
Neste momento de desespero, uma das pessoas mais visadas pelos invasores e pelos que os defendem é Dom Pedro Casaldáliga, bispo emérito de São Félix do Araguaia, a quem estão querendo, irresponsável e inescrupulosamente, imputar a responsabilidade pela demarcação da área Xavante nas terras do Posto da Mata.
As entidades que assinam esta nota querem externar sua mais irrestrita solidariedade a Dom Pedro. Desde o momento em que pisou este chão do Araguaia e mais precisamente, desde a hora em que foi sagrado bispo da Prelazia de São Félix do Araguaia, sua ação sempre se pautou na defesa dos interesses dos mais pobres, os povos indígenas, os posseiros e os peões. Todos sabem que Dom Pedro e a Prelazia sempre deram apoio a todas as ocupações de terra pelos posseiros e sem terra e como estas ocupações foram o suporte que possibilitou a criação da maior parte dos municípios da região.
Em relação à terra indígena Marãiwatsèdè, dos Xavante, os primeiros moradores da região nas décadas de 1930, 40 e 50 são testemunhas da presença dos indígenas na região e como eles perambulavam por toda ela. Foi com a chegada das empresas agropecuárias, na década de 1960, com apoio do governo militar, que a Suiá Missu se estabeleceu nas proximidades de uma das aldeias e até mesmo conseguiu o apoio do Serviço de Proteção ao Indio para se ver livre da presença dos indígenas. A imprensa nacional noticiou a retirada de 289 xavante da região os quais foram transportados em aviões da FAB, em 1966, para a aldeia de São Marcos, no município de Barra do Garças.
Em 1992, a AGIP, empresa italiana que tinha comprado a Suiá Missu das mãos da família Ometto, quis se desfazer destas terras. Por ocasião da ECO-92, sob pressão inclusive internacional, a empresa destinou 165.000 hectares para os Xavante que, durante todo este tempo, sonhavam em voltar à terra de onde tinham sido arrancados. Imediatamente fazendeiros e políticos da região fizeram uma grande campanha para ocupar a área que fora reservada aos Xavante, precisamente para impedir que os mesmos retornassem. Já no dia 20 de junho de 1992, algumas áreas tinham sido ocupadas e foi feita uma reunião no Posto da Mata, da qual participaram políticos de São Félix do Araguaia e de Alto Boa Vista e também havia repórteres. A reunião foi toda gravada. As falas deixam mais do que claro que a invasão da área era exatamente para impedir a volta dos Xavante. “Se a população achou por bem tomar conta dessa terra em vez de dá-la para os índios, nós temos que dar esse respaldo para o povo” (José Antônio de Almeida – Bau, prefeito de São Félix do Araguaia). “A finalidade dessa reunião é tentarmos organizar mais os posseiros que estão dentro da área... Se for colocar índio no seu habitat natural, tem que mandar índio lá para Jacareacanga, ou Amazonas, ou Pará...” (Osmar Kalil – Mazim, candidato a prefeito do Alto Boa Vista). “Nós ajudamos até todos os posseiros daqui serem localizados... Chegou a um ponto, ou nós ou eles (os Xavante)porque nós temos o direito... Dizer que aqui tem muito índio? Aqueles que estão preocupados com os índios que tem que assentar. Tem um monte de país que não tem índio. Pode levar a metade... Na Itália tem índio? Não, não tem! Leva! Leva pra lá! Carrega pra lá! Agora, não vem jogar em nós, não... ( Filemon Costa Limoeiro, à época funcionário do Fórum de São Félix do Araguaia)
A área reservada aos Xavante foi toda ocupada por fazendeiros, políticos e comerciantes. Muitos pequenos foram incentivados e apoiados a ocupar algumas pequenas áreas para dar cobertura aos grandes. O governo da República, porém estava agindo e logo, em 1993, declarou a área como Terra Indígena que foi demarcada e, em 1998 homologada pelo presidente FHC. Só agora é que a justiça está reconhecendo de maneira definitiva o direito maior dos índios. O que D. Pedro sempre pediu, em relação a esta terra, foi que os pequenos que entraram enganados, fossem assentados em outras terras da Reformas Agrária. Mas o que se vê é que, ontem como hoje, os pequenos continuam sendo massa de manobra nas mãos dos grandes e dos políticos na tentativa de não se garantir aos povos indígenas um direito que lhes é reconhecido pela Constituição Brasileira.
Mais uma vez, queremos manifestar nossa solidariedade a Dom Pedro e denunciar mais esta mentira de parte daqueles que tentam eximir-se da sua responsabilidade sobre a situação de sofrimento, tensão e ameaça de violência que eles mesmos criaram, jogando esta responsabilidade sobre os ombros de nosso bispo emérito.
5 de dezembro de 2012
Conselho Indigenista Missionário – CIMI - Brasilia
Comissão Pastoral da Terra – CPT - Goiânia
Escritório de Direitos Humanos da Prelazia de São Félix do Araguaia – São Félix do Araguaia
Associação de Educação e Assistência Social Nossa Senhora da Assunção – ANSA – São Félix do Araguaia
Instituto Humana Raça Fêmina – Inhurafe – São Félix do Araguaia
Associação Terra Viva – Porto Alegre do Norte
Associação Alvorada – Vila Rica
Associação de Artesanato Arte Nossa – São Félix do Araguaia
Grupo de Pesquisa Movimentos Sociais e Educação - GPMSE - Cuiabá
Associação Brasileira de Homeopatia Popular – ABHP - Cuiabá
Fórum de Direitos Humanos e da Terra de Mato Grosso - FDHT - Cuiabá
Centro Burnier Fé e Justiça – CBFJ - Cuiabá
Fórum Matogrossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento – FORMAD - Cuiabá
Instituto Caracol – ICARACOL - Cuiabá
Rede de Educação Ambiental de Mato Grosso – REMTEA - Cuiabá

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

A fé religiosa e a prevenção de doenças

Frei Almir Ribeiro Guimarães, Ofm

A revista “Veja” de 10 de outubro de 2012 publicou entrevista com o psiquiatra americano Harold G. Koenig. O médico afirma que as diferentes formas de religiosidade podem ser relacionadas com a prevenção de doenças cardiovasculares e hipertensão. A “espiritualidade” ajuda o ser humano a ter saúde.
Leigos, religiosos e sacerdotes temos a ver com a realidade da doença grave e da iminência da morte. Esse momento da passagem, precedido por uma enfermidade mais ou menos longa é sempre delicado. Vemos hoje, nas congregações religiosas, tanto masculinas como femininas, casas que são preparadas com recursos para abrigar doentes gravemente doentes e pessoas muito envelhecidas. A religião, de modo particular a fé cristã, não é terapia individual ou grupal. Os seguidores das religiões querem, antes de tudo, prestar um delicado culto de homenagem Deus de toda beleza e de toda generosidade. Ao lado do “amarás o Senhor de todo o teu coração, de toda a tua mente e de toda tua alma e ao próximo como a ti mesmo”, Harold G. Koenig afirma, no entanto, que há uma relação significativa entre frequência da prática religiosa, boa saúde e longevidade.
Três fatores influenciam a saúde de quem pratica a religião. O primeiro deles é o significado que essas crenças atribuem à vida. Elas orientam decisões diárias, o que contribui para evitar o stress. O segundo fator está ligado ao apoio social. As pessoas convivem com comunidades que acreditam nas mesmas verdades e oferecem suporte emocional e, por vezes, mesmo financeiro. O terceiro elemento é a influência que a religião tem na formação de hábitos saudáveis. Os religiosos tendem a ingerir menos álcool e quase sempre têm tendência a não fumar. Bem provavelmente não assumirão comportamento sexual de risco. Não manterão relações com vários parceiros. Tudo isso faz com que vivam mais, tenham mais saúde.
Segundo Koenig, uma pessoa que, desde a infância e adolescência, pratica uma fé tem grandes benefícios. Perguntado a respeito dos efeitos positivos em alguém que começa a prática a fé em idade adulta, respondeu: “Quem se torna religioso numa idade mais madura também se beneficia, especialmente dos aspectos psicológicos e sociais, a pessoa ganha apoio da comunidade, esperança e interlocutores afinados com seu jeito de ver o mundo. A consequência é a melhora da qualidade de vida”.
Não se trata apenas de se dizer “espiritualizado” e não fazer nada. É preciso ser comprometido com a religião para gozar seus benefícios: levantar cedo para ir ao culto, fazer parte de uma comunidade, interessar-se pelos outros, cultivar a interioridade (leitura das Escrituras). “As crenças religiosas precisam influenciar sua vida (a do crente) para que elas influenciem também sua saúde”.
Os que seriamente praticam uma crença, segundo estatísticas mencionadas na entrevista, sofrem menos de stress, de disfunções cardiovasculares e hipertensão. “O stress influencia as funções fisiológicas de maneira já muito conhecida e tem impacto em três sistemas ligados à defesa do organismo: o imunológico, o endócrino e o cardiovascular. Se esses sistemas não funcionam, ficamos doentes. A religiosidade põe o paciente num outro patamar de tratamento”. Observação curiosa do psiquiatra americano: “Pacientes infartados que são religiosos têm menos complicações após a cirurgia, ficam menos tempo internados e, claro, pagam contas hospitalares mais baixas”.
Observação interessante que aparece na entrevista: parece que os doentes, segundo estatísticas, gostariam que os médicos falassem das coisas espirituais, da religião. Há médicos que conseguem fazê-lo com habilidade, respeitando a religião do outro. Os médicos podem facilitar o acesso de um sacerdote ou pastor, se o paciente quiser, e isso colocará este último num universo de maior serenidade interior. Há médicos que se recusam a fazer tais propostas. Dizem que uma coisa é a medicina, rígida em seus princípios e outra a religião que lhes parece muito vaga. A entrevistadora colocou a seguinte pergunta: “Como o médico deve falar de religião com o paciente?” E Koenig: “É mais simples do que parece. Só de perguntar ao paciente quanto a religião é importante na vida dele, o médico está abrindo o caminho para atender suas necessidades espirituais. O paciente deve sentir-se confortável falando sobre esse assunto com o médico. O médico pode, naquele momento mais especial, tentar saber das decisões que um paciente terminal espera dele em situações-limite. Pode descobrir se o paciente terminal quer ser ressuscitado em caso de parada cardíaca, se deseja receber tratamento extenuante prolongado ou se prefere não estender o sofrimento. Ajuda muito o médico puxar o assunto com o paciente sobre o que ele pensa a respeito de milagres ou se quer receber orações. O paciente tem de estar seguro de que o médico não vai ignorar ou fazer pouco-caso de suas carências espirituais”.
Até que ponto nossa prática da fé tem nos ajudado no campo da saúde?

Fonte - Site Franciscanos.org.br

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Festa de Santo Antonio de Sant`Anna Galvão



O Bandeirante de Cristo – Biografia


Ir. Célia B. Cadorin, C.I.I.C
Frei Antônio de Sant’Anna Galvão nasceu em 1739, em Guaratinguetá, Estado de São Paulo, Brasil; cidade que na época pertencia à Diocese do Rio de Janeiro.
Com a criação da Diocese de São Paulo, em 1745, Frei Galvão viveu praticamente nesta diocese: 1762-1822. O seu ambiente familiar era profundamente religioso. O pai, Antônio Galvão de França, Capitão-Mor, pertencia às Ordens Terceiras de São Francisco e do Carmo, dedicava-se ao comércio e era conhecido pela sua particular generosidade. A mãe, Izabel Leite de Barros, teve o privilégio de ter onze filhos e morreu com apenas 38 anos com fama de grande caridade, a tal ponto que depois da morte não se encontrou nenhum vestido: tudo fora dado aos pobres.
Antônio viveu com seus irmãos numa casa grande e rica, pois seus pais gozavam de prestígio social e influência política. O pai, querendo dar uma formação humana e cultural segundo suas possibilidades econômicas, mandou o Servo de Deus com 13 anos para Belém (Bahia) a fim de estudar no Seminário dos Padres Jesuítas, onde já se encontrava seu irmão José.
Ficou neste Colégio de 1752 a 1756 com notáveis progressos no estudo e na prática da vida cristã. Teria entrado na Companhia de Jesus, mas o pai, preocupado com o clima antijesuítico provocado pela atuação do Marquês de Pombal, aconselhou Antônio a entrar na Ordem dos Frades Menores Descalços da reforma de São Pedro de Alcântara.
Estes tinham um Convento em Taubaté, não muito longe de Guaratinguetá. Aos 21 anos, no dia 15 de abril de 1760, Antônio ingressou no noviciado do Convento de São Boaventura, na Vila de Macacu, no Rio de Janeiro.
Durante este período distinguiu-se pela piedade e pelas práticas das virtudes, tanto que no “Livro dos Religiosos Brasileiros” encontramos grande elogio a seu respeito.
Aos 16 de abril de 1761 fez a profissão solene e o juramento, segundo o uso dos Franciscanos, de se empenhar na defesa da Imaculada Conceição de Nossa Senhora, doutrina ainda controvertida, mas aceita e defendida pela Ordem Franciscana.
Um ano depois da profissão religiosa, Frei Antônio foi admitido à ordenação sacerdotal aos 11 de julho de 1762. Os Superiores permitiram a sagrada ordenação porque julgaram suficientes os estudos teológicos feitos anteriormente.
Este privilégio foi também um sinal evidente da confiança que os Superiores nutriam pelo jovem clérigo. Depois de ordenado foi mandado para o Convento de São Francisco em São Paulo, com a finalidade de aperfeiçoar os estudos de filosofia e teologia, como também exercitar-se no apostolado.
Sua maturidade espiritual franciscano-mariana teve expressão máxima na “entrega a Maria” como o seu “filho e escravo perpétuo”, entrega assinada com o próprio sangue aos 9 de novembro de 1766.
Terminados os estudos, em 1768, foi nomeado Pregador, Confessor dos leigos e Porteiro do convento cargo este considerado importante, porque pela comunicação com as pessoas permitia fazer um grande apostolado, ouvindo e aconselhando a todos.
Foi confessor estimado e procurado, e quando era chamado ia sempre a pé, mesmo aos lugares distantes. Em 1769-70 foi designado Confessor de um Recolhimento de piedosas mulheres, as “Recolhidas de Santa Teresa” em São Paulo.
Neste Recolhimento encontrou a Irmã Helena Maria do Espírito Santo, religiosa de profunda oração e grande penitência, observante da vida comum, que afirmava ter visões pelas quais Jesus lhe pedia para fundar um novo Recolhimento.
Frei Galvão, como confessor, ouviu e estudou tais mensagens e solicitou o parecer de pessoas sábias e esclarecidas, que reconheceram tais visões como válidas. A data oficial da fundação do novo Recolhimento é 2 de fevereiro de 1774.
Irmã Helena queria modelar o Recolhimento segundo a ordem carmelitana, mas o Bispo de São Paulo, franciscano e intrépido defensor da Imaculada, quis que fosse segundo as Concepcionistas, aprovadas pelo Papa Júlio II em 1511.
A fundação passou a se chamar “Recolhimento de Nossa Senhora da Conceição da Divina Providência” e Frei Galvão, o fundador de uma instituição que continua até os nossos dias.
O Recolhimento, no início, era uma Casa que acolhia jovens para viver como religiosas sem o compromisso dos votos. Foi um expediente do momento histórico para subtrair do veto do Marquês de Pombal que não permitia novas fundações e consagrações religiosas. Para toda decisão de certa importância, em âmbito religioso, era necessário o “placet regio”.
Aos 23 de fevereiro de 1775 morreu, quase improvisamente, Irmã Helena. Frei Galvão encontrou-se como único sustentáculo das Recolhidas, missão que exerceu com humildade e grande prudência. Entrementes, o novo Capitão-General de São Paulo, homem inflexível e duro (ao contrário do seu predecessor), retirou a permissão e ordenou o fechamento do Recolhimento.
Frei Galvão aceitou com fé e também as Recolhidas obedeceram; mas não deixaram a casa, resistindo até os extremos das forças físicas. Depois de um mês, graças à pressão do povo e do Bispo, o Recolhimento foi reaberto.
Devido ao grande número de vocações, o Servo de Deus se viu obrigado a aumentar o Recolhimento. Para tanto contribuíram as famílias das Recolhidas, muitas das quais, sendo ricas, podiam dispor dos escravos da família como mão-de-obra.
Durante catorze anos (1774-1788) Frei Galvão cuidou da construção do Recolhimento. Outros catorze anos (1788-1802) dedicou à construção da igreja, inaugurada aos 15 de agosto de 1802. A obra, “materialização do gênio e da santidade de Frei Galvão”, em 1988, tornou-se “patrimônio cultural da humanidade” por decisão da Unesco.
Frei Galvão, além da construção e dos encargos especiais dentro e fora da Ordem Franciscana, deu muita atenção e o melhor das suas forças à formação das Recolhidas. Para elas, escreveu um regulamento ou Estatuto, excelente guia de vida interior e de disciplina religiosa.
O Estatuto é o principal escrito, o que melhor manifesta a personalidade do Servo de Deus. O Bispo de São Paulo acrescentou ao Estatuto a permissão para as Recolhidas emitirem os votos enquanto permanecessem na Casa religiosa.
Em 1929, o Recolhimento tornou-se Mosteiro, incorporado à Ordem da Imaculada Conceição (Concepcionistas). A vida discorria serena e rica de espiritualidade quando sobreveio um episódio doloroso: Frei Galvão foi mandado para o exílio pelo Capitão-General de São Paulo.
Este homem violento, para defender o filho que sofrera uma pequena ofensa, condenou à morte um soldado (Gaetaninho). Como Frei Galvão assumiu a defesa do soldado, foi afastado e obrigado a seguir para o Rio de Janeiro.
A população, porém, se levantou contra a injustiça de tal ordem, que imediatamente foi revogada. Em 1781, o Servo de Deus foi nomeado Mestre do noviciado de Macacu, Rio de Janeiro, pelos qualidades pessoais, profunda vida espiritual e grande zelo apostólico.
O Bispo, porém, que o queria em São Paulo, não lhe fez chegar a carta do Superior Provincial “para não privar seu bispado de tão virtuoso religioso [...] que, desde que entrou na religião até o presente dia, tem tido um procedimento exemplaríssimo pela qual razão o aclamam santo”.
Frei Galvão foi nomeado Guardião do Convento de São Francisco, em São Paulo, em 1798, e reeleito em 1801. A nomeação de Guardião provocou desorientação nas Recolhidas da Luz. Á preocupação das religiosas é necessário acrescentar aquela do “Senado da Câmara de São Paulo” e do Bispo da cidade, que escreveram ao Provincial: “todos os moradores desta Cidade não poderão suportar um só momento a ausência do dito religioso. [...] este homem tão necessário às religiosas da Luz, é preciosíssimo a toda esta Cidade e Vilas da Capitania de São Paulo; é homem religiosíssimo e de prudente conselho; todos acodem a pedir-lho; é o homem da paz e da caridade”.
Graças a estas cartas, Frei Galvão tornou-se Guardião sem deixar a direção espiritual das Recolhidas e povo de São Paulo. Em 1802, Frei Galvão recebeu o privilégio de Definidor pela solicitação do Provincial ao Núncio Apostólico de Portugal, porque “é um religioso que por seus costumes e por sua exemplaríssima vida serve de honra e de consolação a todos os seus Irmãos, e todo o Povo daquela Capitania de São Paulo, Senado da Câmara e o mesmo Bispo Diocesano o respeitam corpo um varão santo”.
Em 1808, pela estima que gozava dentro de sua Ordem, foi-lhe confiado o cargo de Visitador-Geral e Presidente do Capítulo, mas devido ao seu estado de saúde foi obrigado a renunciar, embora desejasse obedecer prontamente.
Em 1811, a pedido do Bispo de São Paulo, fundou o Recolhimento de Santa Clara em Sorocaba, no Estado de São Paulo. Ai permaneceu onze meses para organizar a comunidade e dirigir os trabalhos iniciais da construção da Casa. Voltou para São Paulo e ali viveu mais 10 anos.
Quando as suas forças eram insuficientes para o ir-e-vir diário do Convento de São Francisco ao Recolhimento, obteve dos Superiores (Bispo e Guardião) a autorização para ficar no Recolhimento da Luz.
Drante a última doença, Frei Antônio passou a morar num “quartinho” (espécie de corredor) atrás do Tabernáculo, no fundo da igreja, graças à insistência das religiosas, que desejavam prestar-lhe algum alivio e conforto.
Terminou sua vida terrena aos 23 de dezembro de 1822, pelas 10 horas da manhã, confortado pelos sacramentos e assistido pelo Padre Guardião, dois confrades e dois sacerdotes diocesanos.
Frei Galvão, a pedido das religiosas e do povo, foi sepultado na Igreja do Recolhimento, que ele mesmo construíra. O seu túmulo sempre foi, e continua sendo até os nossos dias, lugar de peregrinação constante dos fiéis, que pedem e agradecem graças por intercessão do “homem da paz e da caridade” e fundador do Recolhimento de Nossa Senhora da Luz, cujo carisma é a “laus perennis”, ou seja, adoração perpétua ao Santíssimo Sacramento, vivida em grande pobreza e continua penitência com alegre simplicidade.
Escreveu Lúcio Cristiano em 1954: “Entre os heróis que plasmaram o destino de São Paulo, merece lugar de destaque a inconfundível figura de Frei Antônio de Sant’Anna Galvão, o apóstolo de São Paulo entre os séculos XVIll e XIX”, cuja lembrança continua viva no coração do povo paulista.
O Processo de Beatificação e Canonização iniciado em 1938 foi reaberto solenemente em 1986 e concluído em 1991.  1997 foi promulgado pelo Papa João Paulo II o Decreto das Virtudes Heróicas e aos 6 de abril de 1998, o Decreto sobre o Milagre. Frei Galvão foi declarado bem-aventurado no dia 25 de outubro de 1998. Frei Galvão foi canonizado no dia 11 de maio de 2007, pelo Papa Bento XVI, em uma grande celebração no Campo de Marte, em São Paulo.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Encontro 6º distrito de Minas Gerais

Foi realizado dia 21 de Outubro o encontro do 6º distrito em Uberlândia com a participação das fraternidades de Uberaba, Ituiutaba, Araxá, Uberlândia e a Jufra. Contamos com a presença do nosso assistente Frei Rodrigo Peret, Ofm O presidente da Fundação Nossa Senhora de Fátima Frei Ezimar Alves Pereira,Oofm, nosso coordenador do Distrito Duvaldo Amancio, nossa Ministra regional Maria do Socorro e também de nosso irmão Frei Samir Gervasio,Ofm que sempre nos acompanha com sua alegria, carinho e amizada com a Ofs.
Segue abaixo algumas fotos de nosso encontro.

OFS

Frei Rodrigo Peret, Ofm

Jufra de Uberlândia

Celebração Eucaristica com Frei Romilson, Ofm

Maria do Socorro, coordenadora regional da área sudeste 1

Denise Inácia, Ministra Araxá

Frei Ezimar Alves Pereira, Ofm 

Duvaldo, coordenador do distrito, Antõnia, formadora de Araguari e Dimas, formador de Araxá

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Tríduo em louvor a São Francisco

Foi realizado nos dias 4 a 7 de outubro na Paróquia de Santo Antônio em Araxá e organizado pela Fraternidade Santa Terezinha da OFS o Tríduo em louvor de São Francisco, abaixo algumas fotos das celebrações e de nossos festeiros. Agradecemos a todos patrocinadores, colaboradores, festeiros, a comunidade e em especial a Paróquia de Santo Antônio na pessoa do Padre Marino.










 

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Festa de São Francisco

 

Hoje, 03 de Outubro, às 18 horas, na maioria das Fraternidades Franciscanas, celebra-se o Transitus de São Francisco, a sua passagem para a eternidade. Hoje, o Cantor do Irmão Sol vive o seu mais gritante paradoxo: aquele que cantou o mundo na sua beleza irradiante em todas as criaturas, despede-se deste mundo e faz a travessia para o outro lado da existência terrena. Mas faz este rito de passagem de um modo sereno, alegre, sem as tensões próprias da morte. Hoje, em Francisco, Criação e Redenção encontram-se e confraternizam-se. Hoje, a força originária do mundo volta à sua raiz sagrada. Ele parte cantando com todas as criaturas viventes, exatamente no momento onde já não mais pertence ao espaço de todas as coisas visíveis. Há uma reconciliação terna com o poder da morte. Ela não vem buscá-lo numa ruptura brutal com o convívio de tudo e de todos; mas permite que todos os seres o acompanhem ao Paraíso definitivo.

Francisco despede-se desta habitação cantando o Cântico das Criaturas; e o Espelho da Perfeição diz que ele se foi no ritmo e melodia do Hino da Irmã Morte. A lírica poesia da criação transforma-se uma liturgia escatológica. O menestrel dos bosques, dos vermes, pássaros, montanhas, florestas, peixes e lobo, é agora acolhido pelo coro dos Anjos. Há uma fusão de naturezas. Aquele que cantou lua e estrelas atravessa o limite do universo e entra no inefável espaço da glória.

É crepúsculo de verão luminoso, colorido e quente na Úmbria; porém já é o entardecer forrado de folhas secas no amarelado chão do outono assisiense. Até a natureza apronta-se para bruscas mudanças. Ano de 1226. Aquele que andou todos os caminhos, agora repousa enfermo no palácio episcopal. O médico Giovanni Finiatu de Arezzo o visita e conversa com ele sobre seu estado de saúde. Diz que vai correr tudo bem como que a predizer o fim bem próximo. Há cumplicidade entre os dois. Um, santamente, sabe que seu estado de alma prenuncia o fim de todas as dores no abraço das alegrias eternas; o outro, clinicamente, tem a certeza que o seu mal não tem cura. O médico sente que o amigo vai expirar brevemente. O santo dá boas vindas à Irmã Morte com visível contentamento. Chegam Frei Leão, Frei Ângelo, Fra Jacoba, Frei Masseo; trazem as lágrimas, o pranto, panos, uns doces e o canto. Francisco é só alegria, prece e entrega ao misericordioso Deus. Não há dor física. Nos irmãos e na sua amiga dói a separação; em Francisco, vibra o gosto pelo encontro com o sonhado Reino do Céu. Francisco pede para sair do palácio episcopal e ir para o aconchego da Porciúncula. Da cama dos bordados lençóis quer o chão tecido pela terra mãe. Ali expira mansamente no leito nupcial no colo da sua Amada Senhora Dama Pobreza.
 
Frei Vitório Mazzuco, Ofm

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Festa de São Francisco de Assis

São Francisco, como o vejo

Tomás de Celano

Como era bonito, atraente e de aspecto glorioso na inocência de sua vida, na simplicidade das palavras, na pureza do coração, no amor de Deus, na caridade fraterna, na obediência ardorosa, no trato afetuoso, no aspecto angelical!
Tinha maneiras simples, era sereno por natureza e de trato amável, muito oportuno quando dava conselhos, sempre fiel a suas obrigações, prudente nos julgamentos, eficiente no trabalho e em tudo cheio de elegância. Sereno na inteligência, delicado, sóbrio, contemplativo, constante na oração e fervoroso em todas as coisas.
Firme nas resoluções, equilibrado, perseverante e sempre o mesmo. Rápido para perdoar e demorado para se irar, tinha a inteligência pronta, uma memória luminosa, era sutil ao falar, sério em suas ações e sempre simples. Era rigoroso consigo mesmo, paciente com os outros, discreto com todos.
Muito eloquente, tinha o rosto alegre e o aspecto bondoso, era diligente e incapaz de ser arrogante. Era de estatura um pouco abaixo da média, cabeça proporcionada e redonda, rosto um tanto longo e fino, testa plana e curta, olhos nem grandes nem pequenos, negros e simples, cabelos castanhos, pestanas retas, nariz proporcional, delgado e reto, orelhas levantadas mas pequenas, têmporas chatas, língua apaziguante, fogosa e aguda, voz forte, doce, clara e sonora, dentes unidos, iguais e brancos, lábios pequenos e delgados, barba preta e um tanto rala, pescoço fino, ombros retos, braços curtos, mãos delicadas, dedos longos, unhas compridas, pernas finas, pés pequenos, pele fina, descarnado roupa rude, sono muito curto, trabalho contínuo.
E como era muito humilde, mostrava toda a mansidão para com todas as pessoas, adaptando-se a todos com facilidade. Embora fosse o mais santo de todos, sabia estar entre os pecadores como se fosse um deles.


Tomás de Celano, primeiro biógrafo de São Francisco,
in “Primeira Vida de S. Francisco”, n.83.

Francisco da cidade de Assis

Na escola evangélica da venturosa desapropriação

Frei Almir Ribeiro Guimarães (*)
No seio da Igreja, ao longo dos séculos, foram surgindo vigorosas famílias espirituais que, suscitadas pelo Espírito, deram novo vigor e novo sopro à vida cristã. Entre essas tantas famílias está a dos franciscanos, que surge na primeira metade do século XIII e tem sua origem na figura sempre atual de Francisco da cidade de Assis, o homem novo, o irmão, o pobre, aquele que se liberou de todos os entraves da propriedade, o fascinado pelo presépio do menino das palhas e que morre nu deitado na terra nua. Desnecessário dizer e recordar que esse filho de comerciante nunca pretendeu formar e constituir uma família religiosa na sinfonia da espiritualidade cristã. Os fatos foram mostrando, no entanto, que ele precisava criar um modo de viver diferente. Num determinado momento escreve meia dúzia de passagens evangélicas e pede autorização ao Papa para viver, ele e seus irmãos, uma fraternidade itinerante à maneira dos apóstolos.
Francisco conserva uma enorme atualidade. Tal se deve à sua irradiante santidade e à profundidade evangélica de sua mensagem. Em poucos anos foram numerosíssimos os homens que ingressaram nessa Ordem que Francisco designou como Ordem dos Frades Menores. Em 1209, o Papa Inocêncio III aprova oralmente o projeto de vida de Francisco. Em 1215, eles são cerca de mil frades. No momento da morte do Poverello, são mais de cinco mil. Em 1257, já eram 30 mil.
Parece que tudo já se disse a respeito de Francisco. E, no entanto, multiplicam-se livros e estudos sobre esse homem de Assis. Tudo já foi dito e muito há que dizer porque Francisco foi se tornando um outro do Cristo. De tão parecido com Cristo foi se tornando um ser inesgotável. Ele é fundador de Ordem. Mas, antes de tudo, está na origem de um movimento profundamente evangélico. Sim, esse assisense, filho de um tempo novo, está na origem de um elã evangélico, de uma tentativa de fazer com que nunca o Evangelho seja domesticado e colocado nas frias categorias do jurisdicional. Francisco não cabe em suas biografias como o Evangelho não pode ser encerrado nas páginas de um livro. Francisco e Evangelho caminham juntos. Evangelho do novo, do pano novo, do vinho novo, do êxtase diante das coisas pequenas que escondem a grandeza. Êxtase diante do Menino das Palhas, de Maria, a Pobrezinha, do Crucificado chagado e morto no alto da cruz. Êxtase diante do vermezinho que não deve ser esmagado, diante da Morte Irmã que vem buscá-lo para levá-lo à Terra dos Vivos. Mais de que fundador de uma Ordem, ele é patrimônio da humanidade. Evocar sua figura é trazer para junto de nós alguém, que traz para a terra de corações mornos o ardor das brasas do Evangelho. Pode-se dizer que, com sua vida, Francisco reescreve o Evangelho.

Tudo, absolutamente tudo, vem do Deus que é Bem, sumo Bem. François Delmas-Goyon (François d’Assise: une sainteté rayonante, in Croire Auyjourd’hui, septembre 2009, p. 29-30), leigo, filósofo e teológo, professor no Colégio dos Bernardinos em Paris, afirma que o fundamento do caminho espiritual aberto por Francisco reside no reconhecimento de que o Deus Trino, revelado por Jesus Cristo, é o Bem soberano, do qual provém e ao qual pertence todo Bem. Todo ser humano é chamado a descobrir e a reconhecer os benefícios com os quais Deus o cumula e a dar uma resposta pela ação de graças. Francisco vê cada criatura procedendo das mãos de Deus. “Por este motivo, o leproso, o bandido, o sarraceno, o lobo, o vermezinho, a flor, a água, o fogo, o sol se tornam para Francisco irmãos e irmãs que são, por sua existência, testemunhas da bondade e da glória de Deus. Mas atenção esta admiração diante da beleza das criaturas nada tem de romântico, adocicado e superficial. Tal maravilhamento exige uma completa desapropriação de si. Confessar que os bens têm sua origem em Deus significa reconhecer sua propriedade exclusiva e renunciar a toda sorte de apropriação. A única propriedade exclusiva do homem é o pecado. Para Francisco, a raiz de todos os pecados está precisamente na apropriação.
Francisco não pretendeu fundar uma congregação religiosa, mas experimentou profunda alegria ao ver que o Senhor lhe dava irmãos. Ficou feliz de ver que sua experiência pessoal desembocava no surgimento de um comunidade de irmãos. E o santo afirmou que quando o Senhor lhe deu irmãos, ele queria com eles viver segundo a forma do Evangelho. Ninguém mostrou-lhe o que devia fazer… O Altíssimo é que mostrou o caminho da vida evangélica. Forma do santo evangelho: conformidade com Cristo, entrar numa “forma” do Evangelho. André Vauchez lembra que a expressão “forma do santo Evangelho” quer significar “uma tentativa levada ao extremo de se conformar ao Evangelho e fazer dele a norma absoluta de comportamento”. Francisco reúne meia dúzia de palavras do Evangelho, vai pedir ao Papa que as aprove e passa, com seus irmãos, a inventar uma forma nova de vida religiosa que nada tinha a ver com as regras de outros fundadores. Uma vida evangélica…
Nos últimos tempos os que se ocupam de refletir sobre o gênero de vida que nasceu de Francisco, com razão, insistem no tema da desapropriação. Este é o caso de François Delmas-Goyon. No escrito acima mencionado desenvolve o tema da desapropriação ligando-o à fraternidade. O mais perfeito modelo de desapropriação é Jesus. O Verbo se faz carne e deixando a glória vem despojadamente morar entre nós. Vem no rosto do Menino de Maria, se entrega na Eucaristia, nas humildes espécies do pão e do vinho. Vejamos literalmente como se exprime Delmas-Goyon: “A desapropriação atinge todos os registros da existência humana e se reveste de muitas facetas: a pobreza é desapropriação com relação aos bens materiais; o minorismo é a desapropriação no campo da vida social; a humildade, a desapropriação no relacionamento individual com Deus e com o próximo. Mais do que a pobreza, o minorismo é que caracteriza o “estar-no-mundo-franciscano”. Testemunha isso a escolha do nome do grupo: Frades menores. O termo latino “minor”, é comparativo, significa o que é bem “mais pequeno” e comporta a ideia de abaixamamento. Ser menor, no sentido franciscano, significa recusar de se situar acima do outro, rejeitar poder sobre ele, e, à exemplo de Cristo, fazer-se seu servidor, Cristo que afirmara ter vindo para servir e não para ser servido. O serviço é inverso positivo da desapropriação. A desapropriação libera, o serviço investe a energia liberada. Por isso, Francisco insiste em unir os dois”.
Pobreza, minorismo e humildade quando se fazem acompanhar de um autêntico espírito de serviço desembocam na fraternidade. Ser irmão de alguém é “projetar sobre ele um olhar de pura benevolência, colocar-se à escuta de suas necessidades e servi-lo com um coração de mãe. Para que alguém possa ser irmão, necessário ser pessoa desapropriada. Quem tem bens a defender, poder a dilatar, prestígio a ser preservado está sempre na defensiva e tem medo do outro, temendo que este lhe tome o tesouro no qual colocou o coração. O que não está preso a nada sabe acolher todo homem como seu irmão seja leproso, bandido ou inimigo. O pobre desapropriado não provoca medo. Ninguém precisa ter as armas em mãos contra um desapropriado. “A fraternidade se fundamenta no fato de que temos um mesmo Criador e Pai, seu elemento catalizador é a desapropriação, que desarma a violência e abre as portas para a mútua confiança, que constitui a base da fraternidade”.
Max de Wasseige, em livro de reflexão-meditação sobre o Testamento de São Francisco, escreve: “Mesmo se a sociedade nos impulsione na direção do individualismo, Francisco nos ensina que a força do homem não se encontra em seu saber, nas aparências, na acumulação dos bens ou do poder mas no modo de nos fazemos cada vez mais irmãos uns para com os outros (…). Seu olhar fraterno tem sua origem na desapropriação total e na recusa da manipulação de pessoas e da criação. A mensagem de Francisco nos fala da essência das coisas. Para Francisco, o acesso a uma autêntica sabedoria espiritual só é possível pela via do minorismo e do respeito que leva a fraternizar com todas as criaturas” (Le coeur du petit pauvre, Ed. Franciscaines, 2011, p. 124-125).
A espiritualidade franciscana é espiritualidade do olhar. Francisco nos convida a contemplar os outros homens, o mundo e todas as criaturas com o olhar que Deus mesmo coloca sobre uns e outros. Ele nos ensina “a descobrir sua beleza, a admirá-la e a amá-la. A qualidade do “ser fraterno” depende da qualidade do olhar. Não se pode amar o irmão ignorando-o; não será ele amado quando olhado do alto. Francisco soube olhar os leprosos e, para além das chagas purulentas, soube ver os “irmãos cristãos” (cf. Delmas-Goyon).
Concluindo
As coisas tinham começado com um vazio no peito, uma saudade de Deus. O filho de Pedro de Bernardone sentia não ter mais pé no mar da vida. Um leproso atravessa-lhe o caminho. Há um beijo, um abraço e um olhar diferente. Um olhar de atenção, de benevolência. Há o olhar do Cristo bizantino de São Damião, negro e profundo como o mar negro. E chegam os irmãos. No minúsculo santuário de Nossa Senhora dos Anjos, um padre lê o Evangelho da missão… e as palavras ressoam na catedral do mundo. Há um convite a ir… sempre ir… sem sapato, sem propriedade, olhando a tudo com um olhar novo, cantando e dançando, chorando o amor que precisava ser amado. De repente, o mundo ficou mais bonito com esse filho de Pedro de Bernardone que nu, depositando nas mãos do pai suas roupas, caminhou livre de amarras na direção do sol.

Festa de São Francisco

Como vejo Francisco

(*) Frei Vitório Mazzuco

Vejo Francisco como um escândalo positivo e necessário que abalou seu tempo e continua impactando até hoje. Um modelo vivo do melhor que a humanidade produziu nestes últimos oito séculos, um santo natural, caseiro e vizinho de todos, com sua atraente simplicidade, com seu cristianismo de sedução, com sua conquistadora humildade e uma vida que arrasta. É o simpático admirado universalmente. Reuniu um número considerável de seguidores e seguidoras em sua época que santificaram estradas e paisagens. Amou apaixonadamente Jesus Cristo e seu Evangelho a ponto de ficar igualzinho ao Deus Encarnado, deixando que este amor marcasse seu corpo com as chagas do Amado.
Vejo Francisco como um asceta que abraçou a fraternidade de um modo pleno e cordial; um cantor da criação, menestrel dos louvores mais puros ao Criador, uma comunhão de afetividade e espiritualidade, um cultor da paz e do bem. Ele é a estética do simples e o onipresente em tantas representações iconográficas. É o santo dos pobres e dos pássaros, da cruz e do presépio, da eucaristia e da poesia. É o santo dos caminhos e das grutas, das montanhas e das planícies, dos nichos e catedrais. Um cavaleiro fiel da Senhora Dama Pobreza cheio de fidelidade e gentileza. Um Sol de Assis, como diz Dante, e uma Clara Lua, como diz seu lado mãe e irmã na Clara Flor de Assis, confidente e portadora de seus contemplativos segredos. Um Mestre espiritual do Ocidente reverenciado no Oriente, um profeta que atravessa a linha de guerra das Cruzadas e vai dialogar com o sultão numa conversa de homens de têmpera e fé.
Vejo Francisco como um mendigo despojado que possui a única riqueza essencial. Preso em Perugia libertou seus sonhos. Abraçou leprosos, curando as podres cicatrizes da exclusão. Tocou violino em galhos secos e dançou a alegria ridente e luminosa dos que possuem a liberdade de espírito. Reconstruiu a casa da existência calejando as mãos e cuidando dos pilares da alma. Brigou com o pai avarento e reconciliou-se com a prodigalidade. Deu um salto de qualidade para ensinar que conversão é mudar de lugar e não apenas câmbio de mentalidade. Vejo Francisco o jeito mais gostoso de ser irmão, a sensibilidade de uma mãe, a parceria de um compadre, a sempre presente energia de um amigo… Enfim, meu Pai Seráfico, Mestre Espiritual a ensinar que ser do jeito de Jesus não é estar na prisão de obscuras doutrinas, mas tornar fácil o caminho dos que vêm seguindo as marcas da Boa Nova. Assim vejo, sinto e vivo Francisco.


(*) Frei Vitório Mazzuco, OFM, é o Reitor do Convento
Santo Antônio do Rio de Janeiro e Mestre em Teologia com
especialização em Teologia Espiritual Pontificium Athenaeum Antonianum

Festa de São Francisco

Francisco, como o vejo?

Irmã Maria Francisca, OSC (*)

Dia 4 de outubro é sempre para nós dia de grande festa. É nova oportunidade de olhar para este homem que aos olhos dos seus contemporâneos, a princípio, apresentou-se como um louco, mas que, aos poucos, deixou transparecer que o que nele estava acontecendo não era senão uma obra de Deus.
Desde aquele dia em que, já transformado, entrou na Igreja para rezar diante do Crucifixo de São Damião e ouviu a ordem de Jesus para que fosse restaurar sua Igreja em ruínas, Francisco se transformou num vaso aberto onde os céus puderam derramar todas as graças que, naquele momento, eram necessárias para realizar a vontade do Cristo Crucificado.
Vejo Francisco como um homem todo prontidão para, sem demora, cumprir o encargo recebido e, para isso, não mede esforços, apesar de sentir-se pequeno, humilde e pecador. Ele tem a certeza de que tudo o que o senhor lhe pede não é ele que vai cumprir, mas será obra do Senhor. Atribui tudo a Deus quando fala: “O Senhor me deu, o Senhor me ensinou, o Senhor me conduziu… etc.”
Ele foi e é até hoje o reformador da Igreja sempre que nós, seus seguidores, o olhamos com alma de discípulos para aprender com ele a servir o Senhor nada atribuindo a nós mesmos e, sim, tudo acolhendo das inspirações do Senhor. Nisto vejo o exemplo da desapropriação e o espírito de servo que deve permear a vida de todos os que querem viver deste modo.
Como Irmã Clarissa, pertencente a esta grande escola do Poverello de Assis e da mãe Santa Clara, também vejo a necessidade de ser este vaso aberto, onde Deus pode derramar suas graças a fim de hoje responder aos desafios que não são poucos do mesmo modo como Francisco respondeu.
O chamado de Francisco veio de encontro a uma atmosfera de frieza da fé e da falta reverência ao sagrado que havia naquele tempo. E, hoje, será que o chamado de cada Franciscano e Clarissa não é um grito a anunciar que Deus existe e quer ser amado, respeitado e obedecido em todos os seus preceitos de amor?
Francisco repete, ainda, a cada um de seus filhos e filhas: “Eu fiz a minha parte, que o senhor vos ensine a fazer a vossa!”
Feliz Festa do Poverello de Assis!


(*) Irmã Maria Francisca, OSC,
é Abadessa do Mosteiro São Damião de Porto Alegre (RS).
http://clarissasportoalegre.com/


Fonte - Site Franciscanos da Imaculada Conceição do Brasil

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Ereção e capítulo eletivo

No dia 23 de Setembro de 2012 foi realizada a celebração solene de ereção canônica na Igeja Matriz de Santo Antônio de Pádua e capítulo eletivo da Fraternidade Santa Terezinha de Araxá com a presença de nossa Ministra regional Maria do Socorro, Coordenador do distrito Duvaldo Amancio, Fraternidade de Uberaba, Jufra de Uberlândia, nosso assistente Frei Rodrigo Peret ofm, Frei Samir Gervasio ofm e Padre Marino Molina que presidiu a celebração. Após a celebração tivemos nosso primeiro capítulo eletivo e logo após confraternização. Com a graça de Deus e nosso seráfico Pai São Francisco tudo ocorreu na mais perfeita alegria.
                                                                                 
Eleitos para o Triênio 2012 a 2015.

Ministra - Denise Inacia Pinheiro Adelino
Vice Ministro - Oswaldo Araújo
Formador - Dimas Alves Pereira Júnior
Secretária - Aparecida de Fátima Pinheiro
Tesoureira - Simone Auxiliadora Oliveira Alves
Por indicação de nossa Ministra regional Maria do Socorro e com a concordancia de todos nossa irmã Benigna dos Santos Vale ficou responsavel pela Comunicação.

Oito anos se passarão até este momento com muitas pedras no caminho e com muita alegria e bons momentos neste período, estamos radiantes, que nosso Deus, seu filho Jesus Cristo, Santa Terezinha, São Francisco e Santa Clara ilumine a todos com o Espirito Santo tomando conta de cada um da nova fraternidade.
    
                   Frei Rodrigo, Ministra de Minas Gerais Maria do Socorro e o
Coordenador distrital Duvaldo Amancio assinando documento de ereção.

                                            Frei Rodrigo, ofm e Maria do Socorro, ofs

Padre Marino e Frei Samir, ofm durante a celebração

  
Denise Inacia, a primeira Ministra de nossa Fraternidade

sexta-feira, 14 de setembro de 2012


     Tríduo em Louvor a São Francisco de Assis


´´Louvai e bendizei ao meu Senhor, e dai-lhe graças, e servi-o com grande humildade``
 
Dias – 4 a 7 de Outubro de 2012
 
Terço – 18:30 hs
Missa – 19:00 hs
Local – Igreja  Matriz de Santo Antônio de Pádua
 
Araxá - MG
 
Celebrantes: Pe Marino Molina - Pároco                                                                    
                       Pe Carlos Alexandre - Vigário
 
                                Realização – Ordem Franciscana Secular de Araxá


 

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Ereção Canônica

Convidamos a todos no dia 23/09/2012 às 19:00 hs na Matriz de Santo Antônio de Pádua na cidade de Araxá - MG a Ereção Canônica da Fraternidade Santa Terezinha.

  

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Profissão OFS Fraternidade Santa Terezinha-Araxá


Paz e Bem !!! No dia 20/05/2012 foi realizada a profissão de 8 membros da Ofs de Araxá - MG com a presença do delegado provincial da Fundação Nossa Senhora de Fátia do Brasil Frei Ezimar Alves Pereira, ofm, nosso assistente Frei Rodrigo Peret, ofm, Frei Samir Gervásio, ofm, nosso Ministro Duvaldo Amancio, fraternidades de nossa região, Jufra e congregações femininas da cidade de Araxá e Uberlândia. Após a celebração nos confraternizamos pela abençoada graça alcançada pelos Neo Professos.

    



Pedimos a luz do Espirito Santo que nos guie no santo proposito de amor e fidelidade a exemplo de Sao Francisco e Santa Clara de Assis.

 

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Comentário de nosso Irmão Frei Sérgio

Frei Sérgio fez o seguinte comentário no Facebook.




  • Parabéns, Aparecida Fátima, Benigna dos Santos, Denise Inácio, Dimas Alves, Durval Vitorino, Euler José, Lidiane de Cássia, Oswaldo Araújo, Simone Auxiliadora, pela perseverança, vocês são mais que vencedores, pois foram testados, provocados e provados, mas pela Fé venceram.
    Continuem firmes e contem sempre com o meu apoio e a minha Oração.
    Um abraço frei Sérgio Max ,Ofm

  • Um grande abraço Frei Sérgio, te amamos muito.

  • sexta-feira, 4 de maio de 2012

    Convite




    PAZ E BEM

    A Ordem Franciscana Secular e a Fraternidade Nossa Senhora de Fátima de Uberaba convida para profissão de vida evangélica dos irmãos:

    Aparecida de Fátima Pinheiro
    Benigna dos Santos Vale
    Denise Inácia Pinheiro
    Dimas Alves Pereira Júnior
    Durval Vitorino Pinheiro
    Euler José Silva
    Lidiane de Cassia Pinheiro
    Oswaldo Araújo
    Simone Auxiliadora Oliveira Alves

    Data: 20/05/2012
    Horário: 15:30 hs
    Local: Matriz de Santo Antônio – Araxá - MG


    "E depois que o Senhor me deu irmãos ninguém me mostrou o que eu deveria fazer, mas o Altíssimo mesmo me revelou que eu devia viver segundo a forma do santo Evangelho." (Testamento de São Francisco - 1226)

    segunda-feira, 23 de abril de 2012

    Quando os anos pesam e a enfermidade nos visita

    Refletindo sobre o Serviço dos Enfermos e Idosos  (SEI) na Ordem Franciscana Secular




    E se algum  irmão cair enfermo, os outros irmãos devem servi-lo como gostariam de ser servidos (Regra Bulada de São Francisco VI, 10).
    Avançando em idade, aprendam os irmãos a aceitar a doença e as crescentes dificuldades e a dar à vida um sentido mais profundo, no progressivo desprendimento e encaminhamento  à Terra Prometida (CCGG art. 27, 1)
    1. As Fraternidades Franciscanas Seculares sempre tiveram uma preocupação toda especial para com os enfermos e os idosos.  Houve tempos em que esse segmento da Fraternidade recebia a designação, nem sempre bem compreendida,  de “ala paciente”.  Hoje designamos de Serviço dos Enfermos e Idosos (SEI) a essa tarefa de todos os membros de uma Fraternidade no cuidado desses irmãos que vivem doença e idade avançada. Embora seja de todos tal  tarefa é confiada de modo particular a um ou mais membros escolhidos ou eleitos para concretizar esse gesto amoroso. Sempre de novo precisamos ficar atentos e inventar expedientes e mimos para que os irmãos não se sintam esquecidos e nem se considerem marginalizados.
    2. O tema da enfermidade e doença e da idade avançada  pode ser visto sob diferentes ângulos.  Há o doente e o idoso de um lado e há, de outro, o irmão da Fraternidade que é encarregado de prestar atenção na situação do irmão e da irmã.  Deveremos distinguir o irmão doente durante um certo tempo e, de outro, lado aquele que está fadado a não se levantar do leito ou a viver na dependência quase que total  de familiares ou de outras pessoas.  Cada situação  é uma situação.  Há doenças em que o enfermo conserva sua lucidez e outras em que a família até chega a poupar visitas para que estas não assistam a espetáculos constrangedores.
    3. Num primeiro momento façamos algumas considerações atinentes à postura do irmão e da irmã que precisam ir se  retirando da vida ativa e entrando nessa condição de  idosos ou  gravemente doentes.
    • Os documentos franciscanos pedem que o irmão acolha a doença e os inconvenientes da idade avançada.  As CCGG  exortam  que todos aceitem a situação sabendo que nossa existência continuará na vida eterna como “comunhão dos santos” (art. 27,1).
    • A doença, quando não se manifestar de maneira violenta  e não tirando a consciência, pode ser uma ocasião de crescimento, de prática de penitência, de aceitação de nossa limitação. Idosos e menos idosos somos  convidados a aceitar os reveses da vida.  Sabemos que é fácil escrever  essa frase,  mas  que é necessário têmpera e garra e muita força do alto para carregar a cruz de uma enfermidade que veio para ficar ou acolher os achaques humilhantes da velhice.
    • Os idosos e enfermos saberão ter a simplicidade de comunicar aquilo de que precisam.  Num contexto mais centrado no conjunto do tema da fraternidade,  Francisco fala na Regra  Bulada:  “E onde estão e onde quer que se encontrem os irmãos, mostrem-se mutuamente familiares entre si. E com confiança um manifeste um ao outro sua necessidade, porque se uma mãe ama e nutre seu filho carnal quanto mais diligentemente não deve cada um amar  e  nutrir seu irmão espiritual?” (Regra Bulada  VI, 8-9).  Assim, o irmão doente tem o direito de expor seus desejos  sejam eles de coisas simples ( dar um passeio pela cidade, visitar um parente, degustar um sorvete de creme,  escutar uma música).
    • Os doentes e idosos não se acanhem, pois, de exprimirem o que desejam. Porém, prestarão atenção para  não serem exigentes e procurarão evitar reclamações e “murmurações”.
    • No momento da enfermidade  há os que começam a refletir sobre sua vida passada e se enchem de escrúpulos e de arrependimentos por atos poucos nobres cometidos.  Os acompanhantes  (também o assistente religioso da Fraternidade) haverão de ajudar o irmão nesse transe. Que ele possa ter paz no coração e não fique remoendo o que passou. Pela confissão sacramental e pelo arrependimento do coração saberá o doente que foi perdoado.  Ninguém pode ficar se torturando com escrúpulos e arrependimentos doentios.
    • Doentes e idosos procurem simplificar as coisas. Na medida do possível esvaziem gavetas, distribuam os bens  quando existirem, procurem  desligar-se de todas as preocupações desnecessárias.  Joguem-se nas mãos do Senhor.
    • Se o idoso e enfermo tiver condições de fazer a contribuição financeira prevista pela Ordem Franciscana Secular haverá de realizá-lo com presteza.  Esse ponto faz parte da formação inicial e permanente.  Há muitos irmãos e irmãs acamados que  sempre lembram aos familiares e visitas que providenciem o pagamento de sua contribuição financeira.
    • Facilitem a vida dos irmãos da Fraternidade e de sua família  determinando a regularidade com que gostariam de receber os sacramentos  da eucaristia e da penitência.  Conveniente seria que o irmão, se dando conta do agravamento da doença, pedisse a visita do sacerdote para receber a unção dos enfermos.
    • À guisa de sugestão diria que o local onde está o enfermo   fosse “decorado”  com flores e que não se administrasse esse sacramento lugubremente, mas com plena participação do enfermo ou idoso e com tintas de alegria e de esperança no fundo do coração.  Diria mesmo que se cantasse algum hino franciscano.  Desta forma, isto é, com esperança alegre é que se prepara a chegada da Irmã Morte.
    • Os irmãos doentes e  idosos, aceitando os incômodos da idade as dores do corpo completam em si o que falta à paixão de Cristo.
    4. Vejamos agora alguns cuidados que precisam ter irmãos e irmãs encarregados  por esse carinhoso serviço fraterno. Antes de mais nada deve-se dizer que o cuidado e acompanhamento dos idosos é um verdadeiro serviço de amor pastoral.  Que belo quando irmãos acompanham os doentes e idosos  durante  a dor e a solidão  do sofrimento e estão presentes, como diletos irmãos e amigos na celebração da passagem. Esses aprenderam a chorar com o que choram e  a rir com os que riem.
    • A visita  deverá  se fazer com um certo ritmo. Não se pode exagerar na frequência, nem espacejá-las demais.  Tudo deverá ser combinado com a família. O irmão visitador precisa sentir o “tônus” da família.  Pode ser que alguns familiares nem sempre queiram visitas para que seus entes queridos não se exponham a situações constrangedoras (pessoas com incontinência etc.).  Pode acontecer que a visita precise ser abreviada.  Necessário  ter sensibilidade para tanto.
    • O doente e o idoso querem viver, querem sentir uma proximidade carinhosa com que os visita. Num momento em que as esperanças humanas vão desaparecendo, o enfermo quer uma pessoa realista e que, ao mesmo tempo,  lhe traga alegria. Sabemos que cada caso é um caso.  Nunca o doente deverá sentir que irmão faz uma visita formal ou simplesmente cumprindo a obrigação de lhe trazer  o Sacramento do Corpo do Senhor.
    • Na administração da Comunhão eucarística, ministro ou irmão da Fraternidade cuidarão de não se prolongar demais.  Bom que o rito fosse desenvolvido com calor na voz e expressão carinhosa nos gestos. Nada de frio formalismo.
    • O irmão que visita precisa, de alguma forma compreender aquilo que vive o irmão, em outras palavras, saber colocar-se em seu lugar. E, como já dissemos, cada caso é um caso. Há  os doentes  mais gravemente enfermos e terminais.  Há o sofrimento físico,  é claro, por vezes aliviado com analgésicos, há a vergonha de não poder controlar suas necessidades, o  mal-estar de perder o fio de um assunto e ficar num estado de perplexidade. Há doentes que passam facilmente de um estado de euforia a outro de depressão e de pranto. Não se deve ficar chocado quando um irmão se revolta contra a doença e a proximidade da morte  por meio de palavras e mesmo de vociferações.  Deitado em seu leito, o doente pode estar vivendo sentimentos de cólera, de depressão, de revolta com a chegada da morte, de dúvidas a respeito de sua salvação eterna, de remorsos cruéis e mesmo crises de desespero.  Por vezes pode mesmo acontecer que os doentes manifestem sua revolta contra Deus.  O visitador não fará discursos moralizantes, mas tentará ouvir e mais vale ficar quieto e perto do que fazer discursos para defender  o Senhor Deus. Que o irmão doente chore, reclame e encontre em nosso rosto a paz da compreensão.
    • O irmão responsável pelo serviço dos idosos e enfermos saberá  satisfazer seus desejos e suas necessidades espirituais.  O doente precisa sentir que continua dono de sua história. Não é pelo fato de estar numa cama ou impossibilitado de caminhar que pode delegar a outros os fios de sua história.  Sobretudo quando a doença é grave o doente sente um peso enorme sobre ele e precisa ser ajudado, discreta, mas realmente ajudado. Há muitas perguntas que ele se faz interiormente sem exprimi-las em palavras. O doente sente que o corpo  não responde mais e que a mente se esvai. Há também essa  questão de todos, também dos cristãos, também dos franciscanos  religiosos e seculares,  a respeito depois da morte. Cremos na vida que vem depois da morte, mas… Os que não tem fé esclarecida pesam: “O que me vai acontecer agora? Vou bater com a cabeça num  muro de pedra?   As CCGG da OFS lembram aos doentes:  “Estejam firmemente convencidos de que a comunidade dos crentes em Cristo e dos que se amam nele prosseguirá na vida eterna como comunhão dos santos.  Os franciscanos seculares se empenhem em criar em seu ambiente, sobretudo nas Fraternidades, uma clima de fé e de esperança, de modo que a “irmã morte”, seja vista  como passagem para o Pai e todos possam preparar-se para ela com serenidade” (art. 27,1-2).
    • Muitas Fraternidades costumam organizar encontros festivos e alegres, de modo especial  por ocasião das festas do Natal, da Páscoa e nas comemorações franciscanas para os quais são convidados os irmãos que ainda podem se locomover.  Essas reuniões feitas num espaço de beleza, de alegria, de fé são de grande proveito para os irmãos.  A experiência diz que,  mormente para aqueles que nunca podem sair de casa,  que a data de seu aniversário seja belamente lembrada e festejada  desde a manhã com mensagem, presentes, visita e bolo com velas.
    5. Procurem os irmãos que cuidam dos idosos e doentes se fazerem presentes no sepultamento e também junto da família  do falecido.  Sempre haverão de estar  com discrição,  mas sempre como irmãos verdadeiros sofrem com a partida do irmão.
     Apêndice  1
     (para ajudar os que visitam enfermos e idosos)
    Quando se envelhece…
    …luzes e sombras
    Quantas coisas atravessam a cabeça dos idosos e doentes:
    • Há a alegria do dever cumprido,  da missão realizada: um pai e uma mãe olham os filhos crescidos, adultos, já também pais e avós, um sacerdote faz desfilar em sua mente os anos de ministério, uma professora se recorda das turmas e dos alunos que foram objeto de seus cuidados.  Há essa alegria de experimentar o sabor dos frutos que foram lentamente amadurecendo.
    • Há essa sensação de que outros estão chegando e vão ocupando um espaço que era o nosso.  Há esse pressentimento de que se está sobrando.
    • Há essa experiência de anos e anos no campo profissional, nas atividades da paróquia,  na Fraternidade franciscana, no contato humano, na arte de negociar, no exercício da acolhida do diferente. Os idosos são peritos em humanidade.  São sábios que precisam fazer ouvir a voz de sua sabedoria.
    • Há essa sensação de cansaço das pernas e dos braços, o enfraquecimento da memória, a respiração meio ofegante, o sono diante do computador, da televisão e numa sala de espera de um consultório médico.
    • Há essa alegria de poder ir refazendo sua biografia  humana através do tempo que Deus permitiu que se fosse vivendo.
    • Na medida em que os anos chegam vem essa impressão que as cortinas estão para ser puxadas, que há pouco que fazer.  Os que ganham idade se dão conta de limitações irreversíveis. Será que ainda se pode fazer algum projeto?  Quais?
    • A velhice é tempo em que se aprende e se vive o despojamento. Nem sempre é pedido o parecer do idoso. Ou então nem é mesmo levado em consideração.   Os móveis e os hábitos são mudados de lugar sem o parecer do idoso ou do doente. Há uma sensação de inutilidade, de se ser um traste tolerado.
    • Quando se envelhece há mais tempo para ler, para ver as plantas crescendo, para ver se os passarinhos já nasceram no ninho feito na goiabeira, tempo de acolher com clama uma visita.  O idoso não é um apressado. Normalmente transmite paz e serenidade.
    • Há esses idosos e anciãos descuidados, sujos, lambuzados, vestindo roupa velha, rasgada.  Há esses velhos nos asilos, nos abrigos, nas marquises que são verdadeiros restos humanos.
    • Há esses idosos que evitam conversar  porque sua existência  não teve frutos saborosos e têm receio de se exporem à piedade alheia.
    • Há doentes e idosos que têm sempre um sorriso de paz, que ajudam a descascar maças para a torta da noite, ou aqueles que ainda fazem a contabilidade da capela do bairro. Enfeitam o mundo com sua história.  Há esses que oferecem para passar uma roupa, há os que falam de flores e aqueles que só dissertam sobre as dores.
    • Há os que sabem que, na hora do trespasse, os anjos chegarão  para lhes dar a mão. Outros têm medo de colocar os pés nessa terra desconhecida.  Há os que rezam com toda confiança: “Santa Maria, rogai por nós, agora e na hora de nossa morte…”
    • “Qualquer que seja a sua idade, guardem este pensamento:  o importante não é viver muito ou pouco, mas realizar na vida o plano para o qual Deus nos criou.  As rosas, a rigor, vivem um dia. Mas vivem plenamente porque realizam o destino de graça e de beleza que trazem à terra. Se vocês sentirem  que os anos passam e a mocidade se vai, peçam a Deus para si e para os que se tornam menos jovens  a graça de, envelhecendo, não azedar, não virar vinagre”  (Dom Helder Câmara).
     Apêndice  2
    Os desejos de São Francisco quando estava doente….
     Os que  são responsáveis pelo  Serviço dos Enfermos e Idosos  em nossas  Fraternidades  OFS saberão alegrar os irmãos enfraquecidos.  Procurarão satisfazer seus lícitos desejos:  procurar-lhes uma fruta que  apreciam, dar  um “giro” de carro  pela cidade,  fazer com que eles encontrem seu amigos.  Os biógrafos de  São Francisco  relatam alguns desejos, pelo menos curiosos, expressos pelo santo já bem perto da morte e quando já havia atingido altíssimo grau de santidade.  André Menard, frade menor francês,  escreve a respeito de três deles: música ao som da cítara, uma porção de aipo, uma torta de amêndoas que  Fra Jacoba sabia fazer (Les envies, les humeurs et les variations de François, in Évangile Aujourd’hui, n.147. agosto de 1990, p. 42-46).
    Um pequeno grupo de irmãos rodeia Francisco no final de sua vida. Permanecem bem perto do santo pai e demonstram atenção e solicitude.  O testemunho deles nos permite chegar até a mais profunda humanidade de Francisco.  Deixando de lado o “não fica bem” ou “o que os outros vão pensar”, Francisco dá livre curso à realização de seus justos desejos.
    Um pouco de música  -  Prostrado por muitas enfermidades, Francisco sentiu o desejo de ouvir um pouco de música que viesse a lhe devolver a alegria espiritual (cf. Legenda Maior de São Boaventura  5, 11).  Francisco sabia que esse expediente lhe faria bem. “Embora muito enfraquecido pela doença, o santo, para consolo de seu espírito e para não se deixar abater no meio de graves e numerosas enfermidades,  mandava cantar repetidas vezes durante o dia os Louvores de Deus que havia composto, tempos atrás, durante um período de doença. Pedia também que os cantassem durante a noite para edificação e para recreio daqueles que por sua causa estavam em vigília no palácio (do bispo em Assis) (Legenda Perusina,64).
    Seu desejo encontrava uma certa resistência  à sua volta. Um dos frades que havia sido conhecido como o  rei dos poetas não aceitava realizar o desejo de Francisco.
    “Disse Francisco a um de seus irmãos que no  século era tocador de cítara:  ‘Irmão… gostaria que fosses em segredo pedir a uma pessoa honesta uma cítara emprestada, na qual me tocasses uma bela música para acompanhar as orações e os Louvores do Senhor…’  O irmão  respondeu-lhe:  ‘Pai, tenho vergonha de ir à procura deste instrumento. Os habitantes desta cidade sabem que, no mundo, eu fui tocador de cítara; e tenho receio de os escandalizar, fazendo com que pensem que estou voltando ao meu ofício…’”  (Legenda Perusina, 24).
    Francisco bem podia ter previsto esta dificuldade. Ele mesmo, anteriormente, havia dito que os instrumentos de música que antigamente serviam aos santos  para o louvor de Deus, agora serviam à vaidade e ao pecado,  contrariamente à vontade de Deus”.
    Francisco respeita a delicadeza de consciência do irmão musico: “Está bem, irmão, não se fala mais nisso”.  O Senhor, no entanto, haveria de atender de outra maneira, o desejo de seu servo:  “Na noite seguinte… Francisco começou a ouvir perto de casa, a mais bela e mais suave melodia, que até então ouvira, nas cordas de uma cítara… e, de manhã, disse ao companheiro:  ‘Irmão, pedi-te e não me atendeste;  mas o Senhor, que consola os seus amigos em suas tribulações, dignou-se consolar-me esta noite’” (Legenda Perusina, 24).
    Encorajado por esta aprovação divina, Francisco  pôde encontrar resposta a dar a Frei Elias. Na verdade, o Ministro Geral  exprimiu assim sua própria perplexidade ao relatar as reações dos habitantes de Assis:  “Como se explica tanta alegria quando se aproxima a hora da morte?  Não seria melhor que pensasse na morte?”  Francisco não hesita em retrucar: “Deixa-me rejubilar no Senhor e cantar os seus louvores em meio às minhas enfermidades: pela graça do Espírito estou tão unido ao meu Senhor que,  por sua bondade, posso na verdade regozijar-me no Altíssimo” (Legenda Perusina  64).
    Através de sua liberdade de comportamento Francisco sugere que o caminho que ele seguiu ontem continua viável hoje.  Tudo é puro para os puros e tudo é santo para os santos. Os instrumentos de música, cítaras, saltérios e outros podem se prestar para o louvor de Deus e a consolação da alma. Trata-se do bom uso a se fazer da música.
     Um  pouco de aipo  -  Francisco jaz em seu leito, muito enfraquecido pela enfermidade. Procura algum reconforto. Teve desejo de comer aipo. Era noite e o tempo se apresentava inclemente.  Sabe ele muito bem que aquele não era o melhor momento de exprimir um tal desejo. E além disso o irmão da cozinha parece  não querer colaborar. Ele apresenta argumentos sólidos que tornavam inviável a satisfação desse desejo naquela hora. Francisco vai insistir para que o irmão se decida a acolher seu pedido, embora sem muita convicção. Como o irmão cozinheiro haveria de se  ver livre desse doente caprichoso, febril e teimoso?
    Os céus haveriam novamente de dar razão a Francisco. No meio de uma soca de ervas sem valor, lá se acha um pouquinho de aipo. Francisco provará um pouco e se sentirá reconfortado. Não poderá ele, no entanto, deixar de exprimir a leve decepção de alguém  que tem que insistir muito para ser ouvido. Desta forma nos é revelado que, mesmo sendo já objeto de veneração, Francisco faz a experiência da dependência que o coloca  à mercê dos outros. Ele o exprime sem azedume, até mesmo com doçura, como que desejando despertar a generosidade meio adormecida de seus companheiros:  “Irmãos, cumpri as ordens sempre  à primeira palavra, sem esperar que sejam repetidas”  (2Celano 51).
    Um pedaço de torta de amêndoas  –  Teria  Frei Elias razão em achar nosso moribundo meio “sem juízo”? Mas Francisco se encontra  com pleno uso de suas faculdades, mormente da inteligência e do coração. Disse Francisco a Elias:  “Creio que se informásseis a Senhora Jacoba de Settesoli a respeito de meu estado de saúde, haveríeis de lhe propiciar ocasião de uma gesto de delicadeza e de consolação”. Francisco está disposto de dar a Fra Jacoba o prazer de vê-lo,  saboreando pela última vez os doces que ela sabia tão bem fazer. “Que ela mande  também aquele doce que tantas vezes fez para mim quando eu estive em Roma”.
    Francisco tinha bom gosto. Queria um “mostacciulo”, uma torta feita com amêndoas, açúcar e outros ingredientes  (Legenda Perusina  101).
    Um vez  mais  Francisco vê seu desejo atendido. Fra Jacoba antecipa a realização de seu querer. Ela conhece os gostos de seu amigo e lhe traz a torta de amêndoas. A acolhida de Francisco é toda espontaneidade, verdadeira liberdade de amor:  “Bendito seja Deus que nos enviou nosso irmão, Senhora Jacoba! Abri as portas e fazei com que ela entre, pois o artigo que proíbe a entrada de mulheres não vale para  Fra Jacoba (3Celano 37).
    E Jacoba “tinha  preparado para o santo  Pai os doces que ele queria… Ele mal os provou porque as forças do corpo iam declinando…” (Legenda Perusina, 101). Francisco ainda se lembrou que Frei Bernardo também apreciava esse doce: “No dia em que a Senhora Jacoba fez aqueles doces para o bem-aventurado Francisco, lembrou-se ele de Frei Bernardo  dizendo: ‘Frei Bernardo é que deve gostar desse doce”. E mandou a um companheiro que o chamasse: ‘Vai, e dize a Frei Bernardo que venha cá’” (Legenda Perusina, 107).
    Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM
    Fonte - Site Franciscanos da Imaculada Conceição do Brasil